Thursday, 10 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1308

Televisão, entretenimento e informação

FÓRMULA 1

Márcio Fernandes (*)

Um dos males do estudante de jornalismo é não discernir o que é propriamente jornalismo e o que é entretenimento. Na maioria dos casos, nem mesmo os profissionais da área sabem (ou não querem) fazer esta distinção. Na cobertura que a Rede Globo faz do circo da Fórmula 1 acontece sempre essa confusão. A emissora prega que pratica jornalismo clássico, quando o que se vê é uma profusão de entretenimento mal produzido. Há anos que é assim, mas o episódio do domingo (12/5), quando Rubens Barichello deixou seu companheiro de equipe (Michael Schumacher) vencer o Grande Prêmio da Áustria, foi sintomático do que ainda está por vir ? era a do opinionismo ou, o que é pior, a falta de opinião, abrindo espaço para os "achismos".

Patética é a melhor definição encontrada para descrever a atuação do narrador Cléber Machado e do comentarista Reginaldo Leme nos instantes finais da corrida. Quando deveria estar informando qual a distância, a cada momento, entre os carros de Barichello e Schumacher, Cléber optou por mandar uma mensagem à dona Adeli, mãe do piloto brasileiro, dizendo que estava prestes a ganhar um presente de Dia das Mães ? a vitória do filho. Nos metros finais, enquanto Schumacher claramente se aproximava, Cléber tinha visão apenas para dizer "hoje sim, hoje sim [ Barichello vai ganhar]…", tendo que finalizar com um patético "hoje nãoooooooo…" quando o alemão cruzou em primeiro.

Faltou competência informar aos telespectadores, faltou informação ? a mesma informação que Reginaldo Leme deixou de trazer à tona quando se absteve de votar na vitória do brasileiro ou de apostar numa reviravolta da prova, o que acabou acontecendo nos instantes finais enquanto os dois apenas torciam pela conquista verde-amarela.

Naquele domingo faltou informação, faltou espaço para o jornalista mais uma vez. Sobrou torcida, no melhor estilo Galvão Bueno. Claro que é um direito da emissora adotar a linha do entretenimento que bem entender. Felizmente vive-se um momento democrático no país há quase duas décadas. Ao mesmo tempo, falta respeito para com o telespectador, ao colocar no ar profissionais que já estão superados. E quando se debate um tema como esse nos cursos de jornalismo, vê-se um quadro negativo: os estudantes avaliam que a situaç&aatilde;o não é tão negativa assim, mas que Cléber Machado e Reginaldo Leme são, sim, jornalistas-modelo, mesmo que à custa de contribuir para a desinformação do público.

Como gostava de dizer Paulo Francis, o capim é mesmo nosso.

(*) Jornalista e professor universitário