Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Jornalistas britânicos processam Scotland Yard

Um grupo de jornalistas entrou com uma ação judicial contra a Polícia Metropolitana de Londres, após a revelação de que informações sobre suas atividades profissionais teriam sido armazenadas em um banco de dados designado a monitorar extremistas domésticos.

A ação tem o apoio do sindicato União Nacional dos Jornalistas (NUJ). A relação entre a imprensa e a polícia britânicas tem se deteriorado nos últimos meses diante da controversa Lei de Regulação dos Poderes de Investigação, conhecida pela sigla Ripa, usada por policiais, em alguns casos, para acessar registros telefônicos de jornalistas [ver aqui e aqui]. Os jornalistas querem que a Polícia Metropolitana destrua os arquivos com os dados armazenados sobre eles. De acordo com o grupo, este tipo de vigilância viola a liberdade de imprensa e o direito à privacidade.

Os seis jornalistas do grupo utilizaram o ato de proteção de dados para obter cópias de arquivos que revelam como a polícia registrou os detalhes de seu trabalho. Eles abriram a ação para expor o que consideram ser um padrão persistente de monitoração de profissionais da imprensa. Cinco dos seis profissionais já haviam processado a polícia no passado por outras infrações.

Nos arquivos policiais

Nos arquivos, a polícia observa que Jules Mattsson, jornalista do Times, “está sempre procurando por uma história”. Já o fotógrafo Adrian Arbib foi filmado pela polícia quando tirava fotos no aeroporto de Heathrow para uma pauta do jornal The Guardian. A fotógrafa freelancer Jess Hurd descobriu que seu arquivo vem sendo montado desde 2000. O também fotógrafo freelancer David Hoffman, que cobre manifestações para a imprensa britânica desde a década de 70, aparece nos arquivos como “fotógrafo da Liga Anti-Nazi”, organização da qual ele nunca fez parte. Hoffman diz não entender por que está no banco de dados compilado pela unidade de extremismo doméstico da polícia. “Eu nunca tive parte em qualquer tipo de ação extremista de natureza política ou criminal”.

Segundo o videojornalista Jason Parkinson, que atua como freelancer, os arquivos demonstram que a polícia vem monitorando suas ações na última década. “Os arquivos deixam bem claro que eles têm monitorado as minhas ações, com quem eu tenho me relacionado e até mesmo quais roupas eu uso, para que a inteligência da polícia possa construir um perfil meu e da minha rede de contatos”, afirmou.

A União Nacional dos Jornalistas afirmou que a ação é apenas o passo mais recente de anos de luta contra as atitudes do governo para suprimir a liberdade de expressão. De acordo com o sindicato, a ação da polícia ameaça a liberdade de imprensa no país. “Não existe justificativa para tratar jornalistas como criminosos ou inimigos do Estado”, declarou Michelle Stanistreet, secretária-geral da NUJ.

Um pedido realizado através do ato de liberdade de informação em outubro revelou que a Scotland Yard, como é conhecida a sede da Polícia Metropolitana, tem mais de duas mil referências de jornalistas e fotógrafos em seu banco de dados. Bernard Hogan-Howe, comissário da Polícia Metropolitana, alegou que a polícia não coleta rotineiramente informações sobre jornalistas e suas fontes, e que apenas se interessa pela pessoa se ela for vítima ou considerada suspeita de algo.