Sunday, 08 de September de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1304

>>Mobilidade urbana
>>Banco Central, polícia e PCC

[Programa conduzido por Mauro Malin]

 

Mobilidade urbana

A Folha de S. Paulo deu manchete de capa, o Estado dedicou uma página inteira aos dados de uma pesquisa do Metrô sobre mobilidade na Região Metropolitana de São Paulo. O material é muito interessante e não pode ser resumido em um minuto, tempo que permite, entretanto, apontar falhas graves nas duas reportagens.

Ambas passam ao largo da questão socioeconômica de fundo, que é a da diferença entre aumento do número de viagens e crescimento populacional. Todas as modalidades de deslocamento aumentaram muito mais do que a população, o que significa que houve melhoria econômica no período, ou seja, de 2007 a 2012.

Ambas, igualmente, omitem a coloração política dos governos estadual e municipal no período. A saber, PSDB e aliados. Isso faz diferença, porque o atual prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, do PT, se definiu por uma política que procura reforçar o transporte por ônibus, o que foi inicialmente recebido como estorvo para os carros.

A reportagem da Folha, que ganhou mais destaque, já que é a manchete do jornal, nem menciona os protestos de junho de 2013, cuja motivação inicial foi um aumento de tarifa de ônibus que acabou revogado. A pesquisa foi concluída em maio de 2013, portanto antes da rebelião das ruas. O Estado menciona, de passagem, a rebeldia de junho, assim como não omite a política do atual prefeito.

Trata-se de uma amostragem com oito mil entrevistas domiciliares. Das respostas são extrapolados números para todo o universo. A partir daí se afirma que as viagens de modo individual – carro próprio, moto, táxi, bicicleta e a pé – passaram de quarenta e quatro vírgula sete por cento (44,7%) para quarenta e cinco vírgula sete por cento (45,7%), e as viagens em modo coletivo – ônibus, trem, metrô, transporte escolar e ônibus fretados – passaram de cinquenta e cinco vírgula três por cento (55,3%) para cinquenta e quatro vírgula três por cento (54,3%).

Em torno da salada numérica os jornais constroem suas interpretações. Alguém que estivesse espiando por cima do ombro dos repórteres e editores que escreveram as matérias poderia apostar que eles se perderiam no labirinto de uma certa ingenuidade estatística. Não deu outra.

Banco Central, polícia e PCC

Mauro – Roger Franchini é escritor e advogado. No livro Toupeira, a história do assalto ao Banco Central, de 2010, ele mostra como a busca frenética da polícia civil de São Paulo pelo dinheiro resultante do assalto – não para restituição aos cofres públicos, mas para os próprios policiais – foi o ingrediente decisivo que precedeu a eclosão do “salve”, da rebelião do PCC em São Paulo em maio de 2006.

Roger – Um dos méritos que livro teve foi ter colocado todos os fatos que estavam jogados na imprensa, que se buscam hoje facilmente pelo Google, numa linha lógica de acontecimentos, e que acaba concluindo nos ataques. E o espanto vem justamente disso, de ser uma coisa tão óbvia, tão evidente, que eu imagino que o leitor, quando se depara com isso, tenha aquela sensação de “Poxa, mas como é que eu não sabia disso?!” Se está tão certo, tão claro. Ofende, às vezes.

Mauro – E ninguém contestou?

Roger – Nunca. Jamais.

Mauro – Qual foi a reação da polícia?

Roger – Por incrível que pareça, eles gostam. É estranho, mas a grande maioria da polícia está insatisfeita com a polícia. Eles não querem essa polícia que existe hoje. Querem uma polícia racional, que pague bem, e infelizmente, por lei, eles são proibidos de se manifestar em público. Quando eles percebem que há alguma obra que denuncia isso, mas não de uma maneira negativa, generalizando, mas mostrando que são circunstâncias administrativas que tornam a polícia essa polícia corrupta, essa polícia imunda que a gente conhece hoje, eles se sentem representados naquilo. Eles não podem falar por que a polícia não funciona. O meu grande público hoje é formado por policiais, ou então ex-policiais. Antes de lançar o livro, eu tinha um certo receio. Achava que eles não iam gostar. Mas não. Foi uma grande surpresa para mim saber que eles têm tanto carinho pelas minhas obras.