Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Fusão de Penguin e Random House cria editora de R$ 7,8 bi

Para enfrentar gigantes como Amazon, livros eletrônicos e uma verdadeira revolução no mercado, nasce a maior editora de livros do mundo. Ontem, a alemã Bertelsmann anunciou que sua editora, a Random House, e a Penguin Group, da empresa britânica Pearson, chegaram a um acordo de fusão. A nova empresa terá como meta realizar uma ofensiva sobre o mercado global. Brasil, Índia e China estão entre as prioridades do grupo.

Com um volume de negócios que chega a R$ 3 bilhões e autores como Dan Brown, Toni Morrison, John Grisham e Patricia Cornwell em suas coleções, o acordo abre caminho ainda para uma consolidação no mercado de livros, justamente num momento de definição para muitas editoras. Só a Random House conta com 45 subeditoras, que colocam no mercado cerca de 200 livros por mês. Segundo analistas, os tradicionais livreiros estariam enfrentando dois desafios paralelos. O primeiro é a quebra de dezenas de redes de livrarias, já que parte das vendas se transferiu para a internet. O outro desafio é o fato de redes de vendas pela internet, como a gigante americana Amazon, terem acumulado amplos poderes para negociar margens, deixando editoras com uma participação menor nos lucros das vendas.

Pelo acordo, a Pearson – que também é dona do jornal britânico Financial Times – fica com 47% da nova empresa, enquanto a fatia restante de 53% fica com a Bertelsmann, empresa que já era uma das maiores do mundo, proprietária de TVs e, agora, dona de uma carteira de títulos que corresponde a 25% dos livros que se vendem no Reino Unido. O atual chefe da Random House, o alemão Markus Dohle, assumirá o cargo de CEO do novo grupo, que deixou claro que investidas na América Latina, China e Índia estão entre as prioridades.

Resposta à oferta de Murdoch

Outra meta é a de entrar com força no mundo digital, hoje controlado por Google, Amazon e Apple, que redesenharam o mapa da indústria editorial no mundo e colocaram empresas centenárias em sérias dificuldades. A própria Pearson registrou um crescimento decepcionante de seus lucros nos primeiros nove meses do ano. “A união de esforços permitirá a publicação mais eficiente entre formatos tradicionais e novos formatos e redes de distribuição”, declarou Thomas Rabe, CEO da Bertelsmann, numa referência à internet.

Com a fusão entre a Random House e a Penguin, o objetivo será colocar livros no mercado a custos mais baixos. Hoje, a Random House já é a maior editora do mundo e a Penguin ocupa a quarta posição. Marjorie Scardino, CEO da Pearson, foi mais direta: segundo ela, a fusão “permitirá uma divisão dos custos e mais investimentos para tentar novos modelos nesse mundo excitante dos livros digitais e leitores digitais”. Para John Makinson, presidente da Penguin, o mundo editorial vive “dias de transformação”. “A parceria vai posicionar a Penguin Random House na vanguarda dessa mudança”, prometeu.

A fusão foi anunciada depois que jornais ingleses relataram, no fim de semana, que a News Corp., que controla a editora HarperCollins, teria oferecido um acordo para comprar a Pearson. O acordo com a empresa alemã, portanto, seria uma resposta à oferta do bilionário Rupert Murdoch, controlador da News Corp. A nova editora só ganhará vida no segundo semestre de 2013, depois da aprovação de agências regulatórias.

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[Jamil Chade, correspondente em Genebra do Estado de S.Paulo]