Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

Renascimento do vinil pode ser boa notícia para o jornal

A British Phonographic Industry (BPI), órgão que representa a indústria fonográfica no Reino Unido, prevê que 700 mil discos de vinil sejam vendidos no país até o fim do ano, o maior número desde 2001 e o dobro do ano passado. O aumento das vendas do vinil também é tendência em outros países. Mais discos foram vendidos em 2012 do que em qualquer ano desde 1997.

Uma pesquisa da BPI, curiosamente, indica que mais de um terço dos entusiastas de discos de vinil no Reino Unido têm menos de 35 anos. “Como eles sabem o que é o vinil? Certamente seus pais haviam se convertido para as fitas cassete, ou para os CDs, quando eles chegaram”, questiona o jornalista e colunista Michael Skapinker em artigo no Financial Times. “E ainda assim lá estão eles, entusiasmados com a riqueza do som de um disco, o prazer de ouvir a agulha tocar o LP e a beleza da arte da capa”. A lição, diz ele, “é que nós nunca deveríamos descartar qualquer tecnologia, mesmo quando ela parece ter sido enterrada pelo que veio em seguida”. Ele continua: “O cinema deveria ter matado o teatro, o vídeo e o DVD deveriam ter destruído o cinema, e o download e o streaming deveriam tê-los tirado de cena”. Ainda assim, quase 14 milhões de pessoas foram ao teatro em Londres em 2012 – em comparação, este número estava pouco abaixo de 10 milhões em 1986. Mais de dois terços dos americanos foram ao cinema no ano passado; as pessoas que mais vão ao cinema nos EUA têm entre 25 e 39 anos, seguidas pela faixa dos 18 a 24 anos.

Skapinker acredita que o que faz uma tecnologia antiga sobreviver – ou renascer – é um “senso de oportunidade”. Assim como os amantes do vinil têm prazer em tirar o disco do plástico e posicioná-lo na vitrola, os fãs do teatro se excitam com a expectativa que antecede a abertura das cortinas do palco. No cinema, há o ritual dos trailers e a magia da tela enorme.

Ele acredita, no entanto, que há tecnologias que nunca voltarão, como as fitas cassete e as fitas VHS. “É difícil de imaginar, mas quem sabe? Se o vinil voltou, talvez as pessoas poderão reavivar o amor que tinham por fitas que levam séculos para rebobinar.”

“Amantes do vinil”

Nesta brincadeira de prever que outros meios podem voltar a fazer sucesso quando as gerações mais novas descobrirem seu valor, o jornalista cita os jornais. Ele concorda ser esperado que ele, que escreve para um jornal, faça esta aposta. “Enquanto o Financial Times continua com seu compromisso com o impresso, seu futuro declarado é ‘digital em primeiro lugar’ e parece que estamos seguindo este caminho. Meu futuro não depende da sobrevivência dos jornais impressos”, argumenta, para continuar seu ponto de vista: os impressos, para Skapinker, têm vantagens claras: são leves, descartáveis e resistentes aos imprevistos que atemorizam os aparelhos eletrônicos – como uma xícara de café derramada, por exemplo. Além disso, o papel não precisa de bateria e recarga, está sempre “ligado”, não pode ser hackeado.

“Há algo de delicioso em espalhar o jornal sobre uma mesa de café da manhã e descobrir ao acaso artigos com que você não esbarraria online”, diz ele, fazendo um apelo para que os “jovens amantes do vinil” deem uma chance ao impresso.