Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Nossa dor sai no jornal

(Foto: Divulgação)

A cerimônia de entrega do 41º Prêmio Vladimir Herzog, em 24 de outubro, no teatro Tucarena da PUC-SP, contraria a frase de Chico Buarque destacando reportagens, fotos, áudios, arte, podcasts, vídeos e multimídia em matérias que expõem, sem filtro, feridas, cicatrizes, a dor e a verdade da nação. Para justificar a premiação de 2019, os primeiros homenageados foram jornalistas que viveram de peito aberto escrachando feridas e que nos permitiram chegar até aqui: Alberto Dines, Claudio Abramo, José Hamilton Ribeiro, Fernando Pacheco Jordão, Herminio Sacchetta e o próprio Vladimir Herzog. Desta vez, os que chacoalharam o noticiário foram Patrícia Campos Mello, deflagrando na Folha de S.Paulo o escândalo das mensagens disparadas por WhatsApp na campanha que elegeu Jair Bolsonaro, e Glenn Greenwald, expondo no The Intercept Brasil o conteúdo vazado dos aplicativos entre procuradores de Justiça e juízes envolvidos na Lava Jato. O mestre de cerimônia foi Juca Kfouri e o discurso de abertura, do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, dissidente de Bolsonaro, que o ameaçou ao contestar as razões do desaparecimento político de seu pai, Fernando Santa Cruz, aos 26 anos de idade.

O vencedor no quesito produção jornalística em texto foi Antônio Melquíades Júnior com a série publicada no Diário do Nordeste, de Fortaleza: “Matança da PM em Milagres e a invenção da resistência”. A menção honrosa foi para a revista piauí na reportagem de Bernardo Esteves, “O meio ambiente como estorvo”. Só pelos títulos, dá para detectar a dor do Brasil na foto vencedora do El País, de Fábio Alarico Teixeira, “Exército detém dez militares ligados a assassinato de músico no Rio”. Ou na menção honrosa da produção jornalística em áudio, “Chico Mendes, a voz que não cala”, no Brasil de Fato, por Sarah Fernandes e Danilo Ramos. E, na produção multimídia, “Sem direitos: o rosto da exclusão social no Brasil”, do Projeto #Colabora, Amazônia Brasil e Ponte Jornalismo.

A entrega dos prêmios aconteceu em 24 de outubro. No dia seguinte, o assassinato de Vlado no DOI-Codi, depois de ter se apresentado lá pela manhã, completaria 44 anos. O prêmio lava a alma de Vlado e de todos os jornalistas. No final, 33 estudantes de jornalismo vestem camisetas brancas, cada uma com uma letra impressa e, ao girarem em círculo de mãos dadas, completam a frase “Liberdade, abre as asas sobre nós”.

***

Norma Couri é jornalista.