Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Diga não à discriminação na internet

Será que a tecnologia está ajudando a nos tornar mais tolerantes ou é o contrário? Nos últimos anos, tem crescido a quantidade de casos envolvendo práticas racistas e discriminatórias na internet. Por que será que isso está ocorrendo?

Primeiramente, devemos considerar que o avanço das ferramentas de comunicação a distância permitiu não apenas uma maior conexão de todos, como também gerou um efeito paradoxal de aproximar quem está distante e afastar quem está perto.

Curiosamente, a interface gráfica tem o poder de nos tornar mais indiferente ao que está ocorrendo ao nosso redor, assim como também dá mais coragem para que hajam manifestações de opinião e pensamento que não ocorreriam cara a cara. Será que isso quer dizer que o mundo digital, com sua promessa de “pseudo-anonimato”, está nos tornando mais cruéis?

Do ponto de vista jurídico, as palavras escritas têm um efeito muito mais devastador do que o que é verbalizado. Quando nos relacionamos, o contexto, as expressões faciais, a voz, tudo faz parte do ato de se comunicar e integra a linguagem.

No entanto, através da internet, com seus espaços de pensamentos instantâneos e por impulso, simplificou demais a comunicação ao ponto de provocar mais ruído.

Ler com atenção

Somado ao espírito mais brincalhão e jocoso do brasileiro temos todos os ingredientes para alavancar o crescimento da discriminação na internet. Acabamos sendo muito mais críticos dos conteúdos alheios quando estamos protegidos por detrás de nossas telas, seja do celular, do tablet, do computador.

E o pior de tudo isso é que não há arrependimento digital. Depois que compartilhou algo que possa ser interpretado como racista ou discriminatório não tem volta. E hoje, corre-se o risco de tudo ser entendido desse modo, será que estamos também muito mais sensíveis a opiniões?

Em nossas redomas digitais por certo uma das coisas que a internet não nos trouxe foi mais tolerância. Aceitar mais como é cada um. Deixar cada um na sua. Interagir virou desculpa para se intrometer na vida do próximo.

Bem, as testemunhas máquinas poderão um dia relatar se através dela nos tornamos melhores ou piores. Até lá, a melhor dica é ler duas vezes antes de publicar. Como diz o Twitter: “Pense e publique.” Pois tudo tem consequências. Que diga a torcedora do Grêmio.

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Patricia Peck Pinheiro é advogada especialista em cultura digital e inovação, autora de 14 livros sobre Direito Digital