Em resposta a pedidos da mídia internacional, o Exército dos EUA passou a disponibilizar novas proteções aos jornalistas que trabalham no Iraque, para evitar uma série de longas detenções sofridas por diversos repórteres no ano passado, como informa Alastair Macdonald [Reuters, 20/3/06]. Ao abandonar a política que negava aos jornalistas status especial – sob a qual três profissionais da Reuters ficaram presos por até oito meses –, o major-general John Gardner, encarregado das detenções, afirmou que tais prisões devem ser agora tratadas como casos ‘quase singulares’.
Além disso, Gardner informou que o Exército americano deve conduzir investigações rápidas e de alto nível nas quais as organizações de mídia deverão responder por qualquer repórter suspeito de ter cometido atos hostis. As tropas também deverão receber melhor treinamento e correspondentes devem ser incluídos nos mesmo exercícios de simulação de combate pelos quais os soldados passam antes de serem enviados ao Iraque. ‘Nós, obviamente, não queremos desencorajar a imprensa de estar presente. Isto vai ajudar a servir aos bons propósitos da missão dos EUA no Iraque’, afirmou o major-general.
Aceitando o argumento, anteriormente rejeitado pelo Exército, de que equipes de mídia precisavam de proteções especiais contra prisões injustas, Gardner alegou que ‘provavelmente, mais do que nas outras profissões, os jornalistas têm de estar em campo durante as operações de combate’.
As tropas agora devem imediatamente reportar pessoalmente ao major-general a prisão de qualquer um que diga ser jornalista, para que ele cheque com as empresas jornalísticas e libere os que realmente trabalham para elas dentro de um prazo de 36 horas. ‘Não queremos prender ninguém por seis ou oito meses’, afirmou Gardner, acrescentando que filmar a guerra e encontrar com insurgentes não são motivos para prisão. Segundo o major-general, desde janeiro, nenhuma nova detenção de jornalista precisou de sua atenção. No entanto, um cinegrafista da CBS, preso em abril do ano passado, continua sob custódia.
Conflito de alto risco
Diversos grupos de defesa da liberdade de imprensa já protestaram contra as prisões por forças militares americanas e pelo assassinato de jornalistas. Quatro cinegrafistas da Reuters foram mortos no Iraque, três deles por soldados americanos. Desde o início da guerra, em 2003, 67 profissionais de mídia foram mortos, fazendo do conflito no Iraque o mais mortal para a mídia desde 1945.
Samir Mohammed Noor, que trabalha como cinegrafista freelancer para a Reuters e para a emissora al-Arabiya, foi preso em sua casa no Iraque por tropas americanas – e violentado até ficar inconsciente – em junho do ano passado. Somente em dezembro, depois das prisões de Ali al-Mashhadani, em agosto, e de Majed Hameed, em setembro, os militares americanos divulgaram informações mais precisas sobre os motivos pelos quais os jornalistas eram vistos como ameaças. Noor e Hameed, que também trabalha para a al-Arabiya, teriam sido denunciados como ‘terroristas’, pois teriam filmado em primeira mão um ataque rebelde – causando suspeitas de que teriam tido conhecimento da ação com antecedência. O filme, no entanto, foi destruído antes de ser investigado. Todos os três foram libertados em janeiro.
As Nações Unidas e outras organizações criticam o Exército pela prisão de milhares de pessoas no Iraque, muitas por meses ou até anos, afirmando que nenhum dos casos passou por um processo legal. Gardner afirmou que investigará a reclamação de Noor sobre ter sido violentado por soldados, além de práticas abusivas na prisão de Tal Afar, na qual soldados americanos obrigaram os presos a ficarem de pé em uma perna por longos períodos.