OI, SEIS ANOS
Afonso Caramano (*)
É inevitável o constrangimento quando nos esquecemos de uma ocasião especial: passou o aniversário daquele amigo e não nos lembramos de cumprimentá-lo; aniversário de casamento e sequer enviamos flores à esposa ? imperdoável. Qualquer desculpa costuma ser mais desconcertante. Mas como o OI não tem vocação nenhuma para esposa de ninguém, ainda que possa se encaixar na primeira opção, sendo considerado como um bom amigo, para não dizer velho amigo ? só conta seis anos, porém com enorme maturidade ?, o atraso nos cumprimentos torna-se motivo para nova comemoração, relembrando a importância da existência de um órgão tão essencial à reflexão e à crítica sobre a mídia e, conseqüentemente sobre a vida e sociedade brasileira.
E é bom reforçar: não nos enganemos com esse amigo, pois ele não é do tipo que só nos elogia ou nos dá tapinhas nas costas. Contundente, costuma fazer o papel daquele amigo que sabe nos contestar e mostrar outras maneiras de pensar e ver as coisas (você nunca mais vai ler jornal do mesmo jeito).
Graças a Deus e à iniciativa de um "punhado" de gente que ainda acredita e sabe possível refletir os paradigmas de nossa sociedade engendrados no espaço da mídia.
Mais do que isso, esse amigo também conhece a importância de conceder a palavra ao outro. Sabe ouvir as queixas, reclamações e contestações, embora não represente nenhum conselho de imprensa com poder de controle sobre ela. Mas abre-se como espaço privilegiado para o diálogo (democrático), dando voz e respaldo aos muitos observadores que não se conformam a apenas olhar de braços cruzados o que se passa ao redor.
É com grata surpresa que podemos ler na íntegra aquele e-mail que eventualmente enviamos ao <obsimp@ig.com.br>, desabafando sobre algum fato noticiado na imprensa. Mal conseguimos disfarçar um certo arzinho de vaidade ou falsa modéstia quando encontramos aquele artigo que escrevemos no fim de semana e enviamos meio céticos de sua publicação, tão acostumados estamos ao silêncio das instâncias superiores (o que não é o caso do Observatório da Imprensa). Ainda que persista o "silêncio" por parte daqueles que fazem o jornalismo empresarial quanto à atuação incômoda do OI ou quanto a sua existência, muita coisa mudou, e é necessário que se mudem muitas outras, a fim de alcançarmos a maturidade democrática e os preceitos de uma sociedade crítica e responsável no verdadeiro exercício da cidadania.
Não nos iludamos… ainda há muito a fazer.
Sem constrangimentos ? pois o verdadeiro amigo sabe o momento de puxar a orelha do outro ou de estender-lhe a mão ? devemos, como leitor e acima de tudo como cidadão apregoar os méritos do OI e disseminar os germes da crítica e da reflexão contra a mediocridade avassaladora de nossa sociedade.
(*) Funcionário público municipal, Jaú, SP