Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Tânia Alves

Leitor telefonou à ouvidoria do O POVO, na quarta-feira passada, 11, para se queixar do título da matéria publicada no dia 6 passado, na página 15, da editoria de Política, que dizia: “Direitos Humanos. Deputada contra casamento gay presidirá Comissão”. Ele classificou de preconceituosa a forma como o assunto foi abordado. “É uma manchete tendenciosa, jogou todos contra ela (deputada)”. A matéria foi a primeira a ser divulgada sobre a indicação da deputada estadual Dra. Silvana (PMDB) para presidir a Comissão de Direitos Humanos e Cidadania (CDHC) da Assembleia Legislativa do Ceará.

A Editoria de Política cobriu o assunto durante toda a semana, porém faltou equilíbrio de fontes no sentido de fortalecer o debate. A partir da publicação da primeira matéria, alertei, no comentário interno enviado à Redação, sobre a falta de equidade. Foram ouvidas três opiniões criticando a indicação de Dra. Silvana e apenas a própria deputada destacando a escolha. Ao lado, ainda havia um quadro com frases polêmicas da parlamentar. Entre elas a que dizia ser contra o casamento gay.

No sábado, dia 7, o jornal publicou na manchete: “Ivo Gomes chama Dra. Silvana de “homofóbica”. Mais uma vez, a editoria levava para o título a reação negativa ao nome da deputada, reproduzindo trecho de publicação do secretário estadual das Cidades nas redes sociais. O jornal disse ainda que 40 entidades repudiavam a indicação. Nenhuma fonte do partido da deputada, o PMDB, favorável a indicação foi ouvida. Mais uma vez, alertei sobre o procedimento errado.

A cobertura só foi ficar equilibrada na terça-feira, 10, quando a parlamentar já havia sido transferida para presidir outra comissão e a editoria voltou ao assunto, “Mesa retira a indicação de Dra. Silvana à CDHC”. Nessa data, o editor-executivo do Núcleo Conjuntura, Guálter George, escreveu um ponto de vista em que defendeu a deputada da acusação de homofóbica, mas destacando a falta de articulação política dela. No dia seguinte, 11, vários parlamentares saíram em defesa da colega na Assembleia.

Provocado a comentar a questão, o editor-executivo do Núcleo Conjuntura, Guálter George, enviou a seguinte resposta: “Consideramos que o material publicado, em toda a série, contempla o equilíbrio ao qual você faz referência. Claro que há uma maior presença do tom de crítica à indicação inicial da deputada Dra. Silvana como reflexo de uma reação negativa que aconteceu, de fato. Na apuração, asseguro-lhe, o tempo todo nos preocupamos em tentar identificar se havia movimentos de apoio à parlamentar para lhes garantir espaço na discussão. O que acontece é que o debate expôs um quadro de isolamento político ao qual ela foi submetida, situação, inclusive, objeto de análise em ponto de vista do editor e que acabou sendo determinante para sua substituição no comando da Comissão”.

FALTOU DEBATE O assunto da indicação da deputada Dra. Silvana, realmente, é polêmico. Prova disso é que a cobertura passou a semana entre as mais lidas do portal O POVO Online. A editoria teve agilidade de entender a necessidade de pautar e sustentar o tema. Mas pecou em um dos princípios jornalísticos que é fortalecer as manifestações divergentes para o livre debate, pautado na polifonia. A equipe pode ter procurado o contraponto, mas só conseguiu quando a parlamentar já tinha sido substituída.

Desafio no rádio

Ouvi, na última quinta-feira, no programa “Debates do Povo” da rádio O POVO/CBN, a entrevista com o secretário da Educação do Estado, Maurício Holanda, e o coordenador de Ensino Fundamental do Município de Fortaleza, Carlos Eduardo Araújo. O tema eram os dados divulgados pelo movimento Todos pela Educação e que resultou na manchete do O POVO no mesmo dia: “A conta na educação do Ceará”. Maurício Holanda criticou a forma como a imprensa publica as notícias de educação. “Os meios de comunicação estão muitos viciados em notícias ruins”, disse, acrescentando que ninguém se atentou, por exemplo, para um fato: muitos municípios do Ceará, um estado pobre, têm melhores indicadores do que muitos outros do Brasil. O secretário reiterou que não falava especificamente da matéria publicada naquele dia, chegou inclusive a fazer um comentário sobre a forma correta como o jornal explorou o assunto. Mas lançou um desafio: “Vou pedir aos meios de comunicação, inclusive ao O POVO, que venham conversar comigo sobre isto” (dados da pesquisa).

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Tânia Alves é ombudsman do jornalO Povo