Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

A mídia e as tarefas democráticas do Maranhão

Além de vitoriosos e vencidos, eleições costumam produzir estrelas, campeões e também apressar aposentadorias tanto no âmbito parlamentar como nos executivos estaduais. E uma das surpresas do prmeiro turno que mais chamaram a atenção foi a espetacular vitória de Flávio Dino de Castro e Costa, candidato do PCdoB ao governo do Maranhão.

Com a garra dos seus 46 anos e a experiência de ex-juiz federal, ex-deputado e ex-presidente da Embratur, apoiado por um pequeno partido, o Partido Comunista do Brasil, e uma incrível coligação de ex-adversários do campo socialdemocrata, Flávio Dino desmantelou uma das oligarquias políticas e midiáticas mais longevas do Nordeste – o clã Sarney, no poder há meio século, que atravessou incólume a ditadura, a distensão e a redemocratização.

Para entrevistar o comunista que promete uma revolução democrática burguesa num dos estados mais pobres do país, pedi a ajuda de outro nordestino arretado, fera do jornalismo político, Ancelmo Gois, do Globo, a quem dirijo a primeira pergunta:

Anselmo: Flávio Dino conseguirá cumprir tudo o que promete? (Alberto Dines)

 

 

A mídia na semana

>> Quando a fonte reconhece seu erro, será que o veículo que o noticiou também não deveria admitir sua parte no equívoco? Na quarta-feira passada [19/11], a Polícia Federal admitiu que os indícios contra o atual diretor de Abastecimento da Petrobras, José Cosenza, basearam-se em “erro material”. Parte da imprensa reproduziu a admissão do erro, mas houve quem sequer tocou no assunto. Ora, erro da fonte só se materializa com a ajuda da imprensa. Quando ela se cala não há erro, mas também não há informação. Quando divulga o dado errado, a responsabilidade deveria ser compartilhada. Sobretudo quando acrescenta à falha inicial seus vacilos. A Folha de S.Paulo fica nos devendo este “Erramos”.

>> Fundada há 23 anos, a PBI – Public Broadcasters International, associação internacional de redes públicas de rádio-TV, reúne-se anualmente para trocar experiências, elaborar estratégias comuns e desenvolver parcerias em todas as esferas. A reunião deste ano começa amanhã [quarta, 26/11], aqui no Rio, a primeira a realizar-se na América Latina, com a nossa EBC como anfitriã. Convidadas, as mais importantes redes públicas do mundo, entre elas a inglesa BBC, a americana PBS, a canadense CBC, a portuguesa RTP, a argentina RTA, a japonesa NHK e outras, todas comprometidas com a ideia de oferecer alternativas às redes comerciais e com a democratização da cultura.

>> No próximo sábado, dia 29/11, vamos lembrar a histórica decisão da ONU que, se implementada em 1947, teria evitado a sucessão de guerras naquela que foi chamada de Terra Santa e hoje é uma terra empapada de sangue e impregnada de rancores. Sob a presidência do estadista brasileiro Oswaldo Aranha, a ONU decidiu partilhar a Palestina em dois estados, um árabe e outro judeu, este criado no ano seguinte, apesar do ataque simultâneo de cinco vizinhos que não aceitaram a decisão. Nos quase cinquenta anos seguintes, o Estado de Israel legitimou-se através da sua capacidade de defesa e da garantia dos seus direitos pela comunidade internacional. Hoje, quem não aceita o segundo Estado previsto na partilha é Israel, contrariando esta mesma comunidade internacional que permitiu a sua fundação. A solução dos dois Estados vizinhos e soberanos continua como a única capaz de desativar a dinâmica do confronto e criar um ambiente de negociações. Para lembrar a façanha da nossa diplomacia em 1947, nada melhor do que um novo e decisivo empurrão 67 anos depois.

>> Enquanto aguardamos o relatório final da Comissão Nacional da Verdade que investiga as violações dos direitos humanos durante a ditadura, e se discute o alcance da anistia promulgada em 1979, cabe a imprensa continuar a busca da verdade. No domingo [23/11], o Globo demonstrou que o papel do jornal é não se omitir; e graças aos repórteres Chico Otávio e Rafael Kapa revelou um relatório encontrado no sítio do coronel Malhães, um dos piores agentes da repressão, assassinado em abril. O relatório desvenda pela primeira vez – e de forma cabal – os detalhes do funcionamento da Operação Condor que reuniu militares do Brasil, Argentina, Chile e Uruguai. A busca da verdade não tem prazo de vencimento, é para sempre.