Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Muita informação apesar dos ataques

O Observatório da Imprensa nº 358, no ar 20/12, analisou os insistentes ataques à mídia proferidos pelo presidente Lula. Participaram do programa os jornalistas Luís Nassif, em São Paulo, e Luiz Gutemberg, em Brasília, e, no Rio de Janeiro, a cientista política Lucia Hippolito.


‘Periodicamente temos guerras da imprensa contra governantes’, disse Luís Nassif. ‘Tivemos a imprensa contra Collor, contra Fernando Henrique depois da mudança do câmbio e a imprensa contra Lula, que começa no caso do Waldomiro Diniz e se aprofunda depois no caso do mensalão’. Para Nassif, o governo Lula abriu uma guarda fantástica, pois no caso do Waldomiro ficou claro que tinha todo um caldinho para a explosão de uma crise posterior’. Segundo o colunista, algumas acusações só podem ser feitas quando se está cercado de documentos, de provas, de indícios veementes, mas de acordo com ele não foi isso o que se viu. Ao contrário, muitas das denúncias surgiram só para se ‘prolongar o orgasmo’, disse. ‘Então eu acho que as duas pontas demonstraram episódios de selvageria ao longo do ano’.


Para Luiz Gutemberg, no ‘campo de batalha’ que Brasília representa, ou seja, o ponto onde os conflitos se realizam ou se externam, a densidade de opiniões nos jornais é absolutamente identificável. ‘Quer dizer, jornalistas, editorialistas, colunistas, as tendências são absolutamente identificadas, as opiniões vigorosas, as paixões externadas’, disse. ‘Eu acho extremamente interessante esse jogo de paixões que se realiza por um lado, e por outro a informação cada vez mais requintada.’ Segundo ele, a reportagem brasileira está cada vez avançando mais, porque nenhum jornal, ou nenhum grupo consegue esconder fatos, conter a informação, ela sai de qualquer maneira.


‘Ninguém consegue esconder ou apresentar uma versão exclusiva de nada’, disse Gutemberg, ‘e isso cria uma atmosfera de verdade e conhecimento muito forte’. O jornalista acha que a pressão do governo contra a imprensa é relativa, embora o governo continue sendo um bom anunciante e tendo capacidade de impressão certamente muito forte: ‘Mas os jornais continuam noticiando vigorosamente tudo – a imprensa está marcando em cima do lance e nós estamos conseguindo um grau de informação sobre os fatos como eu acho que nunca se conseguiu’.


Relações ruins


Ao comentar o confronto governo-imprensa, a cientista política Lucia Hippolito disse que este governo ‘é ruim de comunicação’: as relações dele com a imprensa começam com uma certa confusão entre o que é a comunicação e o que é marketing político. Segundo ela, o governo não conseguiu entender ainda qual é seu papel e qual é o papel da imprensa. ‘De outro lado, Lula e o PT sempre foram muito beneficiados por uma tolerância e uma compreensão muito grande quando eram oposição’, afirmou. ‘Quando viraram governo não entenderam que passaram a ser vidraça e a situação e a comunicação ficaram ruins’.


Lucia Hippolito chamou a atenção para o ‘número absurdamente econômico de entrevistas coletivas do presidente’: há quase quatro anos no governo, deu somente três entrevistas coletivas, ‘num ambiente absolutamente controlado, limitado, com poucos jornalistas e poucas respostas’.


Para ela, nenhum outro governo teve relações tão ruins com a imprensa como este, a ponto de acusar a imprensa de golpista. ‘Estamos com uma oposição violenta e com uma imprensa dura, mas nunca houve um grau de informação e de democratização do acesso à informação como nós estamos tendo agora’, afirmou. ‘Certamente não é uma oposição golpista e também não é imprensa golpista.’