Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Marcelo Beraba

’04/10/2004As manchetes eleitorais:


Folha: ‘Serra vence o 1º turno com 43,5%’;‘Estado’: ‘Serra sai 7 pontos à frente para 2º turno’;‘Globo’: ‘Cesar faz história no Rio’;‘JB’: ‘César Maia liquida a fatura e se reelege por apenas 8.000 votos’;‘Valor’: ‘PT cresce nas capitais e fica atrás em SP’;‘Gazeta Mercantil’: ‘PT e PSDB saem como os dois grandes partidos’;‘Correio Braziliense’: ‘Eleição fortalece Lula, mas Serra preocupa PT’;‘A Tarde’: ‘Oposição enfrentará carlismo’;‘Zero Hora’: ‘Os eleitos’;‘Jornal do Commércio’: ‘Recife é João’.As revistas:


‘Veja’: ‘Revolução digital – Um mundo sem fio…’;‘Época’: ‘Você votou. E agora?’‘IstoÉ’: ‘Ortomolecular – A dieta da moda’;‘Carta Capital’ – ‘Rendição ao Mercado? – Da CVM à política econômica, o governo não vai à raiz do nosso atraso’.‘Eleições 2004’Há uma evidente e bem sucedida preocupação do jornal em dar um tratamento equânime aos dois candidatos que vão para o segundo turno em São Paulo, e ao enfrentamento nacional entre PT e PSDB.


Há um tom equilibrado que contrasta, por exemplo, com o do ‘Globo’. O jornal do Rio abriu seu noticiário sobre eleições com a vitória de Cesar Maia e uma manchete que parecia de futebol: ‘O ‘imperador’ do Rio’ e ‘Numa apuração de ‘machucar o coração’, Cesar Maia é reeleito no primeiro turno’ E por aí vai.O ‘Estado’ abre o noticiário com uma referência às pesquisas eleitorais que não previram tamanha diferença entre os candidatos do PT e do PSDB: ‘Serra desafia pesquisas e vence com folga o primeiro turno’. A Folha foi comedida: ‘Serra vence e disputa 2º turno com Marta’.Os três jornais têm coberturas extensas, captam os mesmos fenômenos e praticamente as mesmas aspas. A Folha prevê a disputa de 2006 pelo governo do Estado e tem entrevistas exclusivas com Alckmin e Mercadante. Tem ainda a entrevista com Fabio Wanderley Reis.


Mesmo assim, acho que faltou ao jornal ouvir mais cientistas políticos e analistas sobre os resultados que foram saindo das urnas. Deveria ter ouvido o diretor do Datafolha, por exemplo, para analisar o quadro possível do 2º turno a partir das últimas pesquisas e do resultado das urnas.


O jornal deve, para amanhã, mais análises do resultado em São Paulo (cidade e Estado) e no Brasil.


O jornal destaca, na sua página Especial 8 e em vários trechos da cobertura, o acerto do Datafolha ao detectar, na última pesquisa que fez e foi publicada no domingo, a ‘onda de crescimento de Serra’. Acho incorreto. Não vi na edição de domingo, no noticiário sobre a pesquisa Datafolha, nenhuma referência à ‘onda de crescimento de Serra’, mas a avaliação de que os dois candidatos estavam empatados e vinham oscilando na margem de erro.


O Datafolha e o Ibope erraram o resultado final. O Datafolha errou por uma diferença menor: previu 40% para Serra, no dia 2, e ele teve 43,58%, acima, portanto, dos 2 pontos percentuais da margem de erro; o resultado da Marta está na margem. O Ibope errou também a boca-de-urna, pesquisa que este ano o Datafolha, infelizmente, não fez.


Nenhum instituto previu uma diferença tão grande, de quase oito pontos percentuais, a favor de Serra. Isso deveria ter sido dito.


O jornal informa que não conseguiu localizar até as 23h a diretora do Ibope, Marcia Cavallari. Mas ela comentou os resultados das urnas para a CBN ao longo do dia.


