Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Viva a mídia alternativa

INTERNET PARA EXCLUÍDOS

Luis Fernando Rocha (*)

Mês de junho, ano 2000, quinto período de Jornalismo na Facha, Rio de Janeiro. Idéias e fatos fervem no Rio 40? graus. A internet é o meio da moda. Quatro amigos resolvem lançar então suas idéias e ideais pela internet. É criada a revista eletrônica quinzenal C@iu na Rede <www.cnrede.hpg.com.br>, "destinada a todos que não se satisfazem com o óbvio, trazendo reflexão, humor e ironia em linguagem simples e objetiva".

A odisséia desses estudantes terminaria sete edições, muitos textos, entrevistas e discussões depois. Sentimento de missão cumprida ou incompetência? Bom, seria fácil rotular situações, mas a maior lição foi a atitude de construção e pensamento, coisa que pouco fazemos e deveríamos fazer mais nas faculdades de Comunicação do Brasil.

Na verdade, aqueles estudantes estavam buscando uma nova identidade, diferente do modelo proposto aos novos profissionais que ingressam no mercado da comunicação. Alguns pensaram, e decerto outros pensarão lendo este texto, que tudo não passou de inconformismo juvenil. Pode até ser. Mas a idéia principal era essa. Amada ou odiada, a revista fomentaria o debate entre os leitores.

A revista foi dividida em seções (Calúnia Social, Cultura, Cotidiano, Esportes), e teria sempre uma entrevista mensal. A estréia teve logo de cara uma entrevista com o "verborrágico" Lobão, que na época lançava o disco A vida é doce, marco do alternativo na MPB. Os textos produzidos continham humor e indignação com a realidade do país. A idéia dessas entrevistas era trazer sempre uma personalidade de cada área para refletir, dizer tudo que não poderia dizer nos grandes veículos de comunicação. A fórmula deu certo. Tivemos retorno.

Velhas práticas, novas referências

O site contava ainda com charges, fotos e fotomontagens. Havia também os personagens, como o enviado especial José de Belém e o "calunista" social Pepi Mello Carvalho Prado (uma paródia à febre de revistas, programas de fofocas e colunistas sociais que surgem como epidemias de dengue). A fórmula deu certo. Tivemos retorno.

Então, o que deu errado? Faltou definir uma linguagem específica para os textos e a linha editorial. Esses fatores causaram divergências e brigas entre os idealizadores do site. Assim, quatro meses após o lançamento, o C@iu na Rede terminaria.

Frustração e sentimento de perda? Um pouco, é verdade. Mas o orgulho é ver que a semente da mídia alternativa no meio universitário não pára de crescer. São os Fibiotônicos <www.fibiotonicos.com.br> da Bahia, é o E-Phoca da UFRJ <www.eco.ufrj.br/ephoca>, são os Jornalistas Estudantes <www.jornalistasestudantes.hpg.ig.com.br/index.htm> e tantos outros. C@iu na Rede fracassou, mas a guerra não foi perdida.

A internet nos pertence, caro estudante. O jornalismo vive uma nova era, a porta e os portais estão aí. Vamos criar, nós, os jornalistas excluídos, a nossa linguagem, as nossas referências. Embora os espaços nos jornais e televisões estejam fechados para nós que somos jovens (saudosa Elis Regina), a web permitirá que criemos novos conceitos.

Lembram-se do Dogma 95, dos cineastas dinamarqueses Lars von Trier e Thomas Vinterberg, e do Dogma 1,99, do diretor e roteirista gaúcho Allan Sieber, que recuperaram formas esquecidas de criação para a sétima arte?

Lanço, então, o Dogma 2002 da Comunicação Social:


1)Cada centro universitário de Comunicação Social, do Oiapoque ao Chuí, criará sua revista eletrônica para fomentar novos conceitos de jornalismo.

2)Cada equipe editorial contará com 15 estudantes, que serão divididos nas diversas funções que uma produção editorial exige: editores, repórteres, diagramadores, pauteiros, revisores, publicidade e administrativo.

3) Recomenda-se revezamento de cargos, pelo qual cada estudante "aprenderá na prática" o que se produz em cada função;

4)Formular documento sobre os objetivos do projeto para ser entregue à coordenadoria da universidade;

5) Buscar apoio de professores para a supervisão do projeto. Além de ajudar na concepção da teoria do projeto, esses profissionais terão função de ombudsman na publicação;

6) A reunião de pauta deve ser a chave principal para o sucesso da revista. Assim, deverão ser realizados encontros periódicos entre os participantes do projeto.

7) Os textos seguirão as normas básicas do bom jornalismo (uso do lide, rigor na apuração, rigor na revisão etc.). No entanto, é altamente recomendado o uso da experimentação, pois o jornalismo online ainda não conta com um modelo definido para atrair os leitores;

8) A revista terá um canal para sugestões e críticas dos leitores. O conteúdo deste canal servirá como base para traçar os rumos editoriais da revista;

9)É proibido usar o recurso "control+c / control+v" para gerar novas matérias. Quando utilizar um texto existente, citar os créditos do autor;

10)Viva a mídia alternativa!


(*) Jornalista, escreve para o site <www.imprensamarrom.com.br>; críticas e sugestões sobre o Dogma 2002 para o e-mail <luisf@rochapereira.com.br>