Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

OI no rádio, lições ou patrulhamento?

A rádio Cultura FM, até onde sei, é uma emissora ‘pública’, do governo do estado de São Paulo, embora seu alcance se limite à capital e, com alguma dificuldade, municípios bem próximos. Como ouvinte-contribuinte da Cultura FM, paulista e paulistana, leitora diária do Estadão, ‘desde os tempos mais primórdios’, me sinto muito incomodada com um programa dessa emissora chamado Observatório da Imprensa – que se pretende um formador do senso crítico dos ouvintes que, ao ouvi-lo, NUNCA MAIS (sic) lerão jornal do mesmo jeito.


Quando houve a mudança da direção da Fundação Padre Anchieta, pensei que os exageros cometidos pelo caminhante, que passou pela FM, fossem ajustados e acabariam também as impressões de nepotismo e fisiologismo, ação entre amigos… Mas percebo a emissora, ainda, com muitos grãos de trigo de kibe espalhados, estrelas vermelhas sem firmamento, aves sem galhos, talvez alguns demos… Ora, eu não quero mudar meu jeito de ler jornal, nem de ler revistas, assim como não vou escolher livros nem os ler só porque críticos recomendam ou não. Muito menos ler do ‘jeito’ desse programa.


Assim como todos os mortais, eles também cometem suas falhas e repetem clichês, como falar sobre ‘o sistema’, ou que os leitores ‘ensaiam uma compreensão’ (modo sutil de nos chamar de tapados?), ou, ainda, referem-se sarcasticamente à ‘certa revista’ – que na minha ignorância, suponho que seja a Veja. Muitas vezes afirmam que os jornais ou revistas estão ‘enganando os leitores’ (sic), ou de não ‘fazerem jornalismo’! E no dia seguinte, quando os comentários estão mais que requentados! Ao contrário dos jornais, que exigem trabalho e publicação diárias, esse OI descansa nos finais de semana e feriados (felizmente meus ouvidos são poupados!) e chega ao cúmulo de criticar o ‘atraso’ em noticiar da imprensa!


Se eu fosse jornalista, entenderia isso como patrulhamento ou, na linguagem de quem deve ser um guru para o OI, de estarem ‘metendo o nariz’ onde não foram convidados. Mas, como sou um leitora de 21 anos de escolaridade (do pré-primário ao mestrado, sem nenhuma reprovação ou sem progressão continuada), e uns anos mais como cidadã-contribuinte, gostaria de manifestar minha insatisfação. E de sugerir que a emissora gastasse a verba destinada a esse programa – e outro que é sempre (de)mais – com algum sobre literatura, ou, seguindo uma das lições desse mesmo OI, com ‘mais informação e menos opinião’. Ou na contratação de jornalistas do porte da Dora Kramer, Daniel Piza, Mauro Chaves… Talvez na comercialização subsidiada para os aposentados com mais de 3 mínimos (e longe do teto) dos produtos culturais de preços proibitivos para essa faixa de renda, como os eventos da Sala São Paulo, edição de publicações, CDs e DVDs de música erudita, dança; ou, para a volta na TV Cultura de um programa como o velho e bom Energia, ou na FM, do Roberto D´Ugo Jr., do Dante Pignatari….


Quanto aos jornalistas idealizadores e apresentadores do OI, acredito que encontrarão muitas oportunidades de levarem suas ‘lições’ e expertise para um jornal do MST, do PT, da CUT, ABIN, ou talvez uma assessoria de comunicação ou de imprensa do governo federal (atual), para o Granma (antes que acabe)… Economizem minha parte também com a apresentação do programa daquele que é ‘sempre (de)mais’…


E ainda, pergunto: na emissora PÚBLICA, em tempos republicanos e democráticos, quem escolhe – e com quais critérios – os representantes do ouvinte? Isso não deveria ser feito de forma bem transparente e com a participação dos representados? Nunca me senti representada, até porque se não tivesse acesso à internet para buscar essa informação (e só nomes, né?), nunca li nem ouvi nada a respeito. Se a rádio é nossa, por onde podemos entrar?


Como o assunto trata de duas instituições que muito prezo (para usar o estilo sempre mais), resolvi enviar o e-mail para as duas. Obrigada por sua atenção


 


Luciano Martins Costa responde


Cara senhora Márcia, em seus 21 anos de escolaridade a senhora provavelmente se submeteu ao desafio do contraditório, ao escrutínio dos opostos e ao senso crítico dos diferentes. Certamente tais desconfortos – que para alguns, ao contrário, representam a alegria do aprendizado – emprestam valor ao conhecimento que lhe renderam esses anos de estudo.


Assim acontece com os profissionais da imprensa, com a diferença que eles enfrentam a banca examinadora a cada trabalho, a cada manifestação profissional. Eles sabem que realizam um labor de interesse coletivo e, como tal, sujeito à crítica pública. O Observatório da Imprensa organiza parte dessa crítica, de forma democrática e aberta a todos os possíveis olhares sobre o trabalho da imprensa. As manifestações dos observadores são divulgadas pela internet, pelo rádio e pela televisão.