Era importante que tivesse sido ouvida. Acho que ainda se justifica uma entrevista com ela.


O ‘Estado’ entrevistou Carlos Augusto Montenegro, mas não para explicar os resultados das pesquisas. Foi ouvido para analisar o quadro que se abre no 2º turno.


O ‘Estado’ informa que o esforço do PT para buscar o apoio de Luiza Erundina já envolveu o presidente Lula, que teria pedido ao governador de Alagoas, Ronaldo Lessa, para procurá-la.


Na pág. 12 da Edição Nacional, o jornal relaciona Nova Iguaçu (RJ) como uma das grandes cidades em que o PT ‘liquidou a fatura’ no 1º turno. Mas o próprio resultado parcial da Folha, atualizado às 23h30, não permitia tal conclusão. Aliás, está dito na página 18 que a eleição lá estava indefinida.


01/10/2004


Terror em Bagdá e na faixa de Gaza, os últimos debates na TV, a previsão de inflação e crescimento, a proibição do antiinflamatório Vioxx – são estes os principais assuntos das capas dos principais jornais. Folha e ‘Estado’ foram os únicos que optaram pelo atentado em Bagdá. Têm capas bem parecidas, na Edição Nacional, por conta da foto principal (pai carrega no colo o corpo do filho morto no atentado) e de suas manchetes: ‘Atentado mata 34 crianças em Bagdá’ (Folha) e ‘Explosões matam 34 crianças em Bagdá’ (‘Estado’).O ‘Globo’ optou por manchete e fotos dos debates eleitorais no Rio, em SP e nos EUA. A manchete: ‘Ofensas marcam último debate eleitoral no Rio – Conde e Cesar trocam acusações e adversários do prefeito lutam pelo 2º turno’.Praticamente todos os jornais regionais que consultei (www.newseum.org) deram manchete para os últimos debates e pesquisas antes da eleição de domingo. Como alguns jornais trataram os debates: ‘Marta e Serra partem para o confronto’ (Folha), ‘Confronto entre Serra e Marta esquenta debate’ (‘Estado’) e ‘Último debate foi show de baixaria’ (‘O Dia’, do Rio). Quase todos os jornais, pequenos e grandes, destacaram a retirada do Vioxx do mercado com a informação de que eleva o risco de infarto. Uma exceção foi a ‘enfoque econômico’ do ‘Valor’: ‘Merck perde o Vioxx e US$ 26,8 bi’.‘Tendências/Debates’É bom que a Folha estimule polêmicas, como fez esta semana em relação à participação de Lula na campanha eleitoral. Publicou, na terça, um artigo do senador Jorge Bornhausen (‘Sabotagem contra a democracia’) e, ontem, uma resposta do presidente do PT, José Genoíno (‘Uma democracia sabotada’). Hoje, Bornhausen volta às páginas do jornal, com uma réplica ao artigo de ontem (‘Sabotagem, sim’). Como se trata de um tema eleitoral, o correto é que o jornal dê igual espaço para a tréplica antes da eleição. Ou encerre a polêmica como orienta o ‘Manual’: as partes ‘terão apenas mais uma oportunidade e igual número de linhas para se manifestar e publicar essas manifestações lado a lado’.‘Eleições 2004’Ao optar por não abrir a Edição São Paulo da cobertura eleitoral com o último debate na TV, o jornal ‘esfriou’ o seu o caderno especial ‘Eleições 2004’.‘Redutos malufistas devem decidir 2º turno’ é uma análise de pesquisa interessante, mas que não tem a força jornalística do relato de um debate que foi marcado, segundo o próprio jornal descreve, pela ‘colisão frontal’ entre Marta Suplicy e José Serra. Além disso, o debate foi o último grande fato da eleição, enquanto a pesquisa é um retrato do quadro eleitoral de quarta-feira e que estará completamente mudado quando ficar definido o segundo turno. Ela deveria ter sido bem dada, mas não na capa.


