Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Jornalistas se redimem por erro antigo

Importantes jornalistas dos EUA assinaram uma petição que pede à Newspaper Association of America que reconheça publicamente que a organização que a precedeu na década de 1930 errou em ‘virar as costas a jornalistas judeus refugiados fugindo de Hitler’. O abaixo-assinado foi inspirado em uma pesquisa da ex-repórter do Wall Street Journal e professora de jornalismo da Universidade Northeastern Laurel Leff, apresentada em dezembro, sobre como os órgãos de imprensa e ensino de jornalismo americanos falharam em ajudar judeus perseguidos pelo nazismo.

De acordo com o estudo de Laurel – que também é autora de um livro sobre a cobertura do New York Times sobre o Holocausto –, jornalistas não organizaram comitês de ajuda aos refugiados, como fizeram médicos e advogados, garantindo a eles posições para driblar a imigração e entrar nos EUA. ‘As escolas de jornalismo não incluíram nenhum único professor europeu em seus quadros, e negaram pedidos para reeducar jornalistas estrangeiros’, afirma ela. ‘Não há dúvida de que o anti-semitismo tinha influência nestas decisões. Não era o único fator, mas era um importante fator’.

Motivos e fatos

O estudo ainda não foi publicado porque, segundo a professora, é preciso pesquisar mais a fundo os motivos que levaram a classe jornalística a esta falta de cooperação com os judeus. Laurel diz que ainda pesquisa a idéia de que ‘há algo mais profundamente entranhado no jornalismo que os fez mais hesitantes em ajudar’.

Ela afirma, entretanto, que não tem ligação com a organização do abaixo-assinado. Sua pesquisa diz que, em 1939, a American Newspaper Publishers Association, organização predecessora à Newspaper Association of America, rejeitou um pedido de Carl J. Friedrich, refugiado alemão não-judeu e professor de Harvard, para discursar em sua convenção anual.

John F. Sturm, presidente da associação, afirmou em declaração que uma revisão detalhada nos arquivos da organização anterior não encontrou nenhum registro ou discussão sobre o pedido do professor Friedrich, mas que daria uma especial consideração à petição. ‘A alegação do trabalho da professora Leff é algo a ser levado à sério, particularmente porque os jornais representaram um papel crucial na divulgação de histórias daqueles oprimidos’, completou.

Nomes de peso

A petição já foi assinada por mais de 70 pessoas, entre elas Nicholas Lemann, reitor da escola de jornalismo de Colúmbia, Marvin Kalb e Alex S. Jones, do Centro Shorenstein sobre Imprensa, Política e Políticas Públicas de Harvard, e Leon Wieseltier, editor literário da tradicional revista The New Republic.

Iniciado por Rafael Medoff, diretor do Instituto David S. Wyman para Estudos do Holocausto, o documento tem como objetivo fazer com que a Newspaper Association of America, a exemplo de outras organizações, admita e enfrente os ‘erros cometidos pela comunidade jornalística durante aqueles anos terríveis’. Ele pede também que a associação convide Laurel para discursar em sua convenção anual, em Chicago, no início de abril – quando também deverá ser entregue o abaixo-assinado. Informações de Katharine Q. Seelye [The New York Times, 20/2/06].