A leitura dos comentários ao meu artigo sobre a Transparência Brasil e Emerson Kapaz foi educativa (ver ‘O que faltou perguntar à Transparência Brasil‘). Valem algumas observações.
1.
Os comentaristas deixaram de fazer o mínimo que se exige, e que era objeto da parte final do meu artiguete: ao menos tentar verificar se o que dizem faz algum sentido à luz do quê, concretamente, a entidade faz e de quais são as suas posições publicamente expressas.Grande parte dos comentários atribui à Transparência Brasil ânimo antipetista e atucanado. Apenas observo que, embora não representados entre os que comentaram minhas maltraçadas na presente ocasião, não faltam também aqueles que consideram que a Transparência Brasil é uma entidade com compromissos lulo-petistas. Refiro o eventual leitor a uma busca na internet.
É verdade que a patrulha simpática ao petismo é muito mais numerosa do que a turma ultradireitista, mas esta última existe, e usa os mesmos pseudo-argumentos da primeira, só que com sinal trocado.
De forma que acho que estamos fazendo a coisa certa.
2.
A respeito de imputações de tucano-alckmismo assacadas contra a Transparência Brasil, sugiro, por exemplo, consultar matérias publicadas na imprensa e as diversas notas inseridas em meu blog sobre a tucanidade (como Eduardo Azeredo, por exemplo) e em particular sobre o candidato Alckmin (já que não posso referir entrevistas a rádios e TVs, que não sei por onde andam). O link para os arquivos do mês de março (por exemplo) é http://crwa.zip.net/arch2006-03-01_2006-03-31.html. Naquele mesmo mês, publiquei artigo no Diário do Comércio de São Paulo (reproduzido no blog) em que se lê:‘O sr. Alckmin vai ter um trabalho danado para comparar-se a Lula no território do combate à corrupção. […] diferentemente do que parece imaginar a maioria, um diagnóstico do desempenho do governo Lula no combate à corrupção não resultará na nota vermelhíssima do mensalão. Há também o que incluir na coluna dos ganhos. O sr. Alckmin chega à disputa sem muitas notas negativas. Não vieram a público, durante seu governo, escândalos com o grau de cabeludice do mensalão. Contudo, faltam-lhe também notas positivas, dado que se desconhecem iniciativas de seu governo no sentido de se realizar um combate estratégico à corrupção.’
3.
Sobre o fato de a entidade ter mantido ‘polpudo’ convênio com a prefeitura de São Paulo, para desenvolver um programa de combate à corrupção nas subprefeituras, levantado por um dos comentaristas, esclareço que se tratou de convênio para o desenvolvimento de um programa de anticorrupção nas subprefeituras da capital paulista, no montante de 120 mil reais. Quando da sucessão no município, no começo do ano, o trabalho foi engavetado. Observo que o dinheiro do convênio não foi integralmente gasto. Devolvemos pouco mais de 30 mil reais à Prefeitura. Deve ter sido a primeira vez na história do Brasil que uma entidade devolve dinheiro de convênio ao poder público.Esse assunto fornece o seguinte gancho: como outros, o leitor em questão imagina que, porque a Transparência Brasil trabalha com uma determinada administração, seguir-se-ia que haveria comprometimento político com o partido responsável por essa administração. Pois então saibam que a Transparência Brasil mantém uma parceria com a Controladoria-Geral da União para desenvolvimento de mapas de riscos de corrupção em órgãos públicos (montante: aproximadamente 190 mil reais – aliás, tudo isso é explicitado em nosso sítio da internet). O fato de existir essa parceria (houve outro convênio com a CGU, no ano passado, para organizar o IV Fórum Global de Combate à Corrupção) estimula a patrulha da direita histérica a nos acusar de lulo-petismo.
Talvez se conclua disso que seríamos exploradores alckmistas-udenistas nos dias pares e mensalo-petistas nos ímpares.
Uma falha
4.
Quanto às menções à campanha ‘Não vote em mensaleiro’ (e curupiras etc. etc.), fica claro que para esse pessoal o bacana mesmo é reconduzir mensaleiros ao Congresso. Muito bem, parabéns.De toda forma, para quem acredita que se trata de campanha antipetista, gostaria de sugerir visita ao projeto Excelências, que acabamos de lançar. Trata-se de um cadastro de todos os candidatos à reeleição à Câmara dos Deputados, além de ex-prefeitos de capitais, ex-ministros etc., com seus históricos. Há uma porção de informações sobre cada candidato, entre elas os processos a que respondem. É claro que mensaleiros, sanguessugas, gafanhotos e outros bichos estão lá, uma vez que foram indiciados criminalmente pelo Ministério Público. Mas não faltam tucanos e pefelistas carregando processos nas costas. Quem quiser votar neles que se arrisque.
5.
Chego, por fim, ao único dos temas abordados pelos comentaristas que me fez pensar. Trata-se de como agir quando um integrante de seu Conselho passa a trabalhar como arrecadador de campanha eleitoral. Embora seja vedada a participação de políticos ativos (deputados, senadores, membros do Executivo) em seu Conselho, não há proibição quanto à permanência de pessoas envolvidas executivamente em campanhas eleitorais.Pessoalmente, acredito que isso seja uma falha. Ignorava que Emerson Kapaz era arrecadador de recursos para o candidato tucano. Talvez integrantes do Conselho soubessem disso, talvez não. De toda forma, é evidente que o fato de não haver vedação não estimulou quem soubesse (a começar do próprio Kapaz) a levantar o assunto.
Como não havia regra, não aconteceu. Deveria ter acontecido, e a regra deveria existir.
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Diretor executivo da Transparência Brasil