Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Ideia simples rendeu o Prêmio Esso ao popular ‘Meia Hora’

Basta uma breve busca no Google para se deparar com dezenas de sites listando as mais engraçadas e espirituosas capas do tabloide popular carioca Meia Hora [ver aqui, aqui e aqui]. Publicado atualmente pelo grupo Ejesa (dono também do jornal O Dia), o Meia Hora foi lançado em 2004 como rival do Extra. Mas a criatividade e a ousadia de sua equipe acabaram permitindo que encontrasse um novo nicho.

A capa é a grande estrela do jornal, e foi justamente ela que rendeu ao Meia Hora um Prêmio Esso este ano, na categoria Primeira Página. “Nesses nove anos de existência do jornal, ouvimos algumas vezes que jornal superpopular não ganha prêmio. Mas nunca acreditamos nisso, e a prova está aí”, afirmou o editor-chefe Humberto Tziolas em entrevista ao Dia.

Vexame no futebol, sucesso na capa 

Ironicamente para um jornal que abusa da ironia, a premiação foi concedida a um trabalho “discreto”. Frases cheias de trocadilhos e flertando com o mau gosto são rotineiras nas chamadas do tabloide. Não há tema que pareça proibido. Mas a derrota da Seleção Brasileira para a Alemanha, pelo inacreditável placar de 7 a 1 e, para piorar a situação, em uma Copa do Mundo sediada no Brasil, foi demais. Em vez do habitual excesso de fotos coloridas e letras garrafais, a capa do Meia Hora no dia seguinte à derrota histórica tinha fundo preto.

Na ocasião, outros jornais também apostaram no luto, com páginas pretas e palavras como “vergonha” e “vexame”. O esportivo Lance! apresentou uma ideia parecida, com um fundo branco convidando os leitores a dizer o que estavam sentindo – se revolta, dor ou indignação.

A genialidade da capa do Meia Hora, no entanto, estava em sua simplicidade. O tabloide deu novo sentido à frase de protesto “Não vai ter Copa”, disseminada antes do Mundial para criticar a falta de preparo do país em sediá-lo. “Não vai ter Copa” virou “Não vai ter Capa”, em letras brancas. Logo abaixo, a explicação: “Hoje não dá para fazer graça, a gente ficou com vergonha. Amanhã nós voltamos”.

OK, teve trocadilho. Teve um pouquinho de piada também, no fim da página: “Enquanto você lia isso… mais um gol da Alemanha”, diziam as letras menores. Mas, no geral, e em comparação ao trabalho diário do Meia Hora, a capa era bastante sóbria.

Do escracho à sensibilidade

Esta não foi a primeira vez que o Meia Hora mostrou que consegue deixar o escracho de lado.  No dia seguinte ao ataque a uma escola de Realengo que deixou 12 adolescentes mortos, em abril de 2011, o jornal fez em sua primeira página uma delicada homenagem às vítimas. Lá estavam, em fundo preto e cercados por duas asas brancas, apenas os nomes dos jovens e a data do massacre. Na ocasião, o jornalista Xico Sá classificou a capa de “histórica”. “É a mais sensível primeira página sobre a tragédia carioca”, definiu.