Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Na festa das celebridades, só zé mané fez bonito

‘Celebridades.’ Não foi assim que o deslumbrado Carlos Alberto Parreira tratou a seleção brasileira? Ou melhor, não tratou? Seu time de ‘celebridades’ nem para as câmeras jogou. E não era só o Brasil, não. Shevchenko na Ucrânia, Nedved na República Checa, Rooney e Lampard na Inglaterra, Zlatan Ibrahimovic e Larsson na Suécia, Smolarek na Polônia, Totti na Itália, Messi, Tevez e Riquelme na Argentina, Drogba na Costa do Marfim, Van Nistelrooij e Robben na Holanda, Pauleta, Deco e Cristiano Ronaldo em Portugal, Fabregas, Fernando Torres e Xavi na Espanha – nossa, essa era a copa das estrelas globalizadas, que emitiram nada além de brilharecos fugazes.


E nem se fale de Zidane, que por conta de uns chapéus e umas pedaladas recobrou na mídia o status de gênio. Até Thierry Henry, a última esperança da Nike – todos os craques da campanha ‘Joga bonito’ entraram cedo pelo cano –, vinha jogando bolinha de gude, chegou à final e perdeu. Tremendo pé-frio, essa Nike…


Assim, ficou-se grudado à TV para ver o show das celebridades. E o que se viu? Times inteiros correndo para trás, apostando quem recuava mais, quem formava a linha de impedimento mais reta, quem jogava menos para a frente. Os craques-celebridade desapareciam embaixo de pilhas de pernas-de-pau.


Como a saúva


Atrás das câmeras, a mesma coisa. No sistema Globo/Sportv, com seu exército de profissionais, a apresentadora-celebridade competia com o apresentador-celebridade para ver quem era mais meloso, mais grudento, quem fazia as perguntas mais idiotas ou puxava mais o saco dos entrevistados-celebridade. Constrangedor. Repórteres-celebridade se entrevistavam uns aos outros nos intervalos de materinhas melosas e grudentas, entremeadas de perguntas as mais idiotas. Ridííííííículo, gritaria Edu Elias de seu divertido Dia de craque. Nas mesas-redondas, comentaristas-celebridade passaram a copa sentados, repetindo obviedades sobre jogos a seus olhos ‘fantásticos’, ‘maravilhosos’, ‘históricos’. Patético. OK, exceção para Armando Nogueira, Roberto Assaf, Milly Lacombe (quase desconhecida, ela própria virou celebridade ao ser chamada para dar entrevista a Jô Soares!).


Não foi possível ver a Band Sports, mas o Apito Final que a Bandeirantes exibia tarde da noite era desorganizado, quando não deprimente – até um respeitado correspondente internacional foi envolvido em propaganda testemunhal, prática insuportável que torna impossível assistir a mesas-redondas na TV aberta.


Salvaram-se os ‘lamurientos’ da ESPN Brasil – que bateu recordes de audiência. Não somente as lamúrias resultaram mais do que acertadas ao clamarem pelo prometido e jamais visto ‘jogo bonito’, mas foi a emissora que deu vida à cobertura com matérias originais (o pauteiro, soube-se na noite de domingo, é Roberto Salim, um profissional que deveria dar aulas de criatividade à mídia esportiva), apesar do tamanho pequeno da equipe. Nessas matérias viu-se a Alemanha tirar a alma do baú e celebrar sua seleção, os turistas, o verão. O zé mané alemão foi o grande craque da copa.


Quanto aos ricos & famosos, deu pra ti. Ou o futebol acaba com as celebridades ou as celebridades acabam com o futebol.