Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Murdoch de olho no Los Angeles Times

 

Com a possível saída do Tribune Co. da situação de falência, o presidente e diretor-executivo da News Corp., Rupert Murdoch, está de olho em dois dos principais jornais do grupo – o Los Angeles Times e o Chicago Tribune. Os credores do Tribune Co. – duas empresas de investimentos e um banco – passarão a ser donos majoritários da empresa após sua saída do processo de falência, o que pode acontecer até o final do ano. Segundo executivos da News Corp. e pessoas a par da situação, diretores da empresa já estabeleceram conversas preliminares com esses credores no sentido de comprar o Los Angeles Times e o Chicago Tribune. As negociações ainda estão num estágio inicial e nenhum acordo é certo. Existem ainda outros potenciais compradores interessados.

Murdoch é dono da maior empresa de mídia do mundo, que inclui jornais como o Wall Street Journal e o Times, de Londres. A aquisição do Los Angeles Times e do Chicago Tribune proporcionaria a Murdoch uma base forte nos três principais mercados de mídia dos EUA: Nova York, Los Angeles e Chicago. Assessores de Murdoch dizem que há muito tempo ele quer comprar o Los Angeles Times. Em suas viagens a Los Angeles, dizem que ele demarca o jornal com uma caneta colorida para mostrar como faria o layout das páginas.

A News Corp. e o grupo Tribune Co. têm vínculos administrativos em comum. O Tribune tem 23 emissoras de televisão, nove delas apresentando a programação das duas redes da News Corp. As emissoras que o Tribune tem em San Diego, Sacramento e cinco outros mercados são afiliadas da rede Fox. O Los Angeles Times também imprime mais de 100 mil exemplares do Wall Street Journal que são distribuídos no sul da Califórnia e o Tribune imprime o WSJ em Chicago. Mesmo assim, preocupações com o órgão regulador de comunicações e possíveis propostas de concorrentes ainda são um obstáculo à empresa controlada por Murdoch.

As regras da Comissão Federal de Comunicações (FCC) impedem proprietários de possuir um jornal e emissoras de TV num mesmo mercado. A News Corp. é dona de duas emissoras da Fox em Los Angeles e duas em Chicago. A FCC tem pensado em eliminar a regra e já concedeu exceções no passado, inclusive uma renúncia que permite ao Tribune operar o canal 5 de TV KTLA e o Los Angeles Times.

Murdoch não é o único de olho no Los Angeles Times, cujo preço poderia alcançar US$ 400 milhões (cerca de R$ 800 milhões), segundo analistas da indústria. Austin Beutner, um ex-especulador capitalista e ex-vice-prefeito de Los Angeles, disse que vem procurando investidores com espírito cívico que estejam dispostos a por dinheiro na compra da organização de mídia. “Eu adoraria ver o Los Angeles Times voltar a ser uma propriedade local… e oferecer um compromisso renovado com o jornalismo sério em questões que são importantes para Los Angeles e para a Califórnia”, disse.

Aaron Kushner, que este ano comprou o Orange County Register e seis pequenos jornais por US$ 400 milhões (cerca de R$ 800 milhões), disse na sexta-feira (19/10) que ele e investidores também estão interessados. “Temos um enorme respeito pelo Los Angeles Times. É uma das poucas instituições no país que tem uma fantástica história e patrimônio e é um mercado importante”, disse Kushner. “Significaria grandes desafios, considerando o que o Los Angeles Times vem atravessando… mas achamos que há sinergias suficientes, tanto do lado publicitário quanto de conteúdo, para uma ação estratégica.”

O jornal impresso continuará por muitos anos”

Doug Manchester, empreendedor imobiliário de San Diego que no ano passado comprou o jornal local Union Tribune por cerca de US$ 110 milhões (cerca de R$ 220 milhões) também pode ser um comprador em potencial. “Com certeza, vamos olhar o assunto”, disse Manchester à emissora local de rádio KPBS.

O grupo Tribune Co., a News Corp. e a Oaktree Capital Management, principal credora, não quiseram fazer comentários. Os jornais vêm lutando contra a mudança de hábitos dos leitores, a migração para a internet e a queda da publicidade. No ano passado, os jornais faturaram US$ 21 bilhões (cerca de R$ 42 bilhões) em publicidade, uma queda de 56% em relação a 2006. As revistas também vêm sofrendo e a Newsweek anunciou recentemente que iria por fim à edição impressa após quase 80 anos.

Mas Murdoch, de 81 anos, pretende continuar nos negócios que são a pedra de toque de seu império, que começou em 1952, na Austrália, quando herdou um jornal, e hoje é um conglomerado global com um faturamento anual de SU$ 33 bilhões (cerca de R$ 66 bilhões). “Façamos o que fizermos, jamais deveremos desacelerar quando se trata de nossos jornais”, disse Murdoch no mês passado durante um encontro com jornalistas na Austrália. “O jornal impresso continuará conosco por muitos, muitos anos.”

Com dinheiro para aquisições e sem débito

Em meados deste ano, Murdoch anunciou a separação da News Corp. em duas empresas. A proposta, que deverá ser aprovada pelos acionistas da News Corp., foi planejada para apaziguar os investidores, que há muito tempo manifestam sua desilusão com as empresas de mídia de Murdoch. As ações da News Corp. recuperaram-se recentemente de uma queda que começou há cinco anos, quando Murdoch pagou US$ 5 bilhões (cerca de R$ 10 bilhões) para comprar o Wall Street Journal, valor que a empresa posteriormente reconheceu que seria mais do dobro do preço real de compra. As ações da News Corp. subiram 24% desde que foi anunciado, em junho, o plano de separação.

Murdoch disse que a nova empresa, que possivelmente será formada no ano que vem, começará com dinheiro disponível para aquisições e sem débito, para torná-la atraente para os investidores. A News Corp. terminou o último ano fiscal com mais de US$ 9 bilhões (cerca de R$ 18 bilhões) de superávit e parte disso seria transferido para a nova empresa de publicações. Esta empresa incluiria o New York Post, a editora Harper Collins, jornais britânicos, dúzias de jornais australianos, uma empresa de boletos, uma empresa de material educacional e as operações de TV da News Corp. na Austrália e na Nova Zelândia. Informações de Meg James [Los Angeles Times, 19/10/12].