Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Informação, a vítima de sempre

O senador americano Hiram Johnson disse, certa vez, que em tempo de guerra a primeira vítima é a verdade. O jornalista americano Philip Knightley escreveu um clássico (recomendável para todos os que escolhem nossa profissão), com o título A Primeira Vítima (Editora Nova Fronteira). Nele, mostra como a imprensa distorceu o noticiário de guerras, desde a Carga da Brigada Ligeira, na Criméia, até o Vietnã, passando pela revolução comunista na Rússia.


Há distorções por erro; e há distorções por deliberada vontade de mentir. Como isto que acontece agora, na luta entre Israel e Hezbollah: há personagens que se repetem, há fotos manipuladas (a tal ponto que a Reuters retirou imagens de seu acervo e afastou o fotógrafo acusado de falsificá-las) [ver ‘Reuters admite manipulação de fotos‘], há pesquisas que aparecem do nada – contra o Hezbollah e também a seu favor.


Só há uma diferença entre as mentiras narradas por Knightley e as de agora: o surgimento dos blogs. E são os blogs que têm apontado a maior parte das distorções e criado problemas para os jornalistas mentirosos. Tamanhos são os problemas que criam que o editor do blog Little Green Footballs, Charles Johnson, que apontou a primeira maquiagem comprovada em fotos da guerra, foi ameaçado de morte. O e-mail utilizava o endereço ZionistPig@hotmail.com – mas foi localizado pelo IP, um número de identidade dos computadores. Saiu de dentro da Reuters. O funcionário suspeito de enviá-lo foi suspenso, disse Ed Williams, chefe de Comunicações da agência noticiosa.


Uma guerra é suficientemente cruel para dispensar falsificações. E de tal modo é intensa que a propaganda, mesmo mascarada de jornalismo, não pode modificar seus resultados. O jornalista falsificador deve sentir-se poderoso, mas lembra o sobrevivente do tsunami: ‘Na hora em que apertei a descarga, tchibum!’




O lado israelense


Dois links enviados por amigos israelenses mostram bem a falsificação de notícias contra Israel. Este é um, este é o outro.


Este colunista não recebeu ainda qualquer link do Hezbollah, mostrando a falsificação de notícias em favor de Israel. Caso receba algum irá encaminhá-lo para publicação na coluna seguinte. Importante: material com insultos, ou que não contenha fatos concretos que o sustentem, não será encaminhado à publicação.




Duro de assistir


Não, este colunista definitivamente não quer uma presidente da República que chame a entrevistadora de ‘danadinha’, e que se defina como socialista, embora não consiga apontar, entre as dezenas de nações que adotaram este regime, qual seria seu modelo para o Brasil.


Não, este colunista não consegue entender direito o que é choque de gestão. Choque é quando a gente bota o dedo na tomada. E tem certeza de que palavras quatrocentonas (do ano mil, quatrocentos e pouco), como ‘alvíssaras’, não têm muita chance de ser entendidas pelo grande público.


Não, este colunista não consegue entender como é que o Brasil passou a ter milhões de quilômetros de fronteira nem qual o motivo que leva o presidente da República a ‘combater a ética’.


Fátima Bernardes e William Bonner foram excelentes entrevistadores. É claro que os partidários de cada candidato gostariam que os outros fossem triturados. Não era o caso; nem era necessário. Todos escorregaram sozinhos.


Um carro em São Paulo circula com o adesivo ‘JK – procura-se outro’. O dono do carro que perdoe este colunista, mas não é nessas eleições que vai realizar seu sonho.




Recomendável


Muito agradável, muito instrutivo o último livro de Ricardo Kotscho, Do Golpe ao Planalto. Esqueçam aquelas bobagens sobre revelações bombásticas a respeito da participação do presidente Lula no mensalão: no livro não há nada disso. Kotscho gosta de Lula, admira-o, é amigo dele e de dona Marisa. E ponto.


O livro é agradável porque Kotscho, como poucos, sabe escrever. E vale pela descrição de como se faziam as reportagens há alguns anos, e como se fazem (quando se fazem) hoje. Vale para colegas atentos que prestam atenção a detalhes sobre como se modificou a profissão. Vale para desmistificar as besteiras a respeito do diploma obrigatório e de como os patrões são contra para pagar menos aos funcionários (Kotscho, que sempre ganhou bem, não tem diploma).


O livro vale, especialmente, pela descrição do trabalho da assessoria de imprensa num governo. O assessor ganha pouco, trabalha muito, é triturado pelos dois lados (e, quando vai embora, todos o lamentam e homenageiam).


O livro tem algumas pequenas falhas. A principal é de edição: quando a gente escreve, muitas vezes comete erros por associação, erros que cabe aos editores capturar e corrigir. É por isso que, ao falar do grande jornalista Duque Estrada, nosso companheiro de Estadão e Jornal da Tarde, Kotscho o chama de ‘Osório’. É George. Osório Duque Estrada, letrista do Hino Nacional, hoje é rua e dá nome a um dos restaurantes preferidos deste colunista em São Paulo (a comida é ótima, o serviço é atencioso e os preços são bem razoáveis).


Faltou lembrar, no livro, a respeito do trabalho de assessoria de imprensa ao governo, uma brilhante frase do próprio Kotscho: ‘No começo, a gente tem raiva dos inimigos. Duro é quando chega a hora de ter raiva dos aliados’.


E há uma confissão que um jornalista do nível de Ricardo Kotscho, uma pessoa de sua capacidade e respeitabilidade, deveria escusar-se de fazer. É sampaulino, coitado. Ninguém é perfeito, mas precisava confessar isso aos leitores?




