Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

‘NYT’ responde a presidente: ‘Não cedemos a demandas de governos’

O Conselho Editorial do New York Times publicou um artigo sobre o tratamento do governo da China a jornalistas e veículos de imprensa estrangeiros. Em “Resposta ao presidente Xi Jinping”, o Conselho ressalta que, durante encontro em Pequim, o presidente dos EUA, Barack Obama, e o líder chinês deram bastante importância a um acordo para afrouxar as restrições de visto para empresários, estudantes e turistas.

Mas quando foi questionado, em uma coletiva de imprensa, se faria o mesmo para jornalistas estrangeiros, Xi Jinping mostrou-se impaciente. A pergunta havia sido feita pelo correspondente do New York Times, Mark Lander, e foi, inicialmente, ignorada pelo presidente. Após vários minutos e algum constrangimento (jornalistas presentes e o próprio Obama pareciam não acreditar), Xi resolveu respondê-la usando uma metáfora: “quando um carro quebra na estrada, talvez tenhamos que parar e ver qual é o problema”.

Relações conturbadas

O governo chinês vem dificultando o processo de obtenção e renovação de vistos para jornalistas. O New York Times, nos últimos dois anos, teve negados pedidos de visto para seus correspondentes depois de publicar uma reportagem sobre a riqueza de membros do Partido Comunista. O jornalista Chris Buckley acabou expulso do país em 2013 ao não ter seu visto renovado. Também no ano passado, a agência americana Bloomberg se tornou notícia quando foi revelado – pelo New York Times – que o editor-chefe Matthew Winkler havia vetado a publicação de uma reportagem por temor de prejudicar a relação com as autoridades chinesas. Os sites do Times, da Bloomberg e do diário britânico The Guardian já foram, por diversos períodos, bloqueados na China.

A razão para Xi Jinping ter demorado a responder a pergunta do jornalista do Times pode ter sido sua surpresa e despreparo para lidar com a imprensa livre. É raro que, em coletivas de imprensa com líderes estrangeiros, jornalistas recebam autorização para fazer perguntas diretas. Funcionários da Casa Branca tiveram, segundo informações da agência Associated Press, que convencer funcionários do governo chinês a permitir questões dos repórteres que acompanhariam a coletiva com Obama: foi autorizada uma pergunta por jornalista de cada país.

A culpa é da imprensa

Provavelmente, Xi também não gostou do veículo americano escolhido e do teor da questão. Sua mensagem, com a metáfora meio esquisita, foi a de que as organizações de mídia estrangeiras são responsáveis pelos problemas que enfrentam na China. Traduzindo, elas são punidas por publicar notícias que desagradam autoridades do país. Para o presidente, pelo visto, se pararem para reconhecer e consertar o problema, estas organizações não terão mais dificuldade para atuar em solo chinês.

“O senhor Xi alegou que a China protege os direitos das organizações de mídia. Exigir que jornalistas adequem sua cobertura para servir ao Estado é algo que protege apenas os poderosos e aqueles com algo a esconder. Um regime confiante que se considera uma liderança mundial deveria ser capaz de lidar com investigações honestas e com críticas”, alfinetou o artigo do Times, lembrando que a China, com 1.3 bilhão de pessoas, é hoje a segunda maior economia do mundo, atrás apenas dos EUA. Portanto, merece uma cobertura séria e consistente. “O Times não tem intenção de alterar sua cobertura para ceder às demandas de qualquer governo – seja na China, nos EUA ou qualquer outra nação. Assim como também não o faria qualquer organização de notícias confiável”, ressaltava a nota, lembrando ainda que o compromisso do jornal é com seus leitores.