Estão muito parecidas as coberturas do debate de ontem à noite feitas pela Folha e pelo ‘Estado’. A Folha tem duas diferenças a seu favor: os comentários do colunista Nélson de Sá e do chargista Jean deram o tom crítico ao noticiário.


Um dos problemas ao longo da cobertura eleitoral, na minha opinião, foi a escassez de análises e comentários críticos.


O jornal, acertadamente, escalou dois colunistas qualificados (Demétrio Magnoli e Nelson Ascher) para assistirem e analisarem o debate entre Kerry e Bush nos Estados Unidos (pág. A10 da Edição SP). Por que não fez o mesmo em relação à eleição municipal, mais próxima e que toca diretamente nos interesses dos seus leitores?


Era completamente descartável, tanto que o jornal derrubou na Edição SP, a reportagem ‘Jingles de uma nota só’ (pág. Especial 4 da Edição Nacional). É uma reportagem bem feita, mas fria e já fora de época, uma vez que a eleição está praticamente encerrada. Teria caído bem há uma ou duas semanas.


O espaço teria sido mais bem aproveitado se destinado a mais relatos e análises das últimas horas da campanha em várias cidades com disputas acirradas e indefinidas.


Aliás, a Edição Nacional do caderno está quase toda ‘gelada’, ou seja, com reportagens interessantes mas atemporais.


Brasil


A reportagem ‘Procuradoria processa fazendeiros de Unaí’ (pág. A6) não informa que um dos irmãos Mânica, Antério, é candidato a prefeito da cidade e tem veiculado, nas rádios e TVs, mensagem de apoio que recebeu do vice-presidente da República, José Alencar. São informações relevantes, não?


O ‘Estado’ continua investindo na questão nuclear e nas pressões da Agência Internacional de Energia Atômica. A Folha continua minimizando o assunto.


Kerry x Bush


A cobertura da Folha está melhor do que a de seus principais concorrentes. Tem, além do relato do debate, as análises de dois colunistas do jornal e a reprodução de vários trechos do enfrentamento.


‘Dinheiro’


O ‘Globo’ informa que o governo quer reativar a Telebrás para vender serviços de satélite.


A notícia é a mesma nos dois jornais, Folha e ‘Estado’, mas os títulos não batem: ‘Estimativa de inflação maior não afeta juro’ (Folha) e ‘Projeção de inflação maior eleva juros futuros’ (‘Estado’).‘Cotidiano’Está bem feita e completa a reportagem da Folha sobre a suspensão da venda do antiinflamatório Vioxx.


30/09/2004


Eleições, greves, violência e os dados nacionais de 2003 (IBGE), eis o principal do cardápio que os jornais oferecem hoje em suas capas.


Eleição.


Folha: ‘Marta e Serra empatam em 34%’ (manchete), ‘Em 21 grandes cidades, pleito será decidido no 1º turno’.‘Estado’: ‘Para Marta, Serra é tão nefasto quanto Maluf’ e ‘CNBB quer Lula fora da campanha’.‘Valor’: ‘Em programa, Serra diz que os CÉUS serão ‘repensados’.IBGE.‘Globo’: ‘IBGE: Era Lula começa com queda de renda e emprego’ (manchete).‘Folha’: ‘Renda do trabalho caiu em 2003 e foi a pior em dez anos’.‘Estado’: ‘Bons e maus números no 1º ano de Lula’.‘JB’: ‘País é menos desigual e mais pobre’.Greves.‘Estado’: ‘TRT ordena que 60% voltem ao trabalho, mas bancários se recusam’ (manchete).‘Folha’: ‘Justiça manda que bancários abram agências’.‘Globo’: ‘Bancários desafiam a Justiça’.Violência.‘Globo’: ‘Autoridades preferem desconfiar de arrastão’ e ‘O adeus ao bandido –Romário, Edmundo e Renato Gaúcho velam bicheiro’.‘Folha’: ‘Favelados foram assassinados, diz testemunha’ (Edição Nacional).


