Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Acervo recuperado e digitalizado

O Brasil enfrenta a ditadura militar. A população reivindica o fim do governo opressor, o fim da censura e a volta das liberdades civis. É nesse contexto que nasce o jornal Nosso Tempo. A primeira edição do semanário circula em 3 de dezembro de 1980, com uma corajosa capa denunciando a tortura em órgãos de segurança de Foz do Iguaçu. Durante grande parte da década de 1980, Nosso Tempo é o único jornal de uma região estratégica no contexto nacional. Cabe ao semanário registrar a história de Foz do Iguaçu, dos municípios do Oeste do Paraná, do Paraguai e da Argentina, os governos, as manifestações populares, as transformações da sociedade, enfim, o dia-a-dia de uma zona de conflitos constantes.

Trinta anos após a primeira edição, a quase centenária Foz do Iguaçu ganha um presente para a preservação da sua história. O acervo do jornal foi recuperado, digitalizado e publicado na internet. Agora será possível fazer uma releitura histórica visitando o site Nosso Tempo Digital, lançado na segunda-feira (20/6) em Foz do Iguaçu. Além da apresentação do portal, os presentes puderam acompanhar uma exposição com a reprodução de 40 capas e páginas históricas do jornal. A edição retrata bandeiras levantadas por Nosso Tempo, como a luta para derrubar a ditadura no Brasil e no Paraguai, a liberdade de expressão, solidariedade aos árabes, Diretas Já, manifestações populares, e entrevistas com pioneiros.

O lançamento colaborou para integrar gerações, fazer uma ponte entre quem viveu o extinto “nanico” da imprensa alternativa (personagens, editores, trabalhadores e apoiadores) e os moradores da cidade, como trabalhadores de diferentes áreas, estudantes, universitários, jornalistas, sindicalistas, e educadores.

“Viajar no passado para entender melhor o presente”

A primeira etapa do projeto reúne as 387 edições, de 1980 a 1989. Esse material estava disponível apenas em coleções particulares e na Biblioteca Municipal. O acervo, entretanto, tem se deteriorado com o tempo, correndo o risco de desaparecer com o passar dos anos. Já a segunda etapa do projeto, com a digitalização das edições de 1990 a 1994, será lançada no segundo semestre.

O projeto é um sonho antigo e uma realização de Megafone – Rede Cidadania na Comunicação, com patrocínio da Itaipu Binacional e Uniamérica. Apoiam a iniciativa o Sindicato dos Jornalistas do Paraná (subseção de Foz do Iguaçu), Casa da América Latina, Guatá – Cultura em Movimento e Centro de Direitos Humanos e Memória Popular.

O objetivo dos organizadores é preservar a memória da cidade, facilitar o acesso à história local e regional registrada pelo Nosso Tempo e democratizar a consulta ao acervo, aliando alta tecnologia e as facilidades da internet, além de estimular a digitalização de outros documentos.

Antes a pesquisa era restrita, com horários delimitados e consumia muito tempo de leitura. Agora, uma pesquisa pode ser feita em segundos com a digitação de palavras-chaves no buscador. “Com a publicação do acervo na web, queremos fazer jus aos conceitos de democratização da informação, acessibilidade de pesquisa e releitura histórica. Esses são os pilares do Nosso Tempo Digital. Com ele, é possível viajar no passado para entender melhor nosso presente e assim contornar o esquecimento seletivo a quem interessa apagar o passado”, afirmou o jornalista Alexandre Palmar, um dos organizadores do projeto.

Conforme o jornalista e organizador Douglas Furiatti, o pioneirismo do projeto é importante para abrir caminho à digitalização da memória da imprensa. “O Nosso Tempo Digital não apenas imortaliza um valoroso jornal que circulou na cidade, como abre a possibilidade de outros veículos impressos seguirem o mesmo caminho. Não se trata de uma edição diária online, e sim, de todo o conteúdo veiculado na história dos periódicos publicado num site específico”, ressaltou Furiatti.

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[Wemerson Augusto é jornalista, Foz do Iguaçu, PR]