Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Ello quer ser alternativa ao Facebook

Na hora de fazer o cadastro no Ello, você se sente sozinho. O design é minimalista, e não é possível importar amigos do Facebook ou do Twitter: é preciso começar do zero. Mesmo assim, muitas pessoas estão entrando na rede social. Segundo o fundador da plataforma, Paul Budnitz, são milhares de cadastros por hora.

Mas se cadastrar não é algo tão simples. Assim como nos primórdios do finado Orkut, para entrar no Ello você precisa de uma indicação de um usuário já existente. De acordo com dados da própria plataforma, 30 mil são enviadas por hora. Convites estão até sendo vendidos no Ebay, e o preço pode chegar a 100 dólares.

Pode ser apenas curiosidade – ou insatisfação com as redes sociais existentes e a maneira como lidam com questões como a privacidade. O Ello se declarou uma zona livre de anúncios e que não vende dados de seus usuários para terceiros. A plataforma também promete que seus membros só precisam revelar o que realmente querem.

Isso pode soar atraente para as muitas pessoas que não querem aderir à política do nome real do Facebook. Uma regra que, recentemente, bloqueou a página de diversas drag queens que usavam codinomes artísticos no site. Muitos ativistas americanos do movimento LGBT ameaçaram deixar o Facebook.

O Ello entendeu rapidamente a mensagem e acolheu de bom grado a comunidade. “Estamos felizes com tantas pessoas mudando para nossa rede”, diz Budnitz. No entanto, o êxodo não abalou as estruturas do Facebook: a maioria das pessoas que aderiram à nova plataforma não abandonou a rede social de Mark Zuckerberg.

Menos recursos

Apesar da repercussão na mídia, que é em parte devido ao protesto da comunidade LGBT, o Ello tem pouco a oferecer quando se trata de recursos. Ele não é diferente de outros serviços de publicação de mensagens, que podem ser usados para compartilhar textos, fotos e links. Não é possível enviar mensagens privadas, visualizar links ou procurar por assuntos específicos. A plataforma também não está disponível como aplicativo.

As desvantagens, porém, aparecem em uma longa lista de recursos que ainda estão em desenvolvimento. “Nesse momento, a maior prioridade é a implantação de novos recursos”, diz a porta-voz do Ello Rachel Fukaya à DW. “Estamos ouvindo os usuários e realinhando as funções com base nos comentários.”

Ao mesmo tempo, Fukaya admite que o Ello ainda tem que melhorar em muitos aspectos como plataforma. “As coisas ainda estão em andamento. Há erros menores, mas é uma aventura empolgante para todos nós”.

Os criadores dizem que querem focar em construir uma comunidade próspera. Para isso, a rede buscou um caminho diferente das redes sociais mais populares. Por exemplo, seus fundadores têm investido em proteger a privacidade de seus membros. Assim, conteúdo bloqueado por outras redes sociais é permitido no Ello.

“Somos totalmente tolerantes com a nudez – contanto que não ofenda as pessoas, não incite a violência contra outros, não envolva menores, animais, etc. E contanto que você marque sua página como NSFW [impróprio para o trabalho]”, disse Budnitz ao site Cool Hunting.

Design e segurança

O minimalismo do layout diferencia a plataforma de outras redes sociais. Branco, cinza e preto são as cores dominantes. Existe uma grande quantidade de espaço vazio na tela. E os ícones são pequenos e despretensiosos. Alguns podem até achar o site elegante. Para outros, o design pode parecer pouco original.

Mas as críticas ao Ello vão além de suas funções. A firma de capital de risco Fresh Tracks investiu 435 mil dólares no site, de acordo com o ativista online Aral Balkan. Um sinal, segundo ele, de que o Ello planeja vender sua rede e os dados de seus usuários num longo prazo.

“Quando você pega capital de risco, a questão não é se você vai ou não vender seus usuários, você já o fez. Isso se chama plano de fuga”, explica o ativista em seu blog.

A porta-voz do Ello descreve de outra maneira o modelo de negócios da empresa. “As principais funções do Ello serão sempre gratuitas”, diz Fukaya. “Por uma pequena quantia, vamos vender funções especiais que alguns usuários podem querem acrescentar em sua conta. Milhares de pessoas estão escrevendo para solicitar essas funções, e eles estão dispostos a pagar. É uma maneira de apoiar uma rede sem anúncios”.

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Michael Münz, da Deutsche Welle