Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Boas notícias na primeira semana

 

Alguns pontos positivos presentes no noticiário de segunda-feira (30/7) merecem destaque na semana em que terá início o julgamento do mensalão.

O mais importante são as notícias de que a presidente Dilma Rousseff pretende anunciar em breve ações que configurem uma “agenda positiva” para o Executivo federal. Ou seja, sinaliza que não desejará se envolver nas polêmicas que daqui em diante só farão crescer.

Desde que o ex-presidente Lula e o PT resolveram atribuir à mídia o papel de artífice do escândalo, as mais sólidas contribuições à garantia da liberdade de imprensa partiram de Dilma. Nos palanques de sua campanha eleitoral ela chegou a fazer coro com os que miravam nos mensageiros, como se isso fosse anular a má notícia que traziam. Mas no dia mesmo em que foi declarada vencedora, tomou posição a favor da liberdade de imprensa, sem ambiguidades. E desde então só fez reafirmar a defesa desse atributo irrenunciável da democracia.

O segundo ponto positivo é que as águas sujas do escândalo Cachoeira não encobriram o mensalão. Até aqui, a CPI do Cachoeira, que trata de fatos gravíssimos, só teve como consequência prática a cassação do senador Demóstenes Torres. Se os trabalhos prosseguirem a contento, outras consequências políticas, administrativas e penais virão.

Manobras e arranjos

Em Goiás, a repórter de política Fabiana Pulcinelli, do jornal O Popular, repele a estratégia do governador Marconi Perillo para abafar o caso. Por meio de auxiliares, ele tenta passar a ideia de que investigações e reportagens prejudicam a imagem e atrapalham o crescimento do estado.

A jornalista argumenta que “cabe ao governo, que se diz vítima de campanha orquestrada por Lula, se defender das acusações – não só com discurso de vítima, mas mostrando dados e informações que esclareçam os fatos”. E conclui Pulcinelli: “É preciso manter luz sobre as suspeitas e exigir que sejam devidamente apuradas. Que sejam investigadas e rendam punições a quem de fato merecê-las. Ruim para Goiás é ser considerado o estado da impunidade”.

O mesmo se pode dizer das denúncias que atingem outros governos, como o do Distrito Federal e os do Rio de Janeiro e de São Paulo. Em suma, tudo que a polícia e o Ministério Público apuraram sobre as atividades de Cachoeira e da empresa Delta.

A terceira boa notícia é que os acusados e seus defensores e correligionários estão empenhados numa campanha para pressionar os juízes do Supremo Tribunal Federal. Como assim, boa notícia? Sim, porque isso revela preocupação com o resultado do julgamento.

O pior que poderia acontecer agora seria a opinião pública constatar que manobras e arranjos predeterminam as sentenças proferidas na Corte Suprema. Nesse caso, a favor dos acusados.

Julgamento técnico

O julgamento do mensalão tem uma carga política tremenda.

Não houve nada parecido no Império, nem na Primeira República. O “mar de lama” criado por Carlos Lacerda para acuar Getúlio Vargas não deixou evidências visíveis.

A ditadura militar foi a grande corrupção política, institucional, administrativa e ideológica do Brasil no século 20. Mas, até mesmo por se tratar de uma ditadura, nenhum dos generais-presidentes precisou montar esquema semelhante ao do mensalão.

A única comparação aceitável seria com o esquema Collor-PC Farias, mas esse foi muito mais uma continuidade do caixa 2 das eleições de 1989 do que algo que se entranhasse nas instituições. Por sinal, Collor caiu porque desprezou a formação de uma maioria parlamentar, como Jânio Quadros havia feito trinta anos antes.

Com toda a carga política que cerca o julgamento do mensalão, é improvável que os juízes se metam a “fazer política” no julgamento. Não lhes resta saída digna se não julgar tecnicamente. E é disso que os acusados, segundo sua culpa no cartório, podem ter medo, ou alimentar esperanças.