Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Diário estabelece normas para uso de redes sociais

Em geral, um jornal é elogiado quando aperta suas normas éticas, mas não foi isto o que aconteceu quando o Washington Post implementou um novo guia de conduta referente ao uso de mídias sociais, observou o ombudsman Andrew Alexander, em sua coluna de domingo [4/10/09].

As novas regras se aplicam a redes como Facebook e Twitter, nas quais participantes compartilham suas opiniões ou o que lhes vier à cabeça. O editor-executivo Marcus Brauchli resumiu as normas em uma nota à equipe: ‘Repórteres e editores não devem expressar pontos de vista que podem ser encarados como políticos, nem devem tomar partido em debates públicos’. ‘O que você faz nas redes sociais está disponível publicamente para qualquer um, mesmo se você criar uma conta particular. Se você não quer que algo seja encontrado online, não coloque lá’, alerta o guia.

Há proibições quanto a ‘escrever, twittar ou postar algo – incluindo fotos ou vídeos – que possa ser visto como politicamente ou religiosamente tendencioso, racista, sexista, ou favoritismo que possa ser usado para afetar nossa credibilidade jornalística’. As regras se ‘aplicam a todos os jornalistas do Post‘. Para Brauchli, elas prezam a neutralidade, ‘essencial para manter nossa credibilidade’. ‘Pesquisas indicam que os leitores valorizam a nossa independência. Não devemos nos inclinar em uma ou outra direção, nem deixar nossas visões pessoais influenciarem nossa apresentação das informações’, afirmou.

Antiquado

Mas, para muitos que veem as redes sociais na internet como peças chave para a sobrevivência dos veículos de comunicação, as normas do Post representam um pensamento antiquado e excessivamente restritivo. Segundo Dan Gillmor, especialista em novas mídias da Escola de Jornalismo e Comunicação de Massa Walter Cronkite, da Universidade do Estado do Arizona, as redes sociais são centrais para o futuro do jornalismo. ‘Você não tem alternativa a não ser participar. A voz humana está no coração da interação social online’, reforçou.

Alguns defensores das mídias sociais acreditam que jornalistas ganham credibilidade ao revelar mais sobre eles. Um repórter especializado em religião deve contar aos leitores sobre sua fé. O que escreve sobre o Exército deve compartilhar suas opiniões sobre a guerra. Mas, mesmo revelações que possam parecer sem importância podem, ocasionalmente, causar problemas, como o que aconteceu no Post recentemente. O chefe de redação Raju Narisetti divulgou em seu Twitter opiniões sobre temas polêmicos. Em um deles, alegou ser triste o governo não aumentar US$ 1 para a reforma de saúde e gastar muito nas guerras e, em outro, sugeriu idade para aposentaria, referindo-se ao fato de o senador Robert C. Byrd, de 91 anos, ter sido hospitalizado após uma queda. Após questões serem levantadas na redação a respeito de seus tweets, ele fechou sua conta no site, reconhecendo que suas opiniões poderiam ser vistas como uma influência à cobertura do Post sobre financiamento do sistema de saúde e limites a cargos políticos.

Alexander diz que, dos 30 mil e-mails e telefonemas que recebeu este ano, a maior parte era de leitores reclamando de parcialidade. Geralmente, eles medem a parcialidade do jornal com base nos seus próprios pontos de vista, mas, ainda assim, pedem por uma cobertura neutra. As novas regras foram consideradas pouco claras. A equipe do Post não é proibida de usar as mídias sociais; pelo contrário, é encorajada a ampliar sua ligação com os leitores. Os jornalistas só não entenderam muito bem qual é o limite desta interação. ‘Se o resultado desta nova política é diminuir o uso do Twitter, acredito que irá prejudicar mais do que ajudar o jornalismo do Post‘, opinou o blogueiro Steve Buttry, consultor de inovações da Gazette Communications, proprietária de jornais e emissoras em Iowa.