Sunday, 06 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1308

Esther Hamburger

MARISOL

"?Marisol? peca por falta de frescor", copyright Folha de S. Paulo, 11/04/02

"O SBT estreou anteontem sua primeira novela alavancada por ?Casa dos Artistas?. Estrelada por Bárbara Paz e com Alexandre Frota no papel de vilão, ?Marisol? é mais um folhetim do pacote adquirido da mexicana Televisa.

A trama do ?reality show? se parece com a da novela. Afinal ambas compartilham um ar de Cinderela. Mas o conteúdo engana. A primeira edição de ?Casa? causou impacto porque transmitia um frescor de espontaneidade. A maquiagem pesada de Bárbara sugere que a novela se alimenta do inverso.

O primeiro capítulo expôs toda a trama e revelou os segredos que devem alimentar o enredo, deixando claro que não há lugar para imprevistos.

A cicatriz de Bárbara simboliza o engano. Em ?Casa? a marca na face ajudou a compor sua personagem. Órfã, batalhadora e sincera, conquistou a atenção de um príncipe encantado e do público, que a sagrou vencedora. Marisol toma a marca como símbolo de limitação. Mesmo estando na mesma região que a da atriz, é falsa. É curiosa a opção pela caricatura de algo que todos sabem estar ali. Deve visar a facilitar a caracterização, já que, mais à frente, uma operação vai libertá-la da cicatriz.

Traindo o espírito de ?Casa 1?, a segunda versão explicitou a manipulação e a fragilidade das participações. Na mesma linha, ?Marisol? desperdiça a chance de mostrar que o SBT está disposto à ousadia necessária a romper padrões."

 

"?Marisol? tem Alexandre Frota, Bárbara Paz e outros clichês", copyright Jornal do Brasil, 11/04/02

"A novela Marisol, que estreou terça-feira, às 20h35, no SBT, é mais mexicana do que a mais legítima das mexicanas. Exceto pelo elenco e locações, pouco que se fez na emissora de Silvio Santos para abrasileirar elementos do dramalhão da rede mexicana Televisa. O resultado é estranho. Aliás, muito estranho. A produção é desbotada, a direção de Henrique Martins é inexpressiva, o cenário é pobre e, a todo instante, a impressão que se tem é que Bárbara Paz (Marisol), Alexandre Frota (Mário Soares) e Carlos Casagrande (Rodrigo) vão arriscar um ??Yo soy brasileño?? na cena seguinte.

A história de Marisol explica muito deste estranhamento. No primeiro capítulo, o telespectador soube, por exemplo, que Marisol sofre com uma cicatriz no rosto – diferente da que a atriz já tem e muito mal feita, aliás -; é neta de um milionário, mas não acredita nisso e vende flores de papel crepom para sustentar a mãe doente; e, pobre coitada, ainda é apaixonada pelo cafajeste Mário Soares.

Trama – Também ficou claro que o tal Mário Soares namora Marisol, mas tem um caso com a personagem de Gabriela Alves, uma cantora picareta que quer dar o golpe no ingênuo Rodrigo, neto do avô milionário de Marisol – filho do tio da moça -, que cai de amores pela vendedora de flores. Então quer dizer que Rodrigo e Marisol são primos? Não. O primeiro capítulo também explicou que, na verdade, a mãe de Rodrigo teve um caso com o advogado e melhor amigo de seu marido. Ufa!

Marisol tem tudo isso, devidamente recheado com as incomparáveis máximas do dramalhão-clichê. ??Hoje você pode estar chorando, mas amanhã encontrará a verdadeira felicidade??, diz um tocador de realejo para Marisol. É, Marisol tem um tocador de realejo. ??Larguei a faculdade para correr atrás de um sonho??, justifica Rodrigo, que quer ser pintor em vez de tocar a empresa da família. É, Marisol ainda tem dilemas como este.

Com Alexandre Frota, Bárbara Paz e Carlos Casagrande como protagonistas, o elenco da novela, reforçando o clichê, é um capítulo à parte. No papel de vilão, Frota interpreta o personagem Alexandre Frota de Casa dos artistas magistralmente. ??Você é a gatinha mais bonita do pedaço??, diz ele a Marisol. Bárbara Paz é Bárbara Paz na veia: heroína que sofre com a cicatriz, com a mãe doente e com o namorado que não lhe dá muita bola. Carlos Casagrande vive o galã insosso, monossilábico e sem carisma de sempre. Não estava no reality show do SBT, mas deve ter ficado de fora por um triz."