Assim como todos os mortais, os observadores cometem falhas, por que não? E sempre as corrigem, quando advertidos. Eles se habilitam à observação depois de muitos anos de escolaridade, nas escolas e no exercício profissional. Não oferecem lições nem propõem o patrulhamento ideológico da mídia. Apenas expõem sua visão crítica, formada no fazer jornalismo, ajudando a imprensa a enxergar suas qualidades e suas carências, e mostrando ao leitor, ouvinte, telespectador e internauta que é preciso estar vigilante quanto à informação selecionada pela mídia.


Imagine como seria tedioso se todos fossem forçados a pensar como a senhora. Ou como eu. Ou se fôssemos todos obrigados a apreciar os colunistas, articulistas e comediantes da mídia que são do seu agrado. Em tempos republicanos e democráticos é assim que funciona. Procure ouvir ou assistir ao Observatório como quem está na banca, também analisando a imprensa. A senhora certamente nunca mais vai ler jornal do mesmo jeito. Saudações democráticas. (L.M.C.)


***


O que acha este Observatório sobre a cobertura ‘jornalística’ do caos no trânsito de São Paulo? Penso que a Folha juntamente com o resto da mídia blinda não só o governador José Serra, mas também o prefeito Gilberto Kassab. Aliás, blinda tudo que vem da coligação tucano-pefelê. Chega a ser divertido ver a cobertura dos quilométricos e diários engarrafamentos de São Paulo feita pela Globo. Todos sorridentes como se estivessem falando de algo muito natural e alheio a qualquer ação da prefeitura e do governo do estado. Geralmente olham ‘de cima’, do helicóptero. Comentam bobagens e mais bobagens e se limitam a falar dos recordes seguidos de quilômetros de carros enfileirados. Mencionar o prefeito e o governador, nem pensar!


O que eles pensam sobre isso? O que estariam pensando para resolver a questão do transporte público? Não é com eles! Jornalismo assim é de se esperar que siga perdendo credibilidade. Vêem a todos nós como idiotas. Precisamos encher a caixa postal desses irresponsáveis do PIG para, pelo menos, perceberem que não estão passando despercebidos em sua total ausência de interesse público e respeito pela cidadania. Se quiserem continuar fazendo política, que continuem, mas sabendo que estão nus. (Damir Ferrere, bancária, Brasília, DF)


***


Na pesquisa CUFA/IBPS sobre a vida nas favelas do Rio de Janeiro, publicada no domingo (23/3) no jornal O Globo, há um dado preocupante sobre a cobertura da imprensa: 65,4% dos favelados acham que a cobertura que a imprensa faz dos acontecimentos na favela é sensacionalista (faz uso de preconceitos e distorce os fatos). Acho que esse dado merece uma discussão. O relatório completo está disponível aqui. (Geraldo Tadeu Moreira Monteiro, professor, Rio de Janeiro, RJ)


***


É o fim da TV. É o fim da cultura brasileira. A boa da semana foi ver Pedro Bial dizer que o ‘BBB é tão cultura quanto Guimarães Rosa’, em entrevista à revista Quem. Guimarães Rosa, como ele bem disse, é digno de tal respeito, mas o BBB… O que se tem de interessante nesse programa? Ver pessoas brigando, de biquíni, concorrendo a prêmios, submetendo-se às provas de resistência? Que tipo de embasamento cultural se ganha ao acompanhar os ‘paredões’?


É triste ver que um jornalista respeitado se submeter a um programa tão baixo – e, pior: deixar escapar uma declaração dessas. Isso compromete sua reputação. (Hans Misfeldt, estudante de jornalismo, São Paulo, SP)


***


Quando os fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus se revoltaram com as matérias da Folha de S.Paulo e foram à justiça numa ação orquestrada pela igreja, a mídia e este Observatório se manifestaram com firmeza repudiando as referidas ações, algo como ‘litigância de má fé’. Pesquisando no Tribunal de Justiça de São Paulo, verifiquei que o Grupo Abril e dois funcionários da revista Veja estão movendo ações contra o jornalista Luis Nassif, por conta de opiniões que ele tem sobre a linha da revista, publicadas em seu blog. Eles têm direito de mover as ações (apesar de achar que os fiéis da IURD também tinham), mas a mídia e este OI se calarem sobre isto eu não entendo. Não diz o ditado que roupa suja se lava em casa? Não são todos jornalistas? Por que um processar o outro? Por que não se defendem através da revista ou dos blogs? (Rigoberto Borges, poeta, Taguatinga, DF)


***


Qual a opinião dos senhores sobre os constantes ataques movidos pela Rede Record contra a Rede Globo? E não só a Rede Globo é atacada, Jornais como a Folha de S.Paulo e seus jornalistas também são vitimas destes ataques. Estamos caminhando para uma guerra religiosa promovida por diferenças religiosas? Estamos caminhando para a intolerância? (Luiz Tadeu Constantino, representante comercial, São Paulo, SP)

******

De São Paulo, SP