Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Para superar a síndrome do vira-lata

Se for válido um consenso não oficial, isto é, algo não legitimado, mas que resta incrustado na intuição da sociedade, as únicas profissões que gerariam riqueza – dentro de um rol exemplificativo – seriam a medicina, o direito e a engenharia. O fato de uma pessoa se apresentar em uma dessas atividades já a coloca, pelo menos aparentemente, em uma condição acima dos reles mortais que compõem o resto da população. Entretanto, há muitos trabalhadores de sucesso em áreas distintas. No jornalismo, não é diferente.

Muitos repórteres de veículos de massa, bem como inúmeros assessores de grandes empresas, se locupletam de considerável retribuição pecuniária. Trata-se de um trabalho especializado, técnico, que mexe com algo imprevisível chamado opinião pública. Os grandes cargos estão reservados para os mais competentes profissionais; aqueles que não param no tempo. Olham para o futuro com o foco no presente, se qualificando e aprendendo. Afinal, conhecimento nunca é demais.

Para se chegar ao topo, o caminho é pantanoso, isso quando o derrotismo não contamina o indivíduo no meio da viagem. Hoje em dia, muitos “focas” já partem do pressuposto que o jornalismo não lhes dará o dinheiro necessário para o sustento. Cresce cada vez mais nas universidades uma síndrome de vira-lata em que estudantes vaticinam um futuro ruim para si. Alimentam pensamentos nefastos, pessimistas sobre a profissão que escolheram. Entre outras coisas, concebem o horizonte num vislumbre negativo: parcas remunerações, excesso de trabalho e pouco reconhecimento.

Os noviços começam com o piso salarial. De fato, ele é baixo demais para enfrentar um país que passa por recessão econômica. Mas o valor não fica estagnado. Grandes empresas criam planos de carreira, reajustam benefícios e aumentam os vencimentos por tempo de casa e meritocracia. Os bons prosperam, crescem na organização, assumem novas funções. O salário de William Bonner, inequivocamente, animaria o homem mais derrotista do mundo.

Empreender é o canal

O jornalismo de massa não é, definitivamente, a área que detém as melhores remunerações. Mas é possível inovar – se não para conquistar riqueza, para levar uma vida confortável. Os veículos de imprensa passam por uma reformulação do seu modelo de negócios. As equipes de redação estão cada vez mais acanhadas pelo corte de despesas. Em contrapartida, a grande mídia não constitui a única possibilidade de trabalho. Se o mercado não abarca mais todos os “focas” deste país, a solução é ser chefe de si mesmo. Empreender configura antídoto a quem deseja ganhar mais do que ganharia como empregado.

Os microempresários são o orgulho da nação em tempos de crise. Eles fazem girar a economia e tomam as rédeas de uma tendência. Produtos de comunicação também entram nessa equação. Atualmente, há espaço para propostas em conteúdo digital, assessoria de imprensa, portais verticais etc. O céu é o limite. Basta um pouquinho de curiosidade e coragem para enfrentar as dificuldades, algo que está faltando aos alunos de comunicação da pós-modernidade. Se o objetivo do indivíduo é alcançar a riqueza, o jornalismo pode, sim, concedê-la, contanto que haja criatividade e empenho. Elementar.

Os “focas” de hoje são a esperança de que o jornalismo prevaleça amanhã. Contudo, o pessimismo estanca suas respectivas evoluções na carreira. Mesmo que a atividade não trouxesse o mínimo para uma vida digna – o que não acontece com profissionais esmerados –, traria benefícios de espírito. O jornalista é um privilegiado sem igual, cujo arcabouço está na pluralidades de temas, na variedade de fontes.

Caro “foca”, você quer ganhar bem, quer reconhecimento? Então abandone a síndrome do vira-lata e busque descobrir o mundo; ele tem muito a oferecer. Seu sucesso depende exclusivamente de quanto você está disposto a se sacrificar por ele, de quantas vezes você tropeça e se dispõe a levantar. É assim que a vitória acontece.

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Gabriel Bocorny Guidotti é bacharel em Direito e estudante de Jornalismo