Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Mídia, racismo, discriminação e intolerância

Preconceito e pré-juízo são violências arbitrárias, instintivas e irracionais, tomadas antes de qualquer reflexão.

Palavra “preconceito” retornou ao vocabulário cotidiano há quatro semanas, a partir do doloroso episódio ocorrido no estádio do Grêmio, em Porto Alegre, quando o goleiro Aranha, do Santos, foi agredido verbalmente pelos torcedores adversários, entre eles uma exaltada gremista. Identificada pelas autoridades, converteu-se em vilã nacional, perdeu o emprego e sua casa foi atacada em represália.

O racismo não se limita ao futebol, é doença antiga, global, mas não é a única exclusão num mundo que se pretende aberto e sem fronteiras. A homofobia e a islamofobia são intolerâncias mais recentes e não menos deformantes; a xenofobia e o antissemitismo são ancestrais, combinam fobias religiosas, culturais e étnicas mantidas em estado de permanente mutação.

Hoje, explodem as discriminações que se combinam e se reforçam constantemente: as raivosas segmentações incluem ideologias, seitas, classes econômicas, aparência, idade e psiquismo: baixinhos, gordinhas, narigudos, maluquinhos e gaguinhos, apesar do diminutivo são condenados a viver em mundos à parte, segregados e eternamente diferenciados.

A mídia alimenta ou atenua os estigmas? É o que vamos tentar entender. (Alberto Dines) 

 

 

A mídia na semana

>> Por que razão os grandes jornais brasileiros não assumem publicamente nas páginas de opinião suas preferência por um candidato? A ousada pergunta, considerada a pergunta do ano, foi lançada pela ombudsman/ouvidora da Folha de S.Paulo Vera Guimarães Martins, há três semanas, e até hoje nenhum jornal se mexeu, nem mesmo a Folha. Temos apenas mais três domingos antes do primeiro turno, esta costuma ser a antecedência necessária para mostrar que a escolha de um candidato não afetará a cobertura dos demais. Opinar não faz mal a nenhum jornal, ruim é manipular o noticiário, reproduzir acusações sem indicar a fonte. Não por coincidência, alguns jornalistas, inclusive da Folha, consideram este pleito como um dos mais radicalizados desde a redemocratização.

>> Criticado por importantes entidades internacionais e até pelas Nações Unidas, o governo brasileiro vai propor uma resolução que imponha mais rigor contra as violências cometidas contra jornalistas. A notícia é bem-vinda, somos o terceiro país mais violento da América Latina no que se refere ao exercício do jornalismo, mas o que se espera do governo é uma ação efetiva no plano interno. Uma resolução da ONU levará muito tempo até afetar as nossas estatísticas. A sociedade brasileira precisa sentir que o governo considera a proteção física de jornalistas como essencial para a preservação da democracia. Quando isto acontecer, a própria ONU vai aplaudir.

>> A decisão de criar a Comissão Nacional da Verdade, bem como as comissões estaduais, foi tomada legitimamente pelo Estado brasileiro. Os convocados para depor têm o direito de manterem-se calados, mas recentemente, em Brasília, um deles, oficial reformado, escreveu um bilhete abusado: “Virem-se: não colaboro com o inimigo”. Mas quem é o inimigo, o Estado brasileiro? Neste caso, o oficial coloca-se como inimigo do Estado brasileiro, portanto subversivo. E por isto deve ser punido por crime. A Comissão Nacional da Verdade deve apresentar um relatório até o fim do ano. A mídia parece quieta demais, mais interessada no atendimento do prazo do que em ajudar na busca da verdade. Seria a sua chance de compensar todas as omissões passadas.