EspÃrito crÃtico é a base do bom e velho jornalismo, em todas as áreas, em todos os momentos, um compromisso que todo jornalista deve assumir, todos os dias, com si próprio. Bajulação, manipulação e endeusamento do personagem da notÃcia é um desserviço prestado à sociedade, razão de ser do trabalho de cada jornalista.
E quais são as práticas correntes no jornalismo brasileiro da atualidade, particularmente no esportivo, objeto de análise deste texto? O quadro que vejo é desolador. Generalizada quebra de compromisso da imprensa esportiva brasileira em relação aos mais elementares princÃpios do jornalismo. Sim, mesmo com todas as transformações vivenciadas pela nossa mÃdia, certos pilares nunca deveriam ser rompidos, sob pena de fraudarmos os nossos receptadores.
De imediato me vem à mente o tratamento dispensado pela mÃdia brasileira ao jogador Ronaldinho, um jovem atleta que conseguiu realizar o sonho dourado de todo garoto pobre brasileiro. Famoso, rico, bajulado, Ronaldinho, tal qual um bezerro de ouro, é hoje objeto de idolatria, um fenômeno produzido pela nossa imprensa.
É claro que ele é um bom jogador. Mas é só isso. Nada justifica a histeria formada em torno de sua figura, hoje superexposta, o que causa repugnância à quelas pessoas que exigem – e com todo o direito – um pouco mais de isenção jornalÃstica.
Vide o episódio Ayrton Senna. Ãdolo nacional, mito, a sua memória foi desrespeitada logo após a sua morte com toda a sorte de manipulação promovida por parte da nossa mÃdia. É doloroso constatar que até uma “viúva”, Adriane Galisteu, hoje tornou-se uma pessoa rica e famosa à s custas da memória do falecido namorado, evidentemente impulsionada por grandes esquemas publicitários/comerciais.
A mesma imprensa que hoje idolatra e bajula o tenista Gustavo Kuerten, Guga, há dois meses o ignorava solenemente. Torço para que esse jovem tenista consiga criar uma barreira que o permita prosseguir, tudo indica, com sua vitoriosa carreira.
Se quisermos estabelecer de fato uma democracia sólida neste paÃs, é necessário que a imprensa cumpra a sua parte, notadamente a esportiva. E pautas para grandes coberturas temos à s mancheias. Que tal investigarmos os porões da CBF e, particularmente, o seu todo-poderoso presidente, Ricardo Teixeira? Por que João Havelange, presidente da Fifa, reagiu com tanta veemência ao projeto de modernização do futebol brasileiro, patrocinado pelo ministro Pelé? Como pode um paÃs que respira futebol, com tantos bons jogadores, ter clubes à beira da falência, com honrosas exceções?
Posto esse quadro, a mÃdia esportiva brasileira está diante de um desafio: ou mobiliza suas energias para efetivamente produzir jornalismo ou irá se descaracterizar servindo de “inocente útil” ao marketing, virando as costas para a sociedade.