Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Jornalistas do ‘Sun’ absolvidos de acusação de suborno

Quatro jornalistas do tabloide britânico The Sun foram absolvidos da acusação de corrupção de agentes públicos em troca de furos jornalísticos. O ex-chefe de reportagem John Kay e o ex-editor Duncan Larcombe eram acusados de cometer suborno, e os ex-subeditores Fergus Shanahan e Geoff Webster, de autorizar os pagamentos.

O Tribunal Central Criminal da Inglaterra ouviu em audiência que os jornalistas pagaram mais de 100 mil libras a uma funcionária do Ministério da Defesa, Bettina Jordan-Barber, entre 2004 e 2012, a fim de conseguir informações para suas reportagens. Bettina declarou-se culpada por má conduta durante exercício de cargo público e foi sentenciada a um ano de prisão.

Um quinto réu, o ex-sargento John Hardy, foi inocentado de seu envolvimento com o caso. Hardy teria recebido mais de 20 mil libras para prover Larcombe com informações, as quais incluíam histórias sobre os príncipes William e Harry.

Apenas cumprindo o dever jornalístico

John Kay e Duncan Larcombe alegaram que seu contato com as duas fontes militares era de interesse público. Larcombe chegou a dizer ao júri que não sentia ter feito nada de errado e que precisava “ser convencido” dos motivos que o haviam colocado no banco dos réus.

Em declarações posteriores ao julgamento, Larcombe classificou o episódio como uma “caça às bruxas” contra os jornalistas e disse esperar acordar logo do “pesadelo” que vinha vivendo. Kay disse ter sido um “grande alívio” ver que tudo havia terminado e declarou ter esperanças de que o resultado de sua sentença rendesse frutos para outros colegas em situação semelhante.

As acusações foram formalizadas em 2012 e desde então os jornalistas envolvidos permaneceram suspensos de seus respectivos cargos. O julgamento durou dois meses.

Prática aceitável

“Embora não tenhamos como saber ao certo por que o júri não os considerou culpados, é razoável presumir que eles aceitaram a argumentação de que o pagamento de grandes somas de dinheiro a funcionários públicos para obter reportagens, numa proporção que não poderia ser estritamente classificada como de interesse público, não é crime”, escreveu o professor de jornalismo Roy Greenslade em sua coluna para o The Guardian.

Greenslade reconhece a necessidade do cultivo de fontes e admite que, não fosse por elas, jornalistas não seriam capazes de conhecer o funcionamento de instituições governamentais e estatais. Ele diz também que, num mundo perfeito, as fontes vazariam suas histórias de graça, agindo de forma desinteressada em prol do benefício público, mas sabe que a realidade é bem diferente. O professor afirma ainda que as fontes são perfeitamente cientes de que a maioria dos jornais, o The Sun incluído, são um exemplo óbvio de operações comerciais, já que o objetivo é sempre alavancar a venda de exemplares e maximizar lucros. “Dentro deste contexto, o Sun tem sido extremamente transparente”, comentou. “Editores só autorizam os jornalistas a pagarem por informações quando não tem outro jeito”.

Greenslade explica também que os valores negociados são sempre altos porque jornalistas têm ciência de que uma fonte que vaza informações por dinheiro sempre pode fazê-lo para qualquer outro veículo.

Investigação milionária

A absolvição dos jornalistas levou a questionamentos sobre os altos custos da Operação Elveden – como foi batizado o inquérito da Polícia Metropolitana para investigar subornos e invasões telefônicas realizados por jornalistas. Dentre os 24 profissionais da imprensa levados a julgamento sob as investigações da Elveden, apenas dois foram condenados até o momento.

Segundo o jornal The Telegraph, o inquérito que teve início com os grampos do finado tabloide News of the World é o mais caro na história criminal britânica. Diz-se que, até o momento, já custou mais de 36 milhões de libras no total e chegou a envolver quase 200 funcionários da lei. A operação Elveden sozinha custou cerca de 12 milhões de libras.

Gavin Millar, um dos advogados mais proeminentes do Reino Unido, sugeriu que era hora de a promotoria admitir que se equivocou em relação aos inquéritos da Elveden. “São jornalistas fazendo o trabalho deles e sendo processados por cumprir sua função em circunstâncias nas quais não há nenhum ganho pessoal”, criticou. Millar diz que a decisão do júri de absolver os jornalistas apenas reflete o interesse público. Ele descreveu algumas das acusações como “fracas” e disse estar sendo cada vez mais procurado por jornalistas que desejam conselhos sobre os direitos da polícia e o trabalho deles. “Há um sentimento de vulnerabilidade entre os jornalistas e isto é muito preocupante em uma democracia”, concluiu Millar.