Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

‘Os jornais não podem ficar parados’

Os jornais regionais têm uma força que às vezes nem eles mesmos sabem. A possibilidade de estabelecer nas mídias digitais a mesma força conquistada no veículo impresso é muito grande. Mas os jornais não podem ficar parados. Precisam entender que tudo está em movimento”. É o que afirma o jornalista, professor, doutor em Ciências da Comunicação e consultor de novas mídias Caio Túlio Costa, que esteve recentemente em Santos para um bate-papo em A Tribuna, conversando com jornalistas, publicitários e diretores do jornal. Acompanhe a entrevista que concedeu após a conversa.

A Tribunareuniu os funcionários para debater o futuro do jornalismo. O sr. sente que estão todos em busca de respostas sobre o futuro da comunicação?

Caio Túlio Costa – Veja, está todo mundo preocupado porque a água chegou no nariz. As empresas estão perdendo receita tanto de circulação quanto de publicidade, principalmente os jornais de qualidade.

Mas as empresas jornalísticas, em geral, estão fazendo a lição de casa?

C.T.C. – A questão é que muitos acham que estão fazendo, estão de fato fazendo alguma coisa, mas não algo relevante, que é repensar o modelo e investir em tecnologia, em treinamento, em monitoramento, em ferramental, em pessoas criativas e capazes de levar isso adiante.

Por que isso aconteceu? As mídias sociais em geral recebem informações de todas as pessoas que estão nelas. Com isso, o papel do jornalista mudou?

C.T.C. – Acho que não. Mudou a situação do jornalista, não o papel do jornalista. Antes ele era o ator principal. Hoje ele é o coadjuvante. Ele atua no sentido de ser uma espécie de moderador entre o público e os atos, mas tem uma concorrência que nunca teve. Hoje, qualquer pessoa pode publicar uma informação, opinião. Isso só reforça a necessidade de o jornalista continuar fazendo aquilo para o qual ele está tecnicamente preparado, que é levantar os fatos de maneira independente, com capacidade objetiva de análise e trazer aquilo para o público. Isso só reforça essa situação do jornalista continuar sendo correto com capacidade e independência.

Fica claro na sua fala que o segredo é investir em tecnologia. Mas como aliar a novidade com o atual público, que pode não ser somente o jovem, antenado nas mudanças, mas também pessoas mais velhas?

C.T.C. – Esse público, aos pouquinhos, conforme ele vai envelhecendo, você vai perdendo. Mas até lá, esse público continua fiel. Todas as pesquisas mostram isso. Mostram coisas preocupantes, como as carteiras de assinantes dos jornais: a maioria tem mais de 40 anos. Quer dizer, essa pessoa continua lendo o jornal, mas você não tem leitores mais jovens. Esse é o problema.

Então a preocupação é com os jovens?

C.T.C. – Sim, esse jovem, você vai ter que alcançá-lo onde ele está. E ele está no smartphone, no tablet, no videogame, no computador. É com isso que o jornal tem que se preocupar, em como atrair o jovem e encontrá-lo onde ele está.

Qual a dificuldade em fazer isso acontecer?

C.T.C. – Acho que é um problema geracional e de capacidade de visão estratégica dos líderes das empresas.

Mas o sr. mesmo se considera um jornalista da era analógica. Então, na sua opinião, qual será o futuro do jornal? Acaba o impresso, o papel nas bancas?

C.T.C. – Eu não estou preocupado com isso. Acho que essa é uma falsa questão. O papel vai continuar. E enquanto continuar, os jornais terão condição de suprir a demanda. O problema maior é que tem uma geração nova se reproduzindo, crescendo e que não quer o papel. E o jornal precisa estar com ela. Esse é o problema maior.

Quais os próximos passos?

C.T.C. – Planejamento estratégico, separar capital para investimento em tecnologia, gastar cérebro, tempo e recursos para fazer aí um prospecto desse futuro.

Existe algum diferencial entre os grandes jornais, das capitais, e os regionais, como A Tribuna?

C.T.C. – Os jornais regionais têm uma força que às vezes nem eles mesmos sabem. A possibilidade de estabelecer nas mídias digitais a mesma força conquistada no veículo impresso é muito grande. Um fortalece o outro e vice versa. Mas os jornais não podem ficar parados. Precisam entender que tudo está em movimento.