 

"Bárbara Paz e Alexandre Frota se reencontram em novela malcuidada", copyright O Globo, 11/04/02

"Para não dizer que não falei de flores, o primeiro capítulo de ?Marisol?, novela do SBT que estreou anteontem, começou bem. A música ?Saudosa maloca?, de Adoniran Barbosa, marcou os primeiros minutos da trama e foi uma chance de matar as saudades de uma saborosa canção. Além disso, cravou para o público sem precisar usar imagens que tudo acontece em São Paulo, já que não há nada mais paulista do que esta música. E ponto. O resto do capítulo foi só decepção.

Quando a loura Bárbara Paz (Marisol), ganhadora dos R$ 300 mil de ?Casa dos artistas?, entrou na trama, vendendo suas flores numa pracinha da cidade cenográfica, foi de assustar. Bárbara não fala, recita. E a praça é muito falsa. A impressão é de que estamos assistindo a uma peça daqueles teatros infantis sem recursos.

Com mais verba, um resultado melhor

Mas estamos falando de uma novela realizada pela emissora que, muitas vezes, ocupa o segundo lugar em audiência. Com algum investimento a mais, bem poderia oferecer ao público algo melhor do que iluminação carente, diálogos pobres e cenários estreitos e frágeis. Alexandre Frota, péssimo no papel de Mário, por exemplo, tem que tomar cuidado. Se o fortão se exceder em gestos, pode quebrar o cenário.

Adaptar textos de autores latinos, como no caso a cubana Inés Rodena, também é ruim. Tem muita gente que gosta deste tipo de dramalhão escancarado, mas não há como convencer, mesmo aos mais desatentos, de que Marisol seja tão ingênua a ponto de achar que aquele troglodita do Mário está mesmo a fim dela. Vamos combinar: ser chamado de vilão é pouco para um sujeito que pega o dinheiro da namorada pobre dizendo que vai comprar remédio para a moribunda mãe dela e some com a grana.

Mas Marisol acredita, acredita e acredita. Até que surge Rodrigo Lima do Vale (o sobrenome é importante nessas tramas latinas), interpretado por Carlos Casagrande, e vê ali aquela vendedora de flores loura, de cabelos cacheados, olhos claros, bela e meiga. Atração fatal!

O romance começa aí, mas vai ter que enfrentar muita pedra no caminho. Começa por Amparo (Glauce Graieb), a mãe de Rodrigo. Esta, sim, uma vilã clássica. E incansável. Toda vez que aparece em cena, a mulher está reclamando do filho, preocupada com a herança que será deixada pelo velho Augusto Lima do Vale (Serafim Gonzalez), ou subjugando o pamonha Mariano (Carlos Briani), amante dela e verdadeiro pai de Rodrigo. Deu para entender?

No primeiro capítulo, o drama já é exposto

Logo no primeiro capítulo, que parecia interminável (quase uma hora de duração sem intervalos comerciais), o público fica sabendo que Rodrigo é pobre, que Marisol é a verdadeira milionária, que o velho se imola diariamente porque mandou a filha para a rua (Sofia, interpretada por Miriam Lins, a mãe da Marisol) e quer encontrá-la de qualquer jeito. Quando ele pensa nisso, acaricia um anel.

A cena muda e vai para o núcleo pobre, onde Marisol pena com uma doença inexplicável da mãe – só se vê a mulher tossindo feito louca. E a câmera foca Sofia acariciando, adivinhem o quê? O anel que tem o brasão da família, claro.

Sobrou para o mordomo. Basílio (Turíbio Ruiz) é quem recebe do velho a dura tarefa de encontrar Sofia e Marisol. Se não bastasse tanta superficialidade, o gran finale tirou o fôlego. Flagrado em pleno roubo, Mário resolve mostrar ao irmão tudo-de-bom Francisco (Rodrigo Lombardi) quem é a verdadeira Marisol. Afasta os caracóis do rosto dela e, como se fosse revelar a fera da Penha, mostra uma cicatriz que a mocinha ganhou num acidente de infância. Música de suspense e fim do primeiro capítulo, que mesmo alavancado pelos dois astros de destaque de ?Casa dos artistas?, não conseguiu mais do que 16 pontos de média no ibope."