Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Direitos humanos em pauta

Na semana passada, dois fatos relacionados à questão dos direitos humanos tomaram conta do noticiário e também das discussões em sites de redes sociais. Um foi a ofensa direcionada pelo deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) à deputada federal Maria do Rosário (PT-RS). Bolsonaro disse, em um pronunciamento na Câmara, no último dia 9 de dezembro, que não estupraria Rosário por que ela não merecia.

O outro fato foi a divulgação, no dia 10 de dezembro, do relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV), que examinou e esclareceu violações de direitos humanos cometidas entre 1946 e 1988, principalmente no período da ditadura militar (1964-1985).

Esses dois acontecimentos e a repercussão deles mostram duas faces de um Brasil que por um lado avança na defesa dos direitos humanos, mas por outro ainda tem em grande parte da população um apoio muito forte à propagação de ações que caminhem na direção oposta a esses direitos.

Bolsonaro, militar da reserva, foi o deputado federal mais votado no Rio de Janeiro, nas últimas eleições. Ou seja, muita gente quer que ele continue defendendo políticas de extrema-direita que façam da condição humana um aspecto secundário. Além disso, uma enorme parcela da população, a exemplo de Bolsonaro, ainda desconsidera os direitos das mulheres, que foram conquistados ao longo de milênios a muito custo.

Educação e segurança

Nesse contexto, vemos que a divulgação do relatório da CNV é importante também para que percebamos e abramos os olhos para as sequelas que ficaram da ditadura, quando a tortura, o sequestro e o assassinato eram políticas de Estado para combater quem, segundo a visão dos detentores do poder, ameaçasse o sistema, sendo considerado assim subversivo.

O embate que se deu nas redes sociais no que diz respeito ao caso Bolsonaro/Rosário e ao relatório da CNV mostra que é preciso muita educação, muita aula de história e um trabalho articulado pelo Estado, ONGs, meios de comunicação etc. para que as pessoas entendam as consequências de institucionalizar ações desumanas. Por outro lado, o movimento a favor dos direitos humanos também é forte. Tem-se evoluído com as políticas instituídas e até mesmo na conscientização do povo. Porém, ainda é insuficiente.

Atualmente, com as inúmeras possibilidades de compartilhamento de informação e opinião, boa parte das pessoas publica o que quer através das ferramentas interacionais. A crescente onda de crimes faz com que os cidadãos queiram atitudes efetivas do Estado e, nesta lacuna, homens como Bolsonaro ganham terreno pregando que a violência é essencial para combater a violência. É aí que mora o perigo, já que muita gente se deixa influenciar e começa a pensar que dá para fazer justiça com as próprias mãos.

Um trabalho que comece desde os primeiros anos de escola e ações que realmente deem resultado nas áreas social e de segurança teriam um poder eficaz em fazer com que mais pessoas entendam que os diretos humanos devem ser defendidos e que não precisamos do “olho por olho, dente por dente” para fazer prevalecer a paz social.

******

Raul Ramalho é jornalista