Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Cobertura teve intimidação e ameaças a jornalistas

O plebiscito que decidiu a permanência da Escócia no Reino Unido provou-se um desafio para a mídia britânica. Os dias que antecederam a votação de quinta-feira [18/9] foram marcados por casos de abusos e intimidação a repórteres que cobriam o tema. Um jornalista contou à polícia que foram feitas ameaças graves a sua família. Outro, que expressou em um blog sua intenção de votar “sim” à independência da Escócia, teria sido ameaçado de espancamento. Os relatos aumentaram à medida que o plebiscito se aproximava e as agressões vinham tanto de pessoas a favor da independência quanto contrárias.

Jornalistas pareciam frustrados com o que precisavam enfrentar. Tom Bradby, do canal ITN, escreveu em seu blog que “o nível de abuso e intimidação vindo de alguns da campanha pelo ‘sim’ está fazendo deste plebiscito uma experiência um tanto desagradável”. O microfone aberto de Kay Burley, da Sky News, acabou deixando escapar a apresentadora chamando um ativista pró-independência de “idiota” depois que ele tentou bater no cinegrafista da emissora.

Cobertura complicada

Algumas companhias de mídia, como a BBC, foram acusadas de partidarismo ao longo da cobertura. As manifestações contra a rede pública vinham ocorrendo desde maio. Para a jornalista Liz Leonard, que já trabalhou na BBC, algumas acusações de parcialidade podem ter ganhado peso por conta das dificuldades de se cobrir a campanha – que durou dois anos. “Os dois lados concordaram que era impossível saber os fatos reais [sobre as consequências da independência] e isso dificulta o trabalho dos jornalistas”, pondera.

No fim de semana anterior à votação, um protesto em frente à sede da BBC em Glasgow trazia um enorme cartaz pedindo a demissão do editor de política da rede, Nick Robinson. Jornalistas da BBC que cobriam o plebiscito disseram ter recebido emails ofensivos e sofrido ataques pessoais. Um repórter que cobria um evento pró-independência em Glasgow foi intimidado com xingamentos. Segundo uma fonte da organização, “uma minoria de nacionalistas realmente hardcore estava buscando intimidar funcionários através das redes sociais, emails e por cartas”. Profissionais escoceses da BBC teriam sofrido mais ataques do que correspondentes que foram de Londres para cobrir o fim da campanha e a votação.

No início da semana, o chefe da polícia escocesa, Brain Docherty, alertou sobre o uso de “retórica exagerada”. “Neste momento, é mais importante do que nunca que as pessoas – sejam políticos ou jornalistas – escolham cuidadosamente suas palavras, sejam sensatas e ajam com respeito”, afirmou.

Entre as acusações de parcialidade por parte da mídia, a campanha pela independência acabou sendo fortalecida na internet. “A campanha do ‘sim’ refletiu uma tendência mundial em que os movimentos por mudança progressiva estão se baseando cada vez mais na mídia social para coordenar ações e compartilhar informação. Quando você vai contra o establishment, isso inclui a mídia tradicional”, disse o ativista Stephen Paton, que divulgava seu próprio boletim informativo no YouTube. “E nós não tínhamos um assessor de imprensa para garantir que alguém estava nos cobrindo”, brincou.

A apuração dos votos foi concluída na manhã de sexta-feira [19/9], com a vitória da opção “não”, contrária à independência, por 55%.