‘Extra’: ‘São R$ 127 milhões mensais –Morte de Maninho deixa sem dono 8.500 pontos de jogo’ (manchete).‘Dia’: ‘Sessão de tortura antes da execução na Providência –Testemunha diz que suspeito levou facadas de policiais’ (manchete).BrasilNão é estranho a notícia da visita do secretário de Estado dos Estados Unidos, Colin Powell, estar no pé da reportagem sobre o Fome Zero (‘Presidente irá orientar a integração de programas sob marca Fome Zero’, pág. A5 da Edição Nacional)? O anúncio da viagem de Powell desapareceu na Edição SP.


O ‘Estado’ traz um bloco grande sobre diplomacia que inclui o anúncio da viagem de Powell, confirmada ontem pelo Departamento de Estado dos EUA, e várias notícias sobre a questão nuclear: ‘AIEA acha que Brasil tem centrífugas proibidas’, ‘Programa do País respeita acordos mundiais’ e ‘Irã ajuda mais do que brasileiros, diz jornal’.Não é o caso de o jornal dar ainda mais informações sobre a lei antiterror e abrir uma discussão sobre o assunto? Como a notícia de hoje (‘Em discussão, lei antiterror abrange movimento social e crime organizado’, pág A5) informa, a lei é ‘dúbia’, permite várias interpretações e poderá ser usada internamente para controlar o movimento social.


É uma boa discussão, que o jornal dá visibilidade com a entrevista com o professor da UnB.


Não é estranho o noticiário sobre o MST estar espalhado pelas páginas A4 (‘MST tenta invadir tribunal no Rio’) e A6 (‘MST estuda proposta do grupo Votorantim’)? A reportagem sobre a lei antiterror também trata do MST. O erro de edição permaneceu na Edição SP.


‘Eleições 2004’


O quadro com as pesquisas realizadas nas 72 principais cidades brasileiras (pág. 2 do caderno especial) e as análises que vem fazendo destes dados, como a de hoje (‘Eleição pode ser definida em 21 grandes cidades’), são um ponto positivo da cobertura eleitoral da Folha.Boa a reportagem que investiga a ligação dos outdoors ‘apócrifos’ que atacam José Serra com a campanha de Paulo Maluf (pág. Especial 5). Embora o candidato do PP negue, as evidências apresentadas pela reportagem são fortes.


Segundo o ‘Estado’, ‘CNBB quer presidente fora da campanha’; de acordo com o ‘Globo’, ‘CNBB critica presença do presidente’. O presidente da Conferência, d. Geraldo Majella Agnelo, reprovou ontem em Brasília a participação de Lula na campanha eleitoral paulista. Na mesma entrevista, o cardeal divulgou documento da CNBB sobre a eleição municipal.


Carga pesada


Incrível a história do carro lotado de dinamite (‘Carro-bomba levava 12 kg de dinamite em SP’), capa da Edição SP de ‘Cotidiano’. Está mais bem contada na Folha do que no ‘Estado’. 29/09/2004Chapa quente no Rio. ‘O Dia’ é quem reflete melhor as últimas 48 horas da cidade:‘Maninho fuzilado – Bicheiro saía de moto de academia em Jacarepaguá quando foi assassinado’;‘Providência: execução derruba seis policiais – Flagrante do ‘Dia ‘ em operação no morro faz governo afastar delegado e equipe’;‘Arrastão no Leblon’.Tudo com fotos.A violência no Rio ocupa todo o alto da capa do ‘Globo’ (fotos do arrastão na praia e a manchete: ‘À luz do dia e no Leblon. O que falta mais?’) e da Folha (as fotos do ‘Dia’ que mostram moradores da Providência rendidos e, na seqüência, um corpo sendo levado por policiais). A manchete da Folha, no entanto, é uma pesquisa: ‘Empresa prefere hora extra a abrir vaga’.Manchete do ‘Estado’: ‘Metade das empresas confessa ter pago propina no Brasil, revela Bird’. Do ‘Valor’, que pelo terceiro dia destaca as negociações comerciais: ‘UE recua e pode frustrar acordo com o Mercosul’.EleiçãoA entrevista com o economista Paul Singer (‘Marta não fala, mas é de esquerda, diz Singer’, pág. A6 de ‘Brasil’) é uma declaração de voto em Marta Suplicy. ‘Compensa’ a entrevista publicada no domingo em que o filósofo José Arthur Giannotti declarou voto em José Serra.


