Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Alarme falso

A manchete da Folha Online dizia que a apresentadora Fátima Bernardes estaria comentando que seu salário na Globo “tá exagerado”. Logo, o internauta que adentrou o site à procura de mais informações, já tinha na cabeça que a matéria falaria sobre o exagero dos rendimentos da comandante do matinal Encontro. Mas não era bem isso. A pergunta que continha a declaração citada no título era sobre as especulações que as pessoas fazem acerca do salário dela, insinuando que ele chega a R$ 5 milhões. Diante disso, Fátima comentou que prefere não falar de valores de cachês com ninguém, pois considera algo muito pessoal. E, aí, sim, retrucou: “As pessoas exageram.” Deu para notar a diferença entre o conteúdo anunciado e o que, de fato, a entrevistada declarou?

Outro dia, no portal G1, a manchete alardeava que a neta da compositora de “Parabéns a Você” se negava a cantar a música nos aniversários a que comparecia porque as pessoas sempre cantavam a letra errado. Parecia até que o leitor estava prestes a descobrir um grande equívoco. Afinal, uma das canções mais entoadas do mundo teria uma composição que poucos conhecem de verdade. Contudo, de novo, o que o título anunciava não tinha exatamente a ver com o que o texto falava. “A letra errada” da música dizia respeito apenas às frases “Parabéns pra você”, que a moça diz ser “Parabéns a você”; e “Muitas felicidades”, que, no original, seria “muita felicidade”. E mais: no desenrolar da matéria, o leitor acaba deparando com outro ruído de comunicação. A avó da entrevistada não é a compositora original da música, apenas da versão em português dela…

São apenas dois exemplos. Mas, a prática – do insinuar algo além para chamar atenção da audiência –, volta e meia, aparece na mídia. Sobretudo, em sua versão online. É um recurso baseado tão somente no engano e, nesse caso, em mão dupla: tanto pelo leitor, que, num primeiro momento, é fisgado por achar que ler o que entendeu dá manchete, quanto do veículo, que pensa ter sido inteligente, mas, na verdade, só está ganhando pontos no quesito falta de credibilidade.

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Taís Brem é jornalista, Pelotas, RS