Wednesday, 09 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1308

A indesejada visão da guerra

DOCUMENTÁRIO

O americano James Nachtwey ficou famoso por fotografar horrores da guerra, como ruandeses cheios de cicatrizes de facão e órfãos chechenos fugindo de balas e gás lacrimogêneo. Para mostrar o que motiva este trabalho, o diretor suíço Christian Frei acompanhou o fotógrafo por dois anos. "Para mim, a força da fotografia está em sua capacidade de evocar humanidade. Ela pode ser um poderoso ingrediente no antídoto da guerra. Canalizo minha raiva para o trabalho", diz Nachtwey.

Em 96 minutos, War photographer mostra valas comuns em Kosovo, tumultos na Indonésia, batalhas entre israelenses e palestinos. "Demorou vários anos para convencê-lo de me deixar fazer o filme. Ele disse que era perigoso demais, que interferiria em seu trabalho", conta Frei, que, para evitar atrapalhar a ação de Nachtwey, desenvolveu microcâmeras que ficavam presas à sua máquina fotográfica. Assim, além de permitir liberdade de movimentos para o fotógrafo, criou-se para o espectador a sensação de estar por detrás das lentes.

O documentário foi indicado para o Oscar, mas perdeu para Murder on a Sunday morning. Porém, como conta Stephanie Nebehay [Reuters, 5/5/02], ganhou prêmios na Bélgica e em Israel. Na parte alemã da Suíça, 10 mil pessoas foram ao cinema assisti-lo. "É um milagre que as pessoas estejam pagando para ver um documentário sobre guerra", alegra-se Frei.

Nachtwey reforça o problema que encontra em fazer as pessoas se interessarem por seu objeto de trabalho. Nos últimos anos, tem sido difícil convencer os editores a publicar fotos do sofrimento no Terceiro mundo. "É cada vez mais complicado, pois vivemos numa sociedade obcecada por entretenimento, celebridades e moda." Ele recorda como, nos anos 70, foi profundamente afetado pela famosa foto de Nick Ut, da menina vietnamita fugindo nua de seu vilarejo que sofrera ataque americano de napalm. "Foi uma poderosa denúncia da guerra, da crueldade e da injustiça. Decidi seguir essa tradição."

GLS

MTV e Showtime, emissoras da Viacom, se juntaram para lançar, em data ainda não anunciada, um canal para o público homossexual nos Estados Unidos. Paralelamente, o canal Pridevison, pioneiro do segmento no Canadá, planeja atravessar a fronteira para também desbravar o mercado americano.

"Apesar do progresso que a comunidade gay vem fazendo na mídia em geral, ela ainda não é suficientemente atendida como audiência", reclama Scott Seomin, porta-voz da Aliança de Gays e Lésbicas Contra a Difamação (GLAAD, sigla em inglês). De fato, essa considerável fatia da população parece estar ávida por programação específica. Prova disso é o êxito de programas para homossexuais inseridos em canais genéricos, como Os Assumidos da Showtime, que ajudou a criar clima para o surgimento de canais exclusivos.

Claro que, por parte dos produtores, acima do interesse em atender um público esquecido, está o bom lucro que isso pode render. "Não estaríamos passando por isso se achássemos que o canal, como proposta de consumo, não seria um sucesso", diz Gene Falk, vice-presidente da Showtime. Nenhum dos dois futuros canais tem acordo com emissoras de TV a cabo ou via satélite. Não se sabe, por enquanto, como a programação chegará aos telespectadores.

Contudo, já há oposição a seu lançamento: a Associação da Família Americana tentará impedir a existência de canais gays, mesmo que não exibam conteúdo erótico. "Analisamos Os assumidos e, na nossa opinião, é pornográfico", classifica Ed Vitagliano, porta-voz da instituição conservadora. Ele teme que os canais para homossexuais sejam incluídos em pacotes normais de assinatura, podendo chegar na casa de qualquer pessoa desavisada.

David Bauder, da AP [1/5/02], conta que a disputa entre os dois futuros canais já começou. Como o Pridevision já está estabelecido no Canadá, seu presidente, John Levy, acha que leva vantagem sobre o projeto da Viacom. "Antes de qualquer coisa, nós existimos", ironiza. "Temos o compromisso de fazer esse negócio em período integral. Não estamos testando ou colocando um bloco uma ou duas vezes por semana." Os canadenses criaram diversas atrações inovadoras, como o seriado Locker room (vestiário), comédia de gays esportistas, e Dyke TV, noticiário sobre lésbicas.