Singer capta bem a principal característica desta eleição ao rotulá-la de ‘disputa de patrocínio’. O jornal venha cobrindo bem o varejo desta disputa por ‘padrinhos’ ou ‘patrocinadores’ (fenômeno que não ocorre só em SP, embora na cidade tenha tido mais visibilidade por conta dos personagens envolvidos, todos presidenciáveis). Mas deveria, no balanço que certamente fará do primeiro turno, dar uma atenção especial a este fenômeno. Ele não é novo, mas nesta eleição teve um peso ainda maior.


‘Eleições 2004’


O Datafolha fez pesquisa dia 23 em Fortaleza, e com uma margem de erro de 3 pontos percentuais. O jornal prefere, no entanto, usar, no quadro da página 2 do caderno especial, a pesquisa do Ibope, que não é tão atualizada (começa dia 21) e tem margem de erro maior. A pesquisa da Folha coloca os três primeiros colocados (Cambraia, Moroni e Inácio) em empate técnico.


A reportagem ‘Lindberg já se vê como liderança estadual no Rio’ (pág. 4 do caderno Especial na Edição Nacional, e apenas um texto-legenda na Edição SP) é daquelas que exigem a idade dos personagens. Ao revelar as ambições eleitorais do petista para 2010 e prever uma disputa dele com o prefeito César Maia, o texto deveria ter informado quantos anos os dois terão naquela data.


Varejo


A arte ‘Quem mudou e o quê’, que ilustra a reportagem ‘Indústria relança produtos e eleva preços’ (pág B8 de ‘Dinheiro’), deveria ter trazido, em relação aos cinco produtos que enumera, os preços que tinham antes das mudanças que sofreram e os de agora, com o percentual de aumento de cada um. Como está, contém apenas as explicações das empresas para as mudanças e informações vagas sobre os aumentos.


Fora da lei


A arte ‘Mortes em confronto com a polícia’, que ilustra a reportagem ‘Polícia é acusada de matar jovens rendidos’ (capa de ‘Cotidiano’), informa que os números expostos são ‘médias anuais’ do crime de auto de resistência no Rio. Acho que são ‘médias mensais’. A verificar.BienalRecebi, do editor de Ilustrada, Cássio Starling Carlos, via SR, resposta ao meu comentário ‘Bienal’, na Crítica Interna de ontem:‘Concordo que a impressão é de que o ‘Estado’ tenha sido ‘mais ágil’ na publicação da cobertura de Bienal na capa do ‘Caderno 2’ e que o material da Ilustrada de terça pareça velho. O que o leitor da Folha não sabe (e deveria saber) é que isso se deve a limitações industriais. Ou seja, se o critério for pouca agilidade, sinto lembrar que a causa deve ser procurada em outra freguesia, não na redação.


Diante disso, a decisão editorial foi privilegiar a notícia (relativa à pichação da obra de Jorge Pardo; um furo interessante, aliás, divulgado ainda ontem à tarde por agências internacionais com citação à Folha como fonte) no espaço reservado pelo jornal na edição de segunda, em Cotidiano.


Mas essa diferença o ombudsman não registrou.


Segundo: se o ombudsman ler com a devida atenção o material publicado na Folha na edição de segunda perceberá que não havia ali as principais informações do texto publicado hoje (o número de público era parcial, e o essencial do texto _a reação dos visitantes às obras_ nem sequer era citado, por exemplo). Conclusão: devíamos o balanço ao nosso leitor.


