Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

O Estado de S. Paulo


‘Ao contrário da crença popular, Pelle Tornberg não inventou o jornal gratuito distribuído em meios de transporte. Na verdade, o genial sueco chegou a se manifestar contra a produção de um título assim quando era presidente da Kinnevik Media, no início dos anos 90. Tornberg adorou o conceito que lhe foi passado por dois funcionários do matutino mais vendido da Suécia, mas achou que a Kinnevik estava com as mãos cheias demais com rádio e TV. Seu chefe na empresa, o magnata sueco de mídia Jan Stenbeck, pensava diferente, e o novo conceito de jornal saiu.


Apesar da hesitação inicial, o ex-jornalista está agora profundamente identificado com a revolução dos jornais gratuitos, tendo impulsionado o crescimento fenomenal dos jornais distribuídos em sistemas de transporte por todo o mundo como chefe do Metro International. Tendo começado com um único jornal gratuito em Estocolmo, em 1995, o Metro International publica hoje 59 edições em 83 cidades, entre elas Nova York, Hong Kong e São Petersburgo. Mas não na Grã-Bretanha, onde o Metro que é distribuído em Londres e outras cidades britânicas é publicado pela Associated Newspapers. Esta preferiu lançar seu próprio jornal gratuito no país em 1999 a perder leitores para uma versão de propriedade sueca.


Com Tornberg, o Metro adaptou sua fórmula às diferentes culturas dos países onde se instalou. Seu crescimento em número de leitores e receita publicitária tem suscitado preocupações sobre o futuro dos jornais pagos. Gabando-se de mais de 15 milhões de leitores em todo o mundo, o Metro é o jornal mais lido fora do Japão. Seus títulos têm uma circulação combinada de 5,1 milhões na Europa, superando os 3,7 milhões de exemplares do alemão Bild , e os 3,2 milhões do The Sun.


Tendo como alvo os profissionais urbanos jovens tão cobiçados pelos anunciantes, o Metro registrou um crescimento de receita de U$ 9,6 milhões em 1995 para U$ 302 milhões no ano passado.


Tornberg atribui o sucesso do Metro à sua fórmula editorial rígida e ao seu tratamento ‘científico’ da distribuição. O estilo editorial e design padronizado permite que o Metro ofereça um produto consistente aos anunciantes. ‘Temos vários mecanismos de controle. É absolutamente importante permanecer neutro, ter a mesma linha editorial em todos os países.’ Como não cobra pela venda, Tornberg argumenta que o Metro não precisa de matérias bombásticas que nos outros jornais serviriam de chamariz para aumentar a circulação.


Tornberg concorda em que o futuro dos jornais pagos é ‘assustador’ e atribui isso às situações de quase monopólio que eles gozaram durante muito tempo. Ele acha que 95% dos jornais pagos sobreviverão, mas explorando nichos, acomodando-se a uma circulação menor e provavelmente aumentando os preços e a exclusividade do que oferecem.


Ele acredita ainda que os jornais pagos são ‘imbatíveis’ quando se trata de fornecer opinião, comentários e análises, mas prevê que os jornais gratuitos substituirão as edições de dias de semana dos jornais pagos, deixando para estes apenas os fins de semana.’



TODA MÍDIA


Nelson de Sá


‘Pode comemorar ‘, copyright Folha de S. Paulo, 30/11/05


‘Foi manchete do ‘Jornal da Record’ de Boris Casoy ao ‘Jornal Nacional’ de William Bonner, no dia anterior, com enunciados como ‘miséria caiu 8%’. Mas ontem Lula queria mais, queria ‘bumbo’.


Na manchete da Folha Online, com enunciado semelhante no Globo Online, UOL, Terra, iG e até no Google Notícias, também nos canais de notícias e depois nos telejornais, ‘Política econômica não atrapalha social’.


‘Lula pode comemorar’, dizia Gilberto Dimenstein na home da Folha Online, justificando:


– A julgar por todos os dados disponíveis, pelo menos até o fim do próximo ano esses dados devem melhorar, levando-se em conta crescimento, expansão do Bolsa-Família e a elevação, neste ano, do mínimo em 9%.


