Tuesday, 16 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Ex-editora se arrepende por não ter publicado reportagem no ‘NYT’

A ex-editora executiva do New York Times, Jill Abramson, afirmou numa entrevista ao programa de TV 60 minutes, da rede CBS, que se arrepende de não ter pressionado o jornal a publicar uma matéria do repórter da área de segurança nacional James Risen sobre uma fracassada tentativa da CIA de sabotar o programa nuclear do Irã.

Risen acabou transformando a reportagem no livro State of War, que foi publicado em 2006, anos após o Times ter decidido não publicá-la. No livro, o jornalista detalha uma operação secreta da CIA para tentar oferecer ao Irã, através de um intermediário, falsas plantas nucleares numa tentativa de sabotar seu programa nuclear. Desde a publicação do livro, o governo americano tenta, na justiça, obrigar Risen a revelar suas fontes.

“Na época, me pareceu, levando em conta todas as grandes histórias com que estávamos lidando naquele momento, que não valia a pena [a publicação] e eu me arrependo dessa decisão agora. Eu me arrependo de não ter apoiado um grande repórter, Jim Risen, que na época trabalhava para mim e que eu sabia que era sólido como uma rocha”, afirmou Jill.

Os comentários da ex-editora-executiva podem ajudar os argumentos de Risen de que a informação contida em seu livro era de conteúdo noticioso. Desde a publicação da história, promotores americanos tentam, através de intimações judiciais, forçar que o repórter divulgue a identidade de sua fonte. Uma dos argumentos utilizados por eles é a recusa do New York Times em publicar a reportagem. O governo considera convocar Risen para depor, novamente, no julgamento de Jeffrey Sterling, oficial da CIA que é acusado de fornecer ao repórter informações confidenciais.

Condoleezza Rice pediu que a história não fosse publicada

Na entrevista ao 60 Minutes, Jill Abramson descreveu um encontro com a então conselheira de segurança nacional Condoleezza Rice, que pediu para que o jornal não publicasse a reportagem de Risen. Segundo Jill, Condoleezza argumentou que a matéria seria prejudicial para a segurança nacional.

A perseguição do governo ao jornalista, nos últimos anos, levantou diversas críticas. Recentemente, o procurador-geral dos EUA, Eric Holder, afirmou que não pretende prendê-lo por não revelar suas fontes. De acordo com o 60 minutes, no entanto, a possibilidade de prisão de Risen é real – como aconteceu em 2005 com a então repórter do New York Times Judith Miller, que passou quase três meses na cadeia por se recusar a informar à justiça a identidade de uma fonte que lhe revelou que a mulher de um ex-diplomata crítico do presidente George W. Bush era agente da CIA.