Terceiro: a propósito de o título da ‘Ilustrada’ e do ‘Caderno 2’ parecer ‘parecido’: no nosso título de terça, enfatizamos que os tais ‘milhares’ a que o ‘Estado’ se referiu tinham um significado mais preciso (‘recorde’).Neste caso, fico com a impressão (enquanto leitor) que ‘milhares’ é uma palavra tão vazia de precisão quanto ‘pareceu’ e ‘parecido’.Se o essencial do texto era ‘a reação dos visitantes às obras’, que isso fosse valorizado pelo editor na abertura e no título da reportagem. Ele preferiu, no entanto, abrir com uma informação velha –a quantificação do público. É uma pena que até mesmo um caderno cultural tenha de se render a números e recordes de público que não têm qualquer importância e que, com maior ou menor precisão, já haviam sido registrados pela Folha e pelo ‘Estado’ na véspera. O tal recorde valia, no máximo, um box. A reportagem segue interessante depois que se vence um título envelhecido e uma abertura relatorial.


Tem razão o editor: ‘pareceu’ e ‘parecido’ são termos vazios de precisão.


Vou ser mais preciso: o editor não soube orientar a abertura da reportagem e fez com que se tornasse velha. O ombudsman quis ser educado e pareceu impreciso.


Gostaria de saber da Redação o que o editor quis dizer com esta passagem: ‘Ou seja, se o critério for pouca agilidade, sinto lembrar que a causa deve ser procurada em outra freguesia, não na redação’. Em que freguesia o ombudsman deve procurar a causa da pouca agilidade da ‘Ilustrada’? No Industrial? Não me consta que esta diretoria esteja fazendo os títulos e as aberturas das reportagens da editoria.Quanto a registrar a pichação na edição de segunda, é o mínimo que se podia esperar da editoria.


A editoria foi ágil ao publicar hoje entrevista com o autor da obra pichada no domingo (‘Artista diz que ter obra pichada é ‘positivo’, pág. E3). Fica aqui o registro. 28/09/2004Sumiu da primeira página da Folha, faltando cinco dias para a disputa pelas prefeituras, o noticiário eleitoral. O ‘Estado’ dá bem fotos de Marta Suplicy e José Serra em campanha e duas chamadas: ‘Marta desafia TRE e repete acusações a FHC’ e o resultado do Ibope, ‘Serra tem 37% e Marta, 35%’. O ‘Globo’ também destaca as pesquisas Ibope na cidade (‘Rio ainda não sabe se terá 2º turno’), em SP e em Nova Iguaçu.Mas os destaques maiores destes jornais foram as greves.Folha: ‘Judiciário paulista põe fim à greve após 91 dias’ e ‘Lula decide cortar ponto dos grevistas de BB e CEF’. Ainda tem fotos do enfrentamento de servidores do Judiciário e advogados e de avião da Vasp no solo.‘Estado’: ‘Acaba a maior greve do Judiciário de SP’.


‘Globo’: ‘BB e CEF cortam ponto de grevistas’. O jornal do Rio também noticia o fim da greve do Judiciário de SP.‘Valor’ mantém foco nas negociações comerciais: ‘UE acha insatisfatória a nova oferta do Mercosul’.


Observação: por problemas no sistema de transmissão do jornal, a Crítica Interna de ontem foi distribuída com atraso, e a de hoje, feita sem a leitura das edições SP da Folha e do ‘Estado’.Greve do JudiciárioTerminou ontem, depois de três meses, a maior greve do Judiciário de SP.A impressão que ficou, acompanhando o noticiário e através de e-mails de leitores, é que ela foi mal coberta pela Folha.


A greve começou no dia 29 de junho e a primeira notícia saiu no dia 3 de julho. Era uma nota curta, enviada por um free-lance de Ribeirão Preto:


‘Greve de servidores em Araraquara e Ribeirão pára registro de 400 candidatos’ [referência às eleições municipais].


