Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Rodoviarismo engarrafado

Em meio ao rodízio de meia-sola e neurótico promovido pela Prefeitura de São Paulo, presa à lógica da política malufiana de infindável desdobramento de obras viárias mesmo que isto leve outros serviços públicos essenciais à breca, algumas linhas para reflexão sobre trânsito e transportes urbanos:

“O crescimento econômico na década de 80 e em anos recentes mostrou que é muito breve o alívio do congestionamento propiciado pela construção de novas vias. O grau de demanda reprimida é de tal ordem que elas atraem ainda mais tráfego. (….) O professor Phil Goodwin, economista especializado em transportes do University College, de Londres, consultor do governo britânico, afirmou recentemente que a falta de espaço (mais do que a poluição do ar, o efeito estufa ou o custo dos acidentes rodoviários) levará a uma limitação do tráfego.

(….) Além da cobrança generalizada de pedágio, outras medidas podem até certo ponto limitar o trânsito. Várias cidades européias expulsaram os carros de suas áreas centrais, tornando-as exclusivas de pedestres. Outras, como Berlim e Bremen, estimulam a formação de associações de carona programada, para que as pessoas usem individualmente seus carros apenas quando indispensável, e fora disso tendam recorrer ao transporte público. Cerca de 200 mil alemães, em mais de 20 cidades, já pertencem a associações desse tipo. A prefeitura de Edimburgo está tentando importar a idéia para a Grã-Bretanha, e também planejando um subúrbio sem carros, para o qual só se possam mudar pessoas que concordem em não ter carro próprio”.

“Convencer motoristas de que vale a pena generalizar a cobrança de pedágio é uma tarefa que políticos no mundo todo estão apenas começando a aceitar. O uso que será feito da receita é crucial para convencer eleitores de que cobrar pedágio faz sentido. (….) Daqui a 20 anos, pagar para usar espaço rodoviário será a norma. Então, as pessoas olharão para trás e ficarão imaginando por que aceitaram algum dia a poluição, o ruído e a paralisia das cidades de hoje”.

Fonte: The Economist, 6/12/97, reportagem de capa.

Na grande imprensa paulista, o mesmo conteúdo correria o risco de ganhar um título “cívico”, tipo “Europeus cobram pelo direito e ir e vir”.