Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

A notícia não é mais monopólio do jornalista

Durante muito tempo, jornalismo de massa e autoritarismo político foram pares siameses. Por intermédio da imprensa, o discurso politicamente correto e a agenda pública das nações foram criados e difundidos à revelia dos cidadãos contribuintes.

É através destes discursos e agendas impostos aos cidadãos por intermédio dos jornalistas que os interesses da minoria têm sido satisfeitos. A maioria, que detém o poder político de fato, é alijada das decisões que lhes interessam acreditando na isenção da mídia. O caso da epidemia de dengue no Rio de Janeiro exemplifica bem as relações entre política e jornalismo.

A imprensa, principalmente televisiva, legitimou gastos bilionários com o PAN em benefício de poucos (inclusive da Rede Globo, que faturou alto com os direitos de retransmissão do evento; ver aqui).

Entretanto, a população em geral, que nem assistiu presencialmente às provas nem as disputou, precisava da alocação de recursos na saúde pública e no combate à dengue, o que não ocorreu. O resultado foi catastrófico: dezenas de pessoas morreram, milhares foram contaminados e milhões correm o risco de contrair uma doença que pode ser mortal (ver aqui).

Artilharia virtual

As distorções que permitem a predominância dos interesses privados aos públicos têm ocorrido com ou sem a censura ou controle direto da mídia pelo Estado. Penso, porque a natureza infelizmente me fez um ser pensante, que o totalitarismo nazi-fascista apenas e tão somente exacerbou uma característica da chamada ‘democracia ocidental’. Aliás, já disse em outro lugar que o que chamamos ‘democracia ocidental’ na verdade é ‘liberalismo oligárquico’ que se envergonha de seu nome (ver aqui).

Penso, também, que um dos bastiões do ‘liberalismo oligárquico’ foi invadido quando a notícia deixou de ser um monopólio dos jornalistas. Com ou sem a aprovação e mesmo diante da reação dos donos dos fatos, a internet está renovando o jornalismo. Ao fazê-lo, a rede mundial de computadores permite uma renovação na arena pública ao possibilitar que os cidadãos ajudem a definir e a legitimar novas agendas públicas.

Como defensor da liberdade e da predominância dos interesses públicos na atuação do Estado, penso que resta uma cidadela a ser demolida. A que permite o monopólio do Estado pelos partidos políticos (ou quadrilhas oficiais, como gosto de dizer). Quando o público for capaz de impedir que seus mandatários usem o Estado em benefício próprio e de seus amigos, a luta por mais democracia terá findado. Mas até que uma nova ágora (ver aqui) venha ser construída, terá que ocorrer um aumento e um refinamento da artilharia virtual. Mãos a obra.

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Advogado, Osasco, SP