No dia 9 saiu a primeira notícia mais completa sobre a greve, com informações sobre suas motivações, número de grevistas envolvidos e primeiras conseqüências para a cidade e para o Estado. As notícias continuaram raras e curtas, e não permitiram aos leitores dimensionarem o tamanho do problema que foi sendo criado.


O jornal começou a dar visibilidade para a greve apenas quando ela completou dois meses e passou a ser acompanhada com um pouco mais de regularidade.


A impressão que ficou é que o jornal não soube dimensionar os transtornos para os paulistas e tratou a paralisação apenas como um enfrentamento corporativo.


Esta é a minha impressão. Se a Redação tem outra avaliação, gostaria de conhecê-la.


O noticiário de hoje na Edição Nacional mostra a dificuldade que temos para fazer este tipo de cobertura. Ele está centrado nas negociações finais, nas ameaças dos serventuários, e no enfrentamento entre grevistas e advogados. Mas o que interessa de fato para os leitores, além das informações sobre as negociações, é saber como se dará o restabelecimento dos serviços na Justiça. Segundo o ‘Estado’, e a Folha deveria ter registrado este balanço, 12 milhões de processos estão parados, 450 mil audiências foram suspensas e 1,2 milhão de novas ações estão acumuladas e aguardam o início da tramitação. Como se dará este processo? Como a população que recorre ao Judiciário será tratada?


Esta greve foi um desgaste para os serventuários, para a Justiça, para o governo do Estado, e foi, principalmente, um grande desgaste para a população. E isso o jornal não enfoca na sua Edição Nacional.


A coluna do Luís Nassif (‘A vez do governador’, pág. B3 de ‘Dinheiro’) aponta um caminho para a cobertura do jornal. A greve acabou, mas não os problemas do Judiciário paulista.Outras grevesAs coberturas das greves dos funcionários da Vasp (capa de ‘Dinheiro’ da Edição Nacional) e dos bancários (B3) sofrem do mesmo problema da falta de serviços para os usuários da companhia aérea e dos serviços dos bancos. O que devem fazer? As coberturas estão centradas nas questões sindicais, nas negociações e nos conseqüências para a economia.


Apagão


Afinal, quanto tempo durou de fato o apagão que afetou ontem os estados do Nordeste?


A primeira página informa que começou às 10h37 e se estendeu até 11h32. A capa de ‘Cotidiano’ (Edição Nacional) informa que começou às 10h38.


Quando terminou?Não há um critério definido, mas não foi às 11h32. A fábrica Alumar voltou a ter energia às 10h44 (seis ou sete minutos depois do começo do apagão); as residências, às 11h40; e somente às 13h50 o fornecimento foi normalizado para as indústrias.


Eleição


Bom o editorial de hoje sobre a falta de escrúpulos generalizada na campanha eleitoral, ‘Atitude republicana’ (A2). O jornal se posiciona contra um dos escândalos que marcaram esta campanha, a chantagem praticada, no Rio e em São Paulo, pelo PSDB, PT e PMDB.A Redação vem cobrindo, no geral bem, estes episódios no varejo. Acho que vale, no entanto, voltar jornalisticamente ao assunto mostrando que foi uma das características desta eleição. Talvez valha ouvir algum cientista político com algum distanciamento.


Bienal


Publicada na edição de hoje, a cobertura do primeiro dia da Bienal, domingo, pareceu velha.


Isso porque o próprio jornal já tinha publicado ontem, em ‘Cotidiano’ (‘26ª Bienal começa com pichação e atraso’, pág. C6 da Edição SP da ‘Ilustrada’), um alto de página com as principais informações destacadas no texto de hoje (‘Público recorde abre a Bienal de São Paulo’). Também ontem o ‘Estado’, mais ágil, já havia publicado a cobertura do primeiro dia, na capa do seu ‘Caderno 2’, e com título parecido com o da ‘Ilustrada’ de hoje: ‘Milhares de pessoas já foram à Bienal’.O jornal deveria ter aproveitado melhor o espaço. Com a própria Bienal.’ �