Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Documentos sobre terrorismo são vazados nos EUA

Autoridades americanas revelaram à rede CNN que o governo federal tem fortes indícios de que há um novo responsável por vazamentos de documentos confidenciais que podem expor a segurança nacional, num caso muito similar ao ocorrido com Edward Snowden, ex-funcionário da NSA, a Agência de Segurança Nacional americana. Em 2013, Snowden divulgou importantes relatórios oficiais, alguns deles comprovando que os Estados Unidos faziam espionagem não autorizada de cidadãos, empresas e até mesmo de chefes de Estado.

A prova do vazamento mais recente foi publicada pelo Intercept, site de notícias lançado pelo jornalista Glenn Greenwald, que também foi responsável pela publicação das informações vazadas por Snowden no ano passado.

O artigo em questão concentra-se no grande aumento da listagem de terroristas em potencial nas bases de dados do governo americano, citando documentos preparados pelo Centro de Contraterrorismo Nacional, todos datados de agosto de 2013, depois que Snowden deixou os Estados Unidos para evitar acusações criminais.

Os documentos compartilhados contêm selos como “Secreto” e “NOFORN” (abreviação para “No Foreign”, que indica que tal material não deve ser compartilhado com nenhum governo estrangeiro). No entanto, tais classificações estão abaixo daquelas que constavam na documentação vazada por Snowden (“Top Secret”, ou seja, “Confidencial”). Ainda não está claro quantos documentos o novo delator compartilhou e quais danos isto pode causar.

Quantidade de suspeitos de terrorismo dobrou

De acordo com o Intercept, consta agora que o maior banco de dados americano antiterrorismo – o chamado TIDE: Terrorist Identities Datamart Environment – possui atualmente mais de 1 milhão de nomes de indivíduos que são vistos como potencial ameaça à segurança americana. Para efeito de comparação, em 2009 o banco de dados do TIDE continha cerca de 500 mil nomes. Em 2012, eram aproximadamente 875 mil nomes.

O TIDE foi criado após os ataques de 11 de Setembro de 2001 e abriga nomes de terroristas já conhecidos, além de suspeitos de terem ligações com o terrorismo. Quem estiver nesta lista, por exemplo, não pode viajar por companhias aéreas comerciais dentro dos EUA.

No entanto, para que um nome seja incluído na listagem, o governo não precisa necessariamente de provas que o conectem diretamente ao terrorismo (fato que inclusive foi bastante criticado por defensores da privacidade). A reportagem do Intercept diz que, de acordo com os documentos, 40% dos citados não são filiados a grupos terroristas.

Autoridades norte-americanas familiarizadas com o assunto contestam a reportagem, alegando que houve uma interpretação errônea da documentação.

Gerenciamento de crise

Para evitar polêmicas similares ao caso Snowden, o governo se adiantou e veio a público para comentar o caso. Na terça-feira (5/8), a Associated Press divulgou uma reportagem sobre o tema; no entanto, concentrou-se muito mais na posição do governo – o qual explicava o porquê do aumento de indivíduos na lista de terroristas em potencial – do que propriamente no vazamento da documentação.

Ryan Grim, chefe da sucursal de Washington do Huffington Post, criticou a postura do governo, alegando que ela destrói a confiança entre o jornalista e o objeto de sua reportagem. Ele diz que futuramente um jornalista poderá se mostrar muito menos disposto a compartilhar o conteúdo de seu material com este sujeito, dando-lhe assim menos tempo, ou mesmo tempo nenhum, para demonstrar suas preocupações para com o conteúdo a ser publicado.

Ele frisou ainda que a decisão do governo de estragar uma reportagem que tenha a segurança nacional como tema é especialmente incomum, considerando o grande interesse das autoridades em ganhar a confiança dos jornalistas para que estes preservem as informações que devem permanecer privadas.

Depois que a reportagem da AP foi publicada, o Intercept convocou uma teleconferência com o Centro Nacional de Contraterrorismo, exigindo explicações. A agência governamental admitiu ter falado com a AP, mas alegou não saber que o material chegaria a público antes da reportagem do próprio Intercept.

Paul Colford, porta-voz da AP, deu uma declaração sobre o timing de publicação das matérias ao Huffington Post: “A repórter Eileen Sullivan, vencedora do Pulitzer, tem feito coberturas neste nicho há muito tempo. Ela simplesmente reuniu e divulgou fatos adicionais como parte de sua experiência no assunto”.

Ironicamente, o Pulitzer de Eileen veio exatamente após ela divulgar a exposição da vigilância à comunidade muçulmana por parte da Polícia de Nova York. Ela também estava entre os jornalistas da Associated Press que tiveram seus registros telefônicos grampeados pelo governo.