Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Todos contra a censura

MONITOR DA IMPRENSA

RÚSSIA

Uma semana depois da manifestação que reuniu cerca de 10 mil russos em Moscou, para protestar contra o possível fechamento da rede independente NTV, jornalistas lideraram outro movimento nas ruas, no dia 7 de abril. Segundo Michael Wines [The New York Times, 7/4/01], eles diziam à multidão que suas vozes eram a única esperança da sobrevivência da emissora.

Jornalistas e políticos de oposição denunciaram o governo por permitir a tomada de poder da rede pela gigante estatal de gás natural russa, a Gazprom. Um correspondente disse ao público que eles se recusariam a tornar-se ferramentas do Estado.

Advogados da empresa têm perseguido a Media Most, proprietária da NTV, e seu dono, o magnata Vladimir Gusinsky, sob a acusação de má administração dos 46% que a estatal detém da companhia. Gusinsky, que já esteve preso, está na Espanha desde o ano passado respondendo a um processo de extradição, que alega ser motivado apenas pelo caráter crítico de seu jornalismo ao governo russo.

A Gazprom, que tem 38% de suas ações nas mãos do governo, destituiu a comissão de diretores da NTV e instalou uma nova administração no dia 3 de abril, mas os jornalistas se recusaram a aceitá-la. Uma paralisação de cinco dias ainda está por vir.

A estatal garantiu que não irá interferir no trabalho dos jornalistas ou na liberdade de expressão da rede, mas recusou a escolha dos repórteres de Kiselyov, um amargo crítico da Gazprom, como editor chefe.

Turner tenta encarar Gazprom

Conversas entre a Gazprom e um grupo de investidores liderados por Ted Turner, fundador da norte-americana CNN, sobre compra de parte da NTV parecem ter batido a testa em um obstáculo.

Turner e seu grupo, de acordo com Sabrina Taversine [The New York Times, 12/4/01], fecharam acordo na semana retrasada de comprar 30% da emissora independente. Agora, Turner tenta persuadir a Gazprom a aprovar o acordo e liberar Gusinsky de seus débitos.

Alfred Kokh, executivo de mídia da companhia de gás natural, disse no dia 11 de abril que não aceitarão a proposta em sua forma corrente. Segundo ele, Turner está oferecendo muito pouco dinheiro e se recusou a apoiar a Gazprom na administração anterior.

GESTÃO BUSH

Que o presidente norte-americano George W. Bush é chato, até seus assessores concordam. Na política, isso provavelmente é vantagem. Para a mídia, no entanto, é um ponto negativo de primeira ordem.

Muitos jornalistas entenderam que a gestão Bush é contra a produção de fogos de artifício, como a dos escandalosos anos de Clinton. Mas surpreenderam-se com a forma de o novo presidente privar-se de se inserir em qualquer controvérsia que encontre pelo caminho, de acordo com Howard Kurtz [The Washington Post, 9/4/01]. Resultado: Bush recebeu metade da cobertura dos telejornais de horário nobre que Clinton nos primeiros 50 dias de gestão.

Mark McKinnon, conselheiro informal de Bush, diz que os dados não brotaram do nada. "Quando se comenta tudo, nada do que se diz é sustentado. Quando as pessoas vêem o presidente Bush na TV, sabem que se trata de um assunto importante. Menos exposição traz maior impacto."

Robert Lichter, diretor de um centro de estudos de mídia, afirmou que a tática de Bush está funcionando. "A uma altura dessas, acho que o público agradece um presidente que produz menos notícias", disse. "Tivemos escândalo após escândalo e a eleição que não acabava nunca. Agora, o país quer apenas tirar férias de política."

Algumas vezes eventos internacionais se intrometem, claro, mas até mesmo discursos públicos de Bush sobre o impasse com a China foram raros e resumidos. A característica fez com que o colunista Ron Brownstein, do Los Angeles Times, desse-lhe o apelido de "presidente A4" ? querendo dizer que ele nunca está na capa dos jornais, apenas na quarta página do primeiro caderno, quando muito.

"Apesar do velho preconceito liberal, esse republicano está se saindo bem melhor que muitos democratas", afirmou Lichter. Mas e se faltar certa vitalidade ao presidente? "É duro manter o patamar de empolgação de nosso predecessor", disse Mary Matalin, conselheira da Casa Branca. "Tal nível de empolgação pode ser bom para a imprensa, mas não para o país". Claro, claro ? o país?

PRONUNCIAMENTO

A renúncia ao cargo de editor do jornal San Jose Mercury News, no dia 19 de março, foi apenas a primeira demonstração pública do afro-americano Jay T. Harris contra a "tirania dos mercados", em suas próprias palavras. Harris discursou para 200 pessoas, no encontro anual da Sociedade Americana de Editores de Jornais (Asne), pedindo atenção à causa. Ele pediu demissão por considerar inatingíveis, sem perda de qualidade, as metas de lucro ? 22% ? exigidas pela a Knight Ridder, empresa proprietária da publicação.

No encontro, dia 7 de abril, em Washington, Harris pediu que os jornais não coloquem os interesses dos investidores à frente dos leitores, contou Felicity Barringer [The New York Times, 7/4/01]. Ovacionado inclusive por executivos da Knight Ridder, o jornalista quase chegou à condição de herói, segundo Howard Kurtz [The Washington Post, 7/4/01].

Falando em tom moderado, Harris revelou que o que mais o incomodara na reunião final com os executivos da empresa sobre o orçamento do jornal foi o fato de só terem falado em números. "Ninguém prestou atenção ao que a tentativa de obtê-los poderia causar", disse, comparando a decisão da Knight Ridder a um suicídio.

O novo editor do Mercury News, Jerry Ceppos, declarou que a companhia ainda pratica jornalismo de altíssima qualidade. As ameaças de demissão ainda não se concretizaram, mas a revista de domingo do jornal já foi extinta. John Morton, presidente de uma empresa de pesquisas, disse ao Times que diante da mais do que visível queda de demanda em Wall Street, a única saída é cortar custos. "E como a mão-de-obra representa 50% ou mais dos gatos, isso se traduz em demissões", disse Morton.

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