Sugestão de pauta


Entre os milhares de presidiários soltos para o Dia dos Pais, em São Paulo, quantos são homicidas, quantos são assaltantes, quantos foram condenados por estupro? Considerando-se que saem para passar o Dia dos Pais, quantos deles não têm pai, nem filho?


Os indultos se sucedem e este colunista não se lembra de ter visto uma boa reportagem mostrando quem é quem.




É longe, mas é Brasil


Alguém notou que a imprensa, mesmo tendo iniciado algumas investigações, depois passou a andar a reboque da polícia, do Ministério Público e das CPIs? E fazer as matérias não é tão difícil assim. No final de julho, a promotora Sandra Maria Cabral Miranda foi seqüestrada em Presidente Figueiredo, no interior do Amazonas. Motivo aparente: ela está cadastrando os eleitores da região – o que foi suficiente para desencadear a operação criminosa. A promotora acabou sendo libertada, mas trabalha hoje sob sucessivas ameaças de morte.


E a imprensa? Presidente Figueiredo é longe, no interior do Amazonas. Custa caro mandar repórteres para lá, é verdade – mas, se não é para isso, para que servem os jornais? Para informar que Caetano Veloso e José Wilker se encontraram durante um passeio na praia?


A situação está fervendo: segundo esta coluna foi informada, um jornal da região até que tentou cobrir o caso, mas tomou um sólido chega-pra-lá e sossegou. Os jornais de maior peso não tomariam um chega-pra-lá. Mas de que adianta seu peso, se não se movem para colocar-se no lugar certo?




Liberdade, só para nós


Uma famosa revolucionária comunista alemã, Rosa Luxembourg (1870-1919), dizia que liberdade é a liberdade dos nossos adversários. Não é bem a opinião predominante no Brasil: a julgar pelas mensagens enviadas a respeito do blog de José Dirceu, liberdade é ótimo, mas não a dele. Há quem ache que ele deve ter toda a liberdade, mas que ninguém deveria abrir-lhe espaço na internet. E um internauta, pelo menos, tem outra preocupação: está furioso com a possibilidade de Dirceu ser remunerado pelo trabalho de publicar o blog. Escrever, vá lá – mas de graça.




Interpretações


Dois foram os grandes títulos da semana – um tétrico (na linha daquele anúncio da Pepsi, talvez?), um vagamente pornográfico.


O tétrico: ‘Mortos tentando escalar o Muro de Berlim seriam pelo menos 125’.


O vagamente pornográfico: ‘O que você come e o efeito nas suas pernas’.


E este colunista, que era capaz de jurar que só fazia efeito nas pernas aquilo que a gente bebe!




Os políticos


Está num importante portal da internet, e se refere à candidata do PSOL à presidência da República, senadora Heloísa Helena:




‘Quando perguntada sobre a maneira que ela pretende governar politicamente o Congresso, a candidata respondeu prontamente:


– De forma franca.’




Brasil, sil, sil


Não, o primeiro alarme de terrorismo em aeroportos não aconteceu na Inglaterra, como a mídia colonizada insiste em nos fazer crer. Foi em Cumbica, São Paulo. Está no texto de internet: o sistema de segurança do aeroporto foi mobilizado porque havia uma mochila abandonada no Terminal 2, Asa C, piso de embarque. O esquadrão antibomba foi chamado e constatou que na mochila havia apenas ‘assessórios femininos’. O esquadrão antibomba pertence à Políssia Sivil. E entre os ‘assessórios’ deveria haver ‘calsinhas, çutianz’ e um ‘diçionário’.




E eu com isso?


Lendo o livro do Ricardo Kotscho este colunista lembrou do tempo em que se disputava teletipo no tapa, com o risco de ver a matéria cair em qualquer lugar que não o jornal. A gente vivia sem computador, uai! Vivia também sem refrigerantes diet, sem informações online, sem videogames.


Tudo bem, isso foi possível durante muitos anos. Mas como conseguiríamos viver, hoje em dia, sem o noticiário que a imprensa fornece sobre ‘os famosos’? Explicando? ‘Famosos’ são aqueles que a imprensa noticia porque são famosos.


Vejamos:


1. Giovanna Antonelli curte tarde em Ipanema.


2. Cantora mostra o sutiã ao promover filme.


Engraçado: isso deve ser notícia nos países nórdicos. Aqui, a Ana Paula Arósio, muito mais bonita que essa tal Ciara, não mostrou sutiã nenhum na novela, e estava uma beleza!


3. Com pouca roupa, Mariah Carey estréia turnê nos EUA.


4. Danielle Winits leva o marido ao teatro.


E, tão legal quando ela, veja o que fez outro ator:


5. Eduardo Moscovis leva a namorada em show no Rio


6. Solteira, Daniela Suzuki passa o dia na praia.


Agora, uma notícia que fez tremer a República:




‘Brasileira Gisele Bündchen fez revelação-bomba para a revista Fashion Rocks de agosto: ‘Não sou cantora, mas gostaria de ser’’.




Como é mesmo?


Há títulos notáveis nesta semana. Por exemplo, ‘mulher declarada morta morre de verdade horas mais tarde’. Mas há dois muito melhores, que merecem o esforço de decifrá-los. São mais difíceis que os discursos de governança e alvíssaras do candidato Alckmin e o socialismo tropical da senadora Heloísa Helena!


1. ‘DoCoMo adiciona mais clientes em julho puxada por tecnologia 3G’


1. ‘Adiamento de licitação de WiMAX opõe Costa e operadoras’


Quem conseguir decifrar mais rapidamente o significado dessas elípticas frases ganha o direito de saborear um picolé de chuchu.

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Jornalista, diretor da Brickmann&Associados