Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Por que os jornalistas ignoram o caso Snowden?

A maioria dos jornalistas novos ou experientes que conheço parece dedicar certo desprezo à tecnologia. Muitos se referem aos avanços da eletrônica e, em especial, aos equipamentos mais avançados da informática e das telecomunicações como “maquinetas”, “traquitanas” ou como “tecnicalidades” sem muito interesse para o leitor ou para os cidadãos em geral. Esquecem-se de que as novas gerações estão muito mais interessadas em tecnologia, em especial por serem muito mais antenadas do que éramos há 20 ou 30 anos. Espero, portanto, que os jornalistas dessa nova geração possam superar essa carência do jornalismo brasileiro e mundial.

O problema se torna ainda mais grave quando propomos a discussão do impacto das tecnologias digitais na vida humana, em geral, e nas comunicações, em particular. Vejam o caso Edward Snowden, com tanta repercussão no mundo – e que vem sendo tratado com tanto desconhecimento pela mídia e pelas autoridades públicas brasileiras. Mesmo com todo o conteúdo político que a questão nos sugere, não tenho conseguido motivar ou estimular a discussão do caso Snowden – em especial no grupo de Jornalistas – no Facebook.

Essas reflexões me vêm à mente de forma irresistível após assistir (via internet) ao excelente programa do Observatório da Imprensa, transmitido no dia 16 de julho, que debateu “o caso Snowden e a espionagem que chegou ao Brasil”. Dele participaram, como debatedores, os jornalistas José Casado, Caio Túlio Costa, Bob Fernandes, Lucas Mendes (de Nova York) e Natália Viana – grandes exceções à minha crítica inicial sobre o desinteresse, ignorância e até um certo desprezo de grande parcela dos jornalistas pelos problemas tecnológicos.

Senso crítico

Não preciso elogiar a condução dos debates por Alberto Dines, sempre preocupado com a diversidade e o espaço para opiniões contraditórias. Vale a pena contar com depoimentos e opiniões de jornalistas competentes como esses convidados do Observatório da Imprensa no mencionado programa de 16/7/2013. Gostei imensamente e recomendo a todos que não viram.

Aliás, esse espaço – no rádio, na TV e na internet – tem sido uma espécie de oásis para o debate dos problemas da própria imprensa, como, para minha surpresa, de questões ligadas diretamente à internet e à espionagem eletrônica.

Gostaria de esclarecer um ponto essencial aqui: não sou um deslumbrado nem apavorado diante da tecnologia. Por mais fascinante que seja, o progresso tecnológico tem que ser visto com olhos críticos. Para discutir com maior profundidade problemas como a espionagem, a violação da privacidade e de outros direitos políticos do ser humano é altamente desejável que o jornalista não seja nem ignorante, nem apavorado nem deslumbrado com a tecnologia.

A meu ver, esse homem de comunicação precisa conhecer os fundamentos, as tendências do desenvolvimento científico-tecnológico e dos meios capazes de defender a sociedade contra os abusos que ele pode, eventualmente, proporcionar.

Insisto nesse ponto: é essencial que nunca percamos o senso crítico diante da tecnologia, reconhecendo tanto os benefícios que nos proporciona, como os males que nos causa.

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Ethevaldo Siqueira é jornalista especializado em tecnologias digitais, editor do portal www.telequest.com.br e comentarista da Rádio CBN (seção Mundo Digital).