Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Roberto Carlos e Friboi, fim de caso

O ‘Rei’ Roberto Carlos não vende produto. Não a carne da Friboi, pelo menos. As pessoas disseram que ele não é confiável e não acreditaram no comercial em que ele come um suculento bife. Isso foi o que argumentou o JBS, a empresa dona da marca Friboi, na Justiça. Sim, na Justiça, porque o Rei estava dizendo para o juiz que o JBS é caloteiro. O calote é porque a empresa tinha rescindido o contrato de uma hora para outra, sem pagar a multa prevista. Sim, o contrato acabou. Aliás, eram dois contratos. Um de R$ 22,5 milhões que seriam pagos no Brasil, e outro de US$ 9,3 milhões, ou cerca de R$ 20 milhões ao dólar da época, a serem pagos no exterior.

No jornalismo, o primeiro parágrafo de uma matéria é destinado a dizer qual é a notícia principal. Qual é a grande novidade. Talvez fosse o caso de ter escrito logo no início desta reportagem que o rei e o JBS chegaram a um acordo nesta semana e não estão mais brigando. Mas ninguém sequer sabia que eles estavam trocando algumas farpas na Justiça. Então, ficou difícil escolher o que era a informação mais nova desta briga que deve marcar a história da propaganda brasileira.

Há aqueles que teriam dado destaque para o valor do contrato. Afinal, muito tinha se especulado sobre quanto o JBS teria acertado com o Rei, no início deste ano, quando estreou o comercial com a música O Portão e ficou-se sabendo em rede nacional que depois de 40 anos o Rei não era mais vegetariano. Mesmo aqueles que arriscaram dizer valores altos não chegaram nem perto dos cerca de R$ 45 milhões acertados, e que estão listados nos documentos anexados ao processo judicial movido pelas empresas ligadas a Roberto Carlos.

Tampouco se sabia que o Rei usava uma empresa no exterior para receber parte do dinheiro. Na parte brasileira, o contrato era firmado com a JBS S. A. e as empresas ligadas a Roberto. No exterior, foi usada a JBS USA Holding e a empresa de nome Chaterella Investors Limited, que é a mesma que era usada pela Federação Portuguesa de Futebol para pagar o técnico Luiz Felipe Scolari (leia abaixo).

Outros teriam escolhido destacar o fato de o Rei, recordista absoluto de venda de discos, não ser um bom garoto-propaganda. O JBS diz que encomendou uma pesquisa com uma renomada empresa de avaliação e mensuração de retorno de investimentos em comunicação, sem citar o nome de tal empresa, para medir a percepção do público sobre a imagem de Roberto Carlos. Teria ficado surpresa ao ver o resultado: as pessoas disseram não confiar no Rei. Por isso, o JBS diz que decidiu cancelar o contrato, que deveria durar até o fim de 2015, já em julho deste ano.

Pelos relatos dos documentos que estão nos processos que correm na Justiça paulista, as partes pareciam estar chegando a um acordo sobre o distrato antes mesmo de partirem para a briga. Mas uma notícia publicada por O Globo de que o contrato estaria sob ameaça, quando as partes concordaram em manter o sigilo da rescisão, e uma foto publicada no Instagram em agosto pelo Rei comendo carne em uma churrascaria, que segundo o JBS não serve a marca Friboi, azedaram as relações. Foi quando o caso foi parar na Justiça com a acusação de calote, que aliás teria sido a escolha de muitos para o início deste texto.

Pelos contratos, os pagamentos seriam feitos de forma parcelada, em cinco vezes. Mas apenas a primeira das parcelas foi paga e então o JBS rescindiu o contrato. Na Justiça, os advogados das empresas Natureza, Amigo Produções, Atlântico Promoções, RDC Eventos e DC Set Shows, todas ligadas a Roberto Carlos, escolheram cobrar apenas pelo contrato que seria pago diretamente no Brasil. E por esse contrato a rescisão unilateral implicaria uma multa de R$ 7,2 milhões.

O JBS alegava que não devia esse valor e aceitava pagar R$ 3,1 milhões. Mas isso parece agora pouco importar porque os advogados das empresas de Roberto Carlos, do escritório Trigueiro Fontes, informaram que se chegou a um acordo. O JBS informou que não vai se manifestar.

Processo envolve empresa alvo de investigação

Uma empresa registrada no Reino Unido, investigada em Portugal por questões de sonegação fiscal que envolveram o nome do ex-técnico da seleção brasileira, Luiz Felipe Scolari, e que, segundo reportagem da Folha de S. Paulo publicada em maio deste ano, existe apenas no papel, reaparece agora em um processo judicial movido por empresas ligadas ao Rei Roberto Carlos contra o frigorífico JBS.

Segundo informações que constam no processo, a Chaterella Investors Limited tem um contrato com a JBS USA Holdings nos mesmos moldes do contrato de patrocínio firmado com o JBS S.A. pelas empresas Natureza, Amigo, entre outras, todas ligadas ao cantor.

A empresa teria a receber US$ 9,3 milhões pelo contrato que previa a participação do Rei em eventos do JBS, propagandas comerciais e 80 shows pelo País até 2015.

O advogado Fábio Egashira informou que o contrato com a Chaterella não era da alçada do escritório Trigueiro Fontes, que promove o processo. A assessoria de Roberto Carlos informou que não se manifestaria sobre o assunto. O grupo JBS também não quis comentar.

Antes da Copa do Mundo, um jornal holandês noticiou que o técnico Felipão estava sendo investigado por supostamente não ter declarado ao Fisco português o recebimento de cerca de A 7 milhões da seleção de Portugal por meio da Chaterella.

A assessoria de Felipão informou que a empresa era usada pela Federação Portuguesa para fazer os pagamentos e que o técnico teria declarado tudo o que recebeu.

< ****** Josette Goulart, do Estado de S.Paulo