Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A proteção de jornalistas em um mundo cada vez mais hostil

O número de jornalistas presos em todo o mundo subiu de 80, em 2000, para 221, em 2014, segundo dados do Comitê para a Proteção dos Jornalistas. A organização contabilizou 69 jornalistas profissionais, 11 assessores de mídia e 19 ativistas e jornalistas-cidadãos assassinados no ano passado.

“Há repórteres apodrecendo na cadeia no Egito, cartunistas fuzilados na França, blogueiros da Arábia Saudita presos por terem filmado decapitações”, lista a jornalista Emily Bell, diretora do Tow Center for Digital Journalism da Universidade Colúmbia, em artigo no jornal britânico The Guardian.

Os números podem parecer relativamente pequenos quando tomados no contexto dos conflitos globais. “Mas quando pensamos que há 30 anos, ao se identificar como imprensa, um cidadão garantia maior segurança, então é compreensível que, enquanto profissão, estejamos escandalizados e despreparados para nossa própria vulnerabilidade”, escreve Emily.

A internet e as redes sociais ampliaram o poder da informação e dificultaram a censura a veículos. A atenção maior a conteúdo e profissionais específicos na web aumentou também a intimidação e os casos de violência contra jornalistas.

Não existem mecanismos de reação

Durante um evento no Fórum Econômico Mundial de Davos, no início do ano, discutiu-se qual deve ser o comportamento das organizações de mídia num mundo global e hostil aos repórteres. “Nunca pensei que chegasse a este ponto, e simplesmente não temos as instituições apropriadas para enfrentar a situação”, reconhece Marty Baron, editor-executivo do Washington Post, sobre as ameaças sofridas por jornalistas.

Segundo Joel Simon, diretor-presidente do CPJ, a tecnologia é um dos motivo pelos quais os profissionais de imprensa se tornaram alvos, principalmente para o Estado Islâmico e os cartéis de drogas do México, que usam as redes sociais para recrutar militantes e se vangloriar de sua obscena violência. Em artigo sobre os assassinatos no Charlie Hebdo, em Paris, Simon descreve como a tecnologia das comunicações está literalmente matando a profissão, com padrões de liberdade de expressão definidos por plataformas de tecnologia norte-americana e os veículos de mídia cada vez mais globalizados. “Devemos enfrentar uma batalha pela liberdade de expressão e as perdas são cada vez maiores”, afirma.

O problema reconhecido pelos participantes do debate em Davos, no entanto, é que, com exceção de poucas organizações de referência, como o CPJ, não existem mecanismos adequados de reação para por um basta ou deter a maré de intimidação e violência.

“Nós sempre associamos a saúde do jornalismo à saúde das publicações. O dinheiro destas últimas irá pagar o primeiro. Entretanto, atualmente é perceptível que isso é coisa do passado e que o apoio às publicações poderia ajudar, mas já não garante a saúde de reportagens ou do jornalismo independente”, alerta Emily.