Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

>>Furada geral na imprensa
>>A rede Chavez de notícias

Furada geral na imprensa

Na noite desta quarta-feira, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já estava sendo encaminhado às pressas para um hospital de Recife, as edições online dos principais jornais da região Sudeste ainda publicavam declarações que ele havia feito durante o jantar com o governador de Pernambuco e outros políticos.


A primeira informação sobre o mal-estar sofrido pelo presidente, por volta das 21 horas, só foi noticiada depois das 2h00 da madrugada, primeiro no portal do Estado de S.Paulo e logo depois no Globo online.


O leitor da edição digital da Folha de S.Paulo só teve acesso à notícia uma hora depois, em reprodução do que foi publicado no portal G1, do grupo Globo. 


Tudo indica que, quando viram a comitiva presidencial embarcar no avião, os repórteres consideraram encerrado o dia de trabalho.


Só que o avião não decolou, e poucos minutos depois das 21 horas o presidente era levado a um hospital de Recife.


No mesmo período, as redações preparavam o material sobre a viagem do presidente a Davos, na Suíça, onde deveria receber o prêmio “Estadista Global”, criado para comemorar os 40 anos do Fórum Econômico Mundial.

O episódio é mais uma indicação de que não basta o desenvolvimento de tecnologias para que o jornalismo possa cumprir sua promessa de informações “em tempo real”.


Se a crise de hipertensão sofrida pelo presidente fosse um episódio mais grave, o Brasil amanheceria completamente desinformado.


Pela manhã, as edições de papel dos principais jornais não traziam qualquer referência ao episódio, apesar de todo o aparato de jornalistas que costuma acompanhar as viagens presidenciais.


Aparentemente, a primeira versão da crise sofrida pelo presidente foi publicada pelo blog do jornalista Jamildo Melo, do Jornal do Commercio de Recife, logo depois da meia-noite.


Quarenta minutos depois, o tuiteiro @fabriciovas, da Argentina, reproduzia a informação.


Pelo visto, a chamada grande imprensa tomou uma furada geral. 


A rede Chavez de notícias

Luiz Egypto, editor do Obervatório da Imprensa:


– Mais um quiproquó entre o presidente Hugo Chávez e a mídia venezuelana. Desta vez a truculência chavista emparedou seis emissoras de TV por assinatura, entre elas a RCTV, este um canal oposicionista cuja concessão em sinal aberto não foi renovada ano passado pelo governo – daí sua opção por transmitir via cabo.


A verdade é que não há inocentes nessa história. O debate está radicalizado, há mortes nas ruas, a Venezuela é hoje um país dividido.


A mídia oposicionista pega pesado, foi cúmplice de uma tentativa de golpe de Estado em 2002, e o governo, que não deixa barato, responde sempre uma oitava acima. Com maioria folgada no Parlamento, aprovou, em 2004. uma de Lei de Responsabilidade Social em Rádio e TV e nela embutiu, no final do ano passado, um decreto segundo o qual as emissoras a cabo passaram a submeter-se às mesmas regras daquela legislação.


E onde foi que o caldo entornou? Essas emissoras agora são obrigadas a formar as cadeias de radiodifusão convocadas pelo governo, no mais das vezes para transmitir discursos do presidente Chávez. Quem não obedecer está sujeito a penas de multa e “suspensão administrativa”. De acordo com a ONG Human Rights Watch, citada ontem [quarta, 27/1] pela Folha de S.Paulo, em 2009, foram 141 discursos – um deles com 7 horas e 34 minutos de duração.


A organização Repórteres Sem Fronteiras monitorou a formação dessas cadeias governamentais de radiodifusão e contou, em 2008, 154 episódios desse tipo, nos quais o presidente Chávez usou 190 horas de falação – o que equivale a oito dias inteiros de palavrório.


Registre-se: há quem goste dessas longas perorações. Registre-se também: agride o espírito democrático o apetite com que o presidente se lança ao projeto de controle absoluto do espaço midiático. Ano passado, Chávez fechou 34 veículos audiovisuais e confiscou 29 frequências. Nos emissoras estatais, é o presidente no céu e deus na terra, nesta ordem. O contraditório ali não existe.


O que será da Venezuela?