Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Comunicação mediada por computador

Os indivíduos não têm possibilidades de acompanhar todos os acontecimentos, que lhes chegam mediados pelos meios de comunicação. A televisão, em especial, substitui a experiência e constitui o simulacro de realidade.

A linguagem televisiva percorre um sentido único, do realizador de imagens para a audiência-alvo. Porém, um novo meio, o computador, introduz uma profunda alteração, obrigando os meios de comunicação social a reorganizarem os usos das redes.

O computador alterou o trabalho nas redações (recolha, tratamento, escrita e armazenamento da informação), assim como se integrou na difusão de informação. Assiste-se ao começo da convergência de meios de comunicação, telecomunicações e entertainment, numa única plataforma de comunicação, a infocomunicação.

Em Portugal, hoje, verifica-se que:

1) a aquisição de equipamentos (telefone, televisor, computador) ainda é baixa;

2) o consumo de jornais e publicações tem vindo a decrescer;

3) em termos de audiências, os jornais apresentam bastante estabilidade;

4) o número de minutos diários dedicados à televisão tem-se mantido;

5) enquanto televisores e telefones atingiram valores maduros no tocante às vendas, os usos de celulares, televisão por cabo e internet estão em expansão.

Há uma particularidade sobre os meios de comunicação de que raramente se fala. É a respeitante ao uso privado ou público desses meios, que vai de um uso inicial coletivo para um posterior usufruto individual, quando os equipamentos começam a ser produzidos em massa.

O primeiro meio de massa nas telecomunicações, o telefone, foi inicialmente usado por empresários e curiosos. O meio contemporâneo mais popular é a televisão. Como anteriormente com o rádio, a televisão estimula a prática coletiva e familiar de audição e visão. E, enquanto o rádio se transforma em meio privado e individualizado, a socialização da família desenrola-se à volta da televisão, aparelho a quem se reserva o lugar central na sala, e para onde convergem todos os olhares. Com a produção em massa e a proliferação de canais, cada família obriga-se a aumentar o número de receptores. A televisão tende, também, para meio individual.

Um último meio aqui descrito é o computador. Ele permite combinar valores próprios com os da televisão, mas permanece um meio de comunicação privado desde o seu começo, com o utilizador a ter uma relação próxima da máquina. E, por outro lado, não é tão “invasor” como outros meios, caso do telefone, pois o equipamento não chama a pessoa, mas sim esta liga o computador.

Todos estes meios de comunicação têm características comuns, tais como:

1) a corrente elétrica no seu funcionamento; e

2) o uso de redes de telecomunicações nas suas conexões (o rádio e a televisão têm mantido redes próprias de ligação, mas articulam-se crescentemente com as telecomunicações, como no caso da transmissão.)

Tal não caracterizou, até há pouco, um dos meios mais antigos e considerados em termos de comunicação social – o jornal. O tema aqui incluído – a dos jornais on-line face ao jornal tipificado desde o século XVIII – vem recentrar a discussão do espaço público tal como foi desenhada desde os anos 60 por Jürgen Habermas. Quanto às telecomunicações, o seu peso tende a subir, quer na ligação mais perceptível com a informática (caso da Internet) quer na articulação com o entertainment (1).

Produzem-se os dois tipos de discurso. De um lado, há o discurso dos tecnólogos, optimista, traçando as facilidades na ligação entre as pessoas e a substituição das tarefas repetitivas pelas máquinas. Do outro lado, os comunicólogos elaboram um discurso disfórico de controle social pelo “big brother“. A discussão destas vantagens e desvantagens atravessa a análise do jornalismo on-line, de uma maior oferta de informação à hipótese de cartelização da comunicação, que põe em perigo a independência dos pontos de vista dos jornalistas e dos meios de comunicação.

Como primeira conclusão, quero salientar a possibilidade de combinar os diferentes meios e suas características (notícia, imagem, movimento e dados), embebendo a notícia com o entertainment, na busca do espetáculo total.

Por outro lado, o jornal on-line alcança apenas os utilizadores da Internet, que ainda não é um meio de massa, o que torna essa comunicação uma forma minoritária. A situação pode mudar, com o fornecimento de serviços, caso de informação disponível para consulta.

Uma terceira conclusão diz respeito à possibilidade de aumentar a informação de um assunto e/ou tema, sem os constrangimentos do tempo e do espaço do jornal ou do telejornal. O utilizador escolhe a dimensão do que pretende ler, ver ou ouvir.

O jornal on-line garante uma informação sempre atualizada, expandindo também o seu conceito de espacialidade, indo de meio regional ou nacional para uma dimensão internacional. Destaca-se ainda a vantagem de circulação direcionada para grupos-alvo determinados e o arquivo, corte e reenvio posterior para outro sítio.

Uma quinta conclusão destaca o uso privado da comunicação mediada por computador. Ao contrário da televisão, que ocupa o centro da sala de estar do lar, o computador está no canto da sala ou no escritório.

Uma conclusão final indica que, pela convergência dos meios de comunicação com a informática e as telecomunicações, há a possibilidade de fusão entre conteúdos e formas. A par disto, saliente-se a junção da capacidade espetacular da televisão com as capacidades interativas do computador, o que permite ao utilizador ser receptor mas também produtor (prosumidor) e cidadão (prosumidor ativo no desenho das políticas do seu país). Porém, há também vozes pessimistas, como fiz eco atrás.

(1) Este tipo de ligação torna-se visível a partir do momento em que a British Telecom, em junho de 1993, estabelece uma aliança com a MCI (Concert), que, por sua vez, detém 13% da News Corporation, empresa de entertainment, avançando mais tarde (novembro de 1996) para a fusão.

Nota: A bibliografia consultada na elaboração do texto original pode ser obtida por correio eletrônico junto a Rogério Santos

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