Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

O eterno conflito de interesses

No fim de janeiro, um site chamado Electronic Intifada divulgou que Ethan Bronner, chefe da sucursal do New York Times em Jerusalém, tem um filho no Exército israelense. O grupo liberal de monitoramento de mídia Fairness and Accuracy in Reporting pediu, então, que o jornal revelasse se tal informação era verdadeira e, caso fosse, por que o diário não achava que se se tratava de um conflito de interesses inaceitável.

O ombudsman do diário, Clark Hoyt, tratou do assunto em sua coluna de domingo [7/2/10]. Questionado, o editor-executivo Bill Keller confirmou que o filho de Bronner havia se alistado nas Forças de Defesa de Israel, que ele tem 20 anos e toma suas próprias decisões. Em conversa com o ombudsman, Bronner contou que seu filho havia se juntado ao Exército em dezembro, por um período de um ano para treinamento e seis meses de função ativa, antes de retornar aos EUA para cursar a universidade. O jornalista disse que alertou seus editores, como requer as normas éticas do NYTimes. Keller confirmou que os editores discutiram a situação e ‘não viram razão para mudar seu cargo’.

Coro desprezado

Bronner ocupa um dos postos mais ardorosos do jornalismo, cobrindo o conflito entre palestinos e israelenses. Como correspondente do jornal mais influente dos EUA, tudo que escreve é examinado minuciosamente por sinais de parcialidade. Sites como o Angry Arab News Service já o chamaram de propagandista de Israel, enquanto leitores do NYTimes por vezes se queixam da cobertura ‘contrária a Israel’. Algumas vezes, a ‘evidência’ é uma simples palavra em um artigo. ‘Nenhum lugar, data ou evento nesta terra conflituosa é falado em uma linguagem comum’, escreveu Bronner no ano passado, depois do ataque israelense de três semanas a Gaza, a fim de interromper os mísseis lançados no sul de Israel. ‘Tentar contar uma história para que ambos os lados possam ouvir da mesma maneira parece cada vez mais uma tragédia grega na qual eu sou o coro desprezado’.

Muitos leitores acreditam que Bronner não deve permanecer no cargo após o alistamento do filho. O jornalista diz que gostaria de ser julgado por seu trabalho, e não por sua família. Ele escreve sobre o conflito há 27 anos. ‘Ou você é o tipo de pessoa cuja independência intelectual e integridade jornalística são confiáveis, ou não é’, afirma.

Na opinião de Keller, a única situação que poderia ser problemática para que Bronner cobrisse seria se o filho dele ocupasse um cargo de comando e se sua unidade fosse acusada de algo errado. Hoyt decidiu perguntar a opinião de David K. Shipler, autor vencedor do Pulitzer que ocupou o cargo de Bronner no passado. ‘Sempre há duas questões. Uma é se há realmente um conflito de interesses; a outra é se há aparência de um conflito de interesses. Dada a qualidade do trabalho de Bronner, não vejo conflito algum’, respondeu. Alex Jones, diretor do Centro de Imprensa, Política e Políticas Públicas Shorenstein, de Harvard, tem uma posição diferente. ‘A aparência de um conflito de interesses é geralmente tão importante ou mais que um conflito de interesses de verdade’, diz. ‘Eu o tiraria do cargo’. Hoyt, por sua vez, tiraria ele da função pelo menos durante o tempo em que seu filho está no Exército.