Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

FBI criou página falsa de jornal para capturar suspeito

A editora-chefe do Seattle Times, Kathy Best, demonstrou indignação diante da revelação de que o FBI teria criado uma página falsa do jornal para servir de isca em uma investigação. De acordo com um documento obtido pela Electronic Frontier Foundation (EFF), ONG voltada a proteger a liberdade de expressão na era digital, o escritório do FBI em Seattle fabricou uma notícia e uma página falsa do Seattle Times a fim de enviar um malware e ter acesso ao computador de um suspeito que realizou uma série de ameaças de instalar bombas em uma escola de ensino médio.

O incidente, ocorrido em 2007, chegou ao conhecimento da equipe do jornal depois que o diretor técnico da ONG União Americana pelas Liberdades Civis publicou um tuíte, em 27/10, com um link para o documento do FBI que foi divulgado pela EFF em 2011, mas que aparentemente não chamou a atenção de ninguém naquele ano. A revelação sobre a fabricação da notícia “no estilo do Seattle Times” e com assinatura da Associated Press aparece nas páginas 61 e 62 do documento.

Isca

A reportagem em questão tratava das ameaças de bomba, e um link para a página foi enviado para a conta do MySpace do suspeito – o material era bastante fiel ao site do jornal e continha inclusive campos sobre assinaturas e contatos publicitários, sugerindo assim ser uma fonte oficial e segura. Uma vez que o suspeito – que tinha 15 anos de idade – clicou no link, os agentes do FBI puderam acessar seu computador remotamente. Por fim, o jovem, cuja identidade não foi divulgada, foi preso e condenado por causa das ameaças.

Frank Montoya Jr, agente especial encarregado do escritório do FBI em Seattle, emitiu um comunicado para defender a tática de investigação. “O uso desse tipo de técnica só ocorre em circunstâncias muito raras e apenas quando há razões suficientes para se acreditar que haverá sucesso na solução de uma ameaça”, esclareceu.

O documento indica que o FBI obteve um mandado de busca para realizar a ação. O mandado, no entanto, não especificava a criação de uma página falsa do Seattle Times. “Isso não apenas ultrapassa o limite, isso apaga o limite”, resumiu a editora-chefe do jornal. Paul Colford, diretor da assessoria de imprensa da Associated Press, também se manifestou, afirmando ser “inaceitável” que o FBI tenha se apropriado do nome da agência para publicar uma matéria falsa atribuída a ela. “Esta manobra violou o nome da AP e prejudicou sua credibilidade”.