Ao que interessa:


– Traduzindo politicamente, Lula terá o que apresentar para tentar a reeleição em 2006.


O blog de Josias de Souza fez avaliação semelhante ao falar da ‘redução da taxa de miséria’:


– Combinando-se esse dado com a retomada do crescimento em 2006, Lula ganha discurso consistente para apresentar em sua campanha reeleitoral. Para desespero do tucanato.


Mais até do que Lula, quem ‘bateu bumbo’ o dia todo foi o ministro Patrus Ananias.


Ele vinha da semana anterior, nos sites Carta Maior e Adital, dizendo que o Bolsa-Família ‘não é assistencialismo’ e sim ‘construção de direitos’.


Ontem foi além, na cobertura on-line, e arredondou ‘três anos consecutivos, no governo do presidente Lula, com a miséria caindo, refletindo nosso acerto’. Lembrou até o Fome Zero, ‘eixo condutor das políticas sociais’ -e, nos intervalos comerciais, a maior bandeira reeleitoral.


TURBULÊNCIA


Sai hoje o que o blog de Fernando Rodrigues anuncia como ‘fundo do poço na perda de prestígio de Palocci’. O IBGE divulga ‘o crescimento (ou a queda) do PIB’.


Mas até aí o ministro andou ganhando fôlego, ontem, com a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico fazendo ‘previsão favorável de crescimento do Brasil a médio prazo’, segundo a agência Dow Jones. Fez mais por Palocci, a OCDE. Listou, como riscos ao crescimento do país, a inflação, a eleição e a crise:


– A turbulência devida a acusações no financiamento de campanha está atrapalhando o calendário legislativo.


A ‘turbulência’ prosseguia ontem, com depoimentos de Palocci e um assessor em transmissão ao vivo por Globo News, Band News e TV Câmara e pelos portais, a ponto de Tutty Vasques sair reclamando, no noblog:


– Fuja. Não perca o seu tempo com essa chatice.


Chatice ou não, lá estava na escalada do ‘JN’, depois.


Sobre OCDE, manchete no ‘Financial Times’ e outros, registre-se ainda a pressão da organização sobre a União Européia, por maior corte no subsídio agrícola. Pressão que o próprio representante europeu, Peter Mandelson, no alemão ‘Berliner Zeitung’, transferiu para a França.


‘BENGALADAS’


Enquanto Palocci surgia beijando criancinha nos telejornais, José Dirceu era agredido nas imagens feitas ontem por Globo (à esq.), Band e TV Câmara. Foi ‘atacado a golpes de bengala’, na manchete irônica do ‘JN’, por ‘idoso nervoso’, no enunciado irônico do Globo Online. Dos blogs aos telejornais, sobrou sarcasmo. Só os algoritmos do Google Notícias deram em manchete que, ‘para Dirceu, agressão reflete clima hostil gerado’ contra ele.


Em campanha 1


Estava na capa do ‘Valor’, ‘Serra e Alckmin disputam a periferia de São Paulo’. E no texto, sobre os presidenciáveis prefeito e governador:


– Além de manter os CEUs, Serra vai construir mais cinco no padrão. Em sete distritos, os CEUs terão como vizinhos a Fábrica de Cultura, o projeto semelhante de Alckmin.


Em campanha 2


Marta Suplicy ressurgiu e se lançou ao governo de SP. Ato contínuo, Aloizio Mercadante deu entrevista à Band:


– O Estado de São Paulo é o mais importante do país. É a locomotiva, tem a melhor base industrial, agrícola, científica, universidades de ponta, pólo de serviços, as comunicações, sistema financeiro. Um Estado espetacular. Me sentiria muito orgulhoso se pudesse exercer a função [de governador].


Operação


Sites no exterior, como o ‘NYT’, mal cobriram. Mas por aqui a Globo bombardeou que ‘Bush citou o combate à entrada de brasileiros como exemplo de sucesso da política contra imigração ilegal’.


É que também foi dia de uma tal Operação América, tirada do nome da novela e realizada pela Polícia Civil e Ministério Público de SP -além, é claro, das câmeras da Globo.’



FSP CONTESTADA


Painel do Leitor, FSP


‘Tesoureiro ‘, copyright Folha de S. Paulo, 29/11/05


‘‘Em relação ao texto ‘Lula busca empresário para vaga de tesoureiro’ (Brasil, 27/11), que cita meu nome como um dos cotados para assumir a função de tesoureiro da campanha de reeleição do presidente Lula, gostaria de prestar os seguintes esclarecimentos: 1. Nunca fui sondado para assumir essa função; 2. Não custava nada o jornalista que fez a reportagem me procurar para checar a veracidade da informação; 3. Mesmo se fosse convidado, não aceitaria, por dois motivos básicos: primeiramente, estou muito feliz com a minha função de presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos, trabalhando naquilo que considero de extrema importância para que o Brasil se transforme num país socialmente justo, economicamente próspero e ambientalmente sustentável, ou seja, a promoção da responsabilidade social empresarial. Em segundo lugar, tenho me manifestado em artigos, palestras e entrevistas a favor do financiamento público de campanhas. Considero o financiamento privado um câncer da democracia e um grande responsável por nossa péssima distribuição de renda, pois ele torna a competição desigual entre os candidatos, favorecendo aqueles de maior patrimônio e com acesso a recursos empresariais, e compromete os eleitos com interesses privados, e não com o interesse público.’ Oded Grajew, presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos (São Paulo, SP)’



***


‘BNDES ‘, copyright Folha de S. Paulo, 30/11/05


‘A propósito da reportagem ‘Friboi assume cartel e ilegalidade no BNDES’ (Dinheiro, 27/11), em que é denunciado um suposto ‘contrato de gaveta’, o texto deixou de registrar que o repórter da Folha, em entrevista gravada com técnicos do banco, foi informado de que se trata de um contrato regular, celebrado em 2001, registrado em cartório e com validade reconhecida pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso em 2004. Foi até fornecida uma cópia dessa decisão judicial ao repórter, que omitiu a importante informação e preferiu optar por um texto que induzia à existência de um ‘contrato de gaveta’ no BNDES, fortalecendo denúncia sem qualquer procedência.’ Carlos Newton, assessoria de imprensa do BNDES (Rio de janeiro, RJ)


Reposta dos jornalistas Mauro Zafalon e Fernando Canzian – O termo ‘contrato de gaveta’ foi usado por um dos sócios do Friboi. A reportagem deixa claro que o BNDES negou a prática. O banco reconheceu, porém, em entrevista gravada, que cometeu ao menos dois erros na operação e afirma que o contrato em questão ‘não está no sistema [do banco]. É manual’.’



HQ


Marco Aurélio Canônico


‘Tintim e suas aventuras voltam ao Brasil ‘, copyright Folha de S. Paulo, 30/11/05


‘Em janeiro de 1929, um repórter começou a se destacar nas páginas do ‘Le Petit Vingtième’, o suplemento infantil do jornal belga ‘Le Vingtième Siècle’ (o século 20). Curiosamente, ele não era autor de textos, mas personagem.


Hoje, 76 anos depois, o (ainda) jovem Tintim, criação de Georges Rémi, vulgo Hergé, já tem fama universal e uma legião de fãs de várias gerações, conquistada graças à série de 24 aventuras traduzidas em mais de 45 línguas -além de uma infinidade de produtos associados, como desenhos animados para a TV e para o cinema, séries de rádio etc.


O relançamento, pela Companhia das Letras, das aventuras do personagem de Hergé -acompanhado de seu fiel e inseparável cão, Milu- é a chance de uma nova geração de leitores brasileiros conhecerem, agora em todas as 24 aventuras, este clássico que ficou sem edição em português do Brasil por décadas -foi lançado na década de 1970 pela Record, que publicou apenas nove livros, e, mais recentemente, importado de Portugal pela editora Verbo.


Prometido pela editora para o ano passado, quando o personagem completou 75 anos, o primeiro bloco de aventuras foi lançado só neste mês, trazendo quatro livros – ‘Os Charutos do Faraó’, ‘O Lótus Azul’, ‘O Ídolo Roubado’ e ‘A Ilha Negra’- com preço unitário de R$ 33. As próximas aventuras, segundo a editora, serão lançadas a partir de junho de 2006, duas edições por mês.


O formato (22 cm x 29,5 cm) é um pouco maior do que o da edição da Record, e a nova tradução, a cargo de Eduardo Brandão, moderniza o texto, deixando-o mais acessível ao leitor de hoje, mas retirando um pouco do charme que a formalidade das traduções anteriores conferia à série.


Histórico


Hergé criou Tintim baseado em seu personagem Totor, um escoteiro, cujas aventuras foram publicadas entre 1926 e 1929. A primeira história do jovem repórter, ‘Tintim no País dos Soviéticos’, trazia as características que marcariam boa parte da série: as visitas aventureiras a países estrangeiros, o testemunho de fatos históricos e a série de estereótipos usadas para caracterizar os personagens ‘exóticos’, como russos, sul-americanos e africanos.


Os desenhos limpos, mas expressivos, de Hergé são um dos destaques da série, assim como a série de personagens carismáticos -o cãozinho Milu, o capitão bom de copo Haddock, os detetives Dupont e Dupond etc.


As tramas mirabolantes são bem-humoradas e alternam histórias policiais, de ficção e de aventura, além de referências culturais e históricas, disfarçadas em países fictícios. Ao longo dos 24 álbuns da série, Tintim passa pela segunda Guerra Sino-Japonesa, pela Guerra do Chaco, pela Revolução Russa, pela América de Al Capone e até antecipa a primeira viagem do homem à Lua.


Principalmente nas primeiras aventuras do personagem, é nítido o racismo e teor imperialista que derivam da visão etnocentrista de Hergé -figura controversa, acusada de simpatia pelo fascismo e pelo nazismo por sua colaboração com o ‘Le Vingtième Siècle’, jornal anticomunista editado por um admirador de Mussolini, e com o ‘Le Soir’, uma das poucas publicações da Bélgica que não foram fechadas durante a ocupação alemã, na Segunda Guerra Mundial.


Essa visão estereotipada sofre uma mudança considerável a partir da aventura chinesa de ‘O Lótus Azul’, publicada entre 1934 e 1935. O autor começaria aí a fazer pesquisas extensivas antes de retratar culturas estrangeiras. Muitos dos álbuns originais -como ‘A Ilha Negra’- seriam alterados por Hergé em novas edições, a pedido dos editores.’



INCLUSÃO DIGITAL


Cristina Padiglione


‘Brasil bate vizinhos na exclusão ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 29/11/05


‘Embora ainda seja um dos países com pior penetração – em termos porcentuais – de TV paga da América Latina, o Brasil detém, nesta mesma vizinhança, a mais alta taxa de concentração de ricos entre aqueles que pagam para ver TV. Aqui, as classes A e B respondem por 82,5% dos assinantes.


O dado é um dos resultados de estudo inédito encomendado pela Lamac, associação composta pelos 30 maiores canais de TV paga da América Latina, à Ipsos Marplan.


Divulgado ontem, o resultado foi antecipado pelo boletim online da Pay TV News.


A maioria dos pagantes pertence às classes mais favorecidas, mas ainda é gritante a fatia de abastados que essa indústria não conseguiu seduzir. Apenas 38,6% do time A/B paga para ver TV no País . Quer dizer, essa é a média nacional. Quando se fala apenas de São Paulo, esse índice sobe para 46,8%.


São números que só reforçam a exclusão da classe C desse banquete. Elementar: para que correr o risco de baratear custos se metade do grupo mais rico sequer caiu nessa rede de gordas mensalidades? Sim, a pirataria, bem entendido, não está somada nesses dados e TV a gato, como se diz, é serviço presente em qualquer nível social.


Mas há de se considerar que nos últimos dois anos, o setor também tem festejado crescimento sobre aquela fatia que já era sua freguesa, injetando ofertas de pontos extras, banda larga e pay-per-view.


Segundo a Lamac, a pesquisa da vez adota uma metodologia nova, a vídeo-etnografia, que distingue hábitos de comportamento e consumo, entre outras preferências do telespectador.


Os dados serão agora cuidadosamente explorados pelo grupo junto ao mercado publicitário. E dá-lhe intervalo comercial.’