Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A carta de Bezos aos funcionários do ‘Post’

O fundador da Amazon Jeff Bezos comprou o tradicional jornal americano Washington Post por US$ 250 milhões. O anúncio foi feito nesta segunda-feira [5/8]. O executivo escreveu uma carta aos funcionários do jornal para explicar os planos para a publicação.

No texto, ele indica que os valores do Washington Post não vão mudar, mas expõe a necessidade de mudanças para acompanhar as transformações dos jornais na internet. Leia abaixo a íntegra do comunicado.

Aos profissionais do Washington Post:

Vocês já devem ter ouvido a notícia, e muitos de vocês a terão recebido com alguma apreensão. Quando uma única família é proprietária de uma empresa por muitas décadas, e quando ao longo dessas décadas essa família atua de boa fé, regida por princípios, em tempos bons e em tempos difíceis, exercendo o papel de guardiã de valores importantes –quando essa família fez um trabalho tão bom–, é apenas natural receber mudanças com receios.

Então me permitam começar por algo crítico. Os valores do Post não precisam mudar. O jornal vai continuar servindo os interesses de seus leitores, e não os interesses particulares de seus donos.

Vamos continuar a seguir a verdade, onde quer que ela nos conduza, e vamos trabalhar duro para não cometer erros. Quando os cometermos, vamos reconhecer o fato rapidamente e por completo.

Não vou comandar o Washington Post no dia a dia. Estou satisfeito vivendo na “outra Washington”, onde tenho um trabalho principal que prezo muito. Além disso, o Post já tem uma equipe de liderança excelente que sabe muito mais sobre jornalismo do que eu, e estou muito grato a ela por ter concordado em continuar exercendo esse papel.

Haverá mudanças no Post nos próximos anos, é claro. Isso é essencial e teria acontecido com ou sem novos proprietários. A internet está transformando quase todos os elementos do setor dos jornais: encurtando os ciclos de notícias, erodindo fontes de renda que foram constantes durante anos e possibilitando novos tipos de concorrência, alguns dos quais arcam com pouco ou nada dos custos da produção de notícias. Não existe mapa, e não será fácil mapear o caminho a seguir.

Precisamos inventar, o que significa que teremos que fazer experimentos. Nossa pedra de toque serão os leitores, entender o que interessa a eles –política, líderes locais, aberturas de restaurantes, tropas de escoteiros, empresas, organizações beneficentes, governadores, esportes– e trabalhar com base nisso. Estou animado e otimista com a oportunidade de invenção.

O jornalismo desempenha papel crítico numa sociedade livre, e o Washington Post–sendo o jornal da cidade que é capital dos Estados Unidos– é especialmente importante. Eu destacaria dois tipos de coragem que os [família] Graham demonstraram, como proprietários, e que eu espero canalizar.

O primeiro é a coragem de dizer “espere, certifique-se, vá devagar, procure outra fonte. Estão em jogo pessoas reais e suas reputações, seu ganha-pão e suas famílias”. A segunda é a coragem de dizer “siga a notícia, custe o que custar”. Espero que nunca ninguém ameace passar parte de meu corpo por um espremedor, mas, se o fizerem, graças ao exemplo da sra. Graham eu estarei preparado.

Quero dizer uma última coisa que não diz respeito realmente ao jornal ou a esta mudança de proprietário. Tive o grande prazer de conhecer Don [Graham, presidente da Washington Post Company] muito bem nos últimos mais de dez anos. Não conheço homem melhor que ele.

Com sinceridade,

Jeff